Faleceu neste sábado (2/4), aos 84 anos, Roberto Botelho Beccardi, engenheiro-chefe do departamento de engenharia experimental da General Motors do Brasil nas décadas de 1960 e 1970. Ele lutava contra um câncer há oito anos.
Estive com o Beccardi — seu “nome de guerra” — pela última vez em julho de 2017 na XV Noite do Opala, no sambódromo paulistano, um dos magníficos eventos do Clube do Opala da São Paulo, que neste evento o homenageou especialmente, e onde foi feita a foto de abertura.
Conheci o Beccardi no final de 1973, depois que procurei, junto com o Jan Balder. a GM para que produzisse um motor 4100 de mais potência, diante da ameaça do Ford Maverick V-8 de 302 pol³ (4.940 cm³). Fomos o Jan e eu até a fábrica e conversamos bastante com ele. Foi quando nos contou reservadamente que estava desenvolvendo um motor com mais potência.
Uns dois meses depois ele me convidou e o meu irmão, que morávamos no Rio de Janeiro, para virmos até a fabrica em São Caetano do Sul para ver o motor no dinamômetro e “ler” o torque e a potência resultante. Foi um momento de grande emoção ver o 6-cilindros de 250 pol³ (4.093 cm³) entregar a potência máxima de 153 cv a 5.300 rpm. ante o motor normal de 118 cv a 4.400 rpm, se a memória não me trai quanto à rotação de potência máxima,
No final de março de 1974 recebi uma carta da GM informando o motor estar disponível para pilotos no Opala cupê standard com câmbio de 4 marchas, bem leve, mal passava de 1.100 kg, O motor foi homologado pelo Conselho Técnico Desportivo Nacional (CTDN) da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) como VO – Variante Opcional. E em 1976 o motor passou a ser de série no Opala 250-S, ligeiramente despotenciado para 148 cv.
Em 1977 Beccardi deixou a GM e fundou a Enpro, firma especializada em aplicar turbocarregadores em Opalas de 4 e 6 cilindros.
Quando entrei para a Volkswagen em março de 1984 para comandar competições nas quais a fábrica se empenhava por concorrer ao título de construtores nos campeonatos brasileiros de Marcas e Pilotos e de Rali de Velocidade, quem eu encontro na engenharia da Volkswagen? Ele mesmo, o Beccardi, e trabalhando em estreita colaboração com meu chefe, Ronaldo Berg, gerente nacional de Assistência Técnica/Produto, à qual competições era afeta.
Depois que saí da VW em dezembro de 1988 perdi contanto com esta pessoa afável, educada e sobretudo competente. Ao saber neste domingo de deu falecimento, veio-me uma tristeza muito grande.
Eu, o AUTOentusiastas e seus amigos com quem conversei, inclusive Jan Balder e José Carlos Ramos, meu amigo no Rio de Janeiro que comprou um desses Opalas com motor 250-S, prestamos condolências ao seu filho Paulo, que herdou todo o DNA de seu grande pai.
Requiascat in pace, amigo e grande engenheiro Beccardi.
BS