Encerrado o primeiro trimestre do ano, período já considerado suficiente para termos uma ideia mais precisa do mercado e de tendências para os próximos nove meses Tínhamos a informação de que a Anfavea havia decidido antecipar uma revisão de projeções e eles preferiram não o fazer.
No último 8 de abril, Luiz Carlos Moraes, presidente da entidade, abriu a reunião virtual com sua apresentação, quando apontou que a falta de semicondutores está fazendo estragos em todos mercados e que as quedas de emplacamentos observadas aqui são mais ou menos parecidas com as dos EUA, Japão, Europa e México.
A Anfavea não fez revisão nas projeções, mas o instituto IHS fez a sua e reduziu em quase três milhões de veículos sobre a previsão 2022 de produção global que tinham feito há 30 dias, de 84 para 81 milhões. Ainda assim apontam para um crescimento de 5,6% sobre o total de 2021. Culpa da guerra na Ucrânia, que deixou alguns fabricantes europeus sem chicotes elétricos, e dos semicondutores, falta de matéria-prima, etc.
Uma mensagem que merece destaque é que, tradicionalmente o Brasil vende mais no segundo semestre do que no primeiro e se contava com maior disponibilidade de chips, porém com 11,75% de taxa de juros Selic, temos uma ameaça no horizonte não prevista. O BC vem aumentando a Selic para conter a inflação, que certamente trará impacto no consumo em geral, como automóveis, imóveis, móveis, tudo aquilo que tem forte dependência de crédito ao consumidor.
Fato é que em três meses o licenciamento de leves está 25% menor do que no ano passado, ou quase 125 mil veículos a menos. E não parecem ser só os chips, o segmento de automóveis pequenos e compactos encolheu 40%, enquanto os suves caiu 3%, as picapes pequenas caíram 38% e as grandes 17%. Os compradores sumiram das lojas, as filas de espera que há para certos modelos é mais desigual ainda e é nas filas de espera que mais se notam restrições de oferta. A preocupação externada por Luiz Carlos Moraes teve endereço certo, se taxas de juros aumentarem ainda mais, o cenário se agrava também e reflexos no emprego seriam inevitáveis. Os comerciais pesados estão num outro mundo, ainda bem, pois esses já sofreram um bocado entre 2014 e 2018.
A tabela na sessão números mostra mais detalhes.
E março encerrou-se assim, um total de 146.819 autoveículos licenciados, sendo 135.401 leves e 11.418 pesados, um aumento de cerca de 10% sobre o total de fevereiro, que, considerando 3 dias úteis a mais, dilui-se no parâmetro de vendas diárias, 6.155 contra 6.490. A média do ano passado esteve em 8 mil, desconsiderando os últimos dois meses. As locadoras também deram um refresco nas vendas diretas, comparando-se março com março, foram -41%, ante 11% a menos no varejo, as vendas PcD caíram pouco menos.
O gráfico acima ilustra melhor. Em março de ‘2021, 41% dos automóveis seguiram por vendas diretas, contra 32% do mês passado.
Alguns leitores pediram para revisarmos a tabela de vendas diretas em substituindo a Ford, que deixou de produzir localmente, pela CAOA-Chery, no mês que vem essa solicitação será atendida.
Tradicionalmente neste país, desde que a reeleição foi instituída, tem-se um pacote de bondades nos anos eleitorais, e então veio o corte de 18,5% nas alíquotas do IPI para veículos (25% geral), que apesar de bem-vindo, fez pouco efeito, como mostram os números.
Vendas no mês e no trimestre
A Fiat (foto de abertura, Complexo Industrial de Betim) segue na liderança distante, com 28.981 unidades comercializadas e a sua queda de vendas neste trimestre está do mesmo tamanho do mercado, mantendo a sua participação. A Chevrolet recuperou um pouco de terreno, mas com quase 11.000 unidades a menos que a marca italiana e novamente os Onix sofrendo na divisão do bolo de semicondutores dentro da corporação, VW despencou e a Toyota assumiu temporariamente o seu posto, com 40.265 veículos emplacados. A marca japonesa foi a única das grandes que cresceu neste ano, +21%, ante queda de 25% do segmento leve. Honda foi outra que enfrenta forte encolhimento nas vendas, fruto de sua escolha em encerrar produção e vendas do Civic, Fit e WR-V, praticamente de uma vez só. Em contrapartida, o City hatch vem tendo boa aceitação, num segmento que encolheu há anos e o novo HR-V vem aí com bom recheio tecnológico. Aquela Honda de 130.000 veículos/ano parece distante de se repetir no curto prazo.
A liderança dos automóveis está com o modelo HB20, no mês e nos três meses do ano, com respectivamente 6.908 e 18.703 unidades. Há cinco suves entre os dez primeiros do ranking.
Nas picapes, a Strada mantém-se na ponta, a despeito daquele vigor de 9-10mil unidades mensais haver se perdido em parte. A compacta da Fiat também segue liderando o ranking geral, com 7.567 veículos emplacados.
Este semestre teremos mais novidades e lançamentos, sempre acompanhados de perto pela equipe do AE.
Até mês que vem!
MAS
(Retificação de informação em 22/4/22 às16h30: a redução das alíquotas do IPI para automóveis foi de 18,5% e em caráter definitivo, e não provisória como outras tantas ao longo dos anos).