Eu queria falar um pouco sobre as muitas festas que a GM promoveu durante a minha estada lá, entre 1983 e 2001, mas não achava o tal do “gancho”. Mas agora achei! Simplesmente lembrei-me do nome que sempre “regeu” todas aquelas festas: André Beer. Então, lá vai:
Um dia qualquer, entre 1948 e 1957, ele, André Beer (1932-2019) voltando de um baile, se não me engano em São Vicente, onde fora tocar acordeom com sua pequena orquestra, a Yankee (que hoje chamariam “banda”) e tomou o trem que o levaria da Baixada até sua casa, em Santo André. Mas havia um detalhe, o trem não parava naquela cidade do ABC, apenas diminuía, bastante, a velocidade.
E lá se foi, o jovem André Beer, um dos mais importantes executivos da história da indústria automobilística brasileira, com a coragem que sempre determinou sua vida, saltar do trem andando, com o seu pesado instrumento, que pesava cerca de 10 kg.
Ele sempre gostou de música e tocava vários instrumentos, por isso quando em 1994, inspirados nas festas que o Sindipeças, então capitaneado por Pedro Eberhardt e assessorado pela jornalista Fátima Turci (que criou as festas), apresentamos a ele a ideia de fazer uma festa de final de ano para a Imprensa, ele topou na hora. Festa era com ele.
E, sempre em tom de brincadeira, nas aberturas das festas ele, dizia que “a GM sim, sabe fazer carros mais ou menos. Mas, em festa nós somos imbatíveis”.
E as festas eram, modéstia à parte, realmente boas A primeira delas foi no Regine’s, da empresária que animou a noite ao redor do mundo, Régine Choukroun. Em grande estilo, trouxemos a Orquestra Tabajara, que André admirava de montão. Mas ele nos pedia coisas diferentes e fazer uma festa por fazer, no Regine’s não era significativo. Então, fomos buscar Miltinho, que fora crooner da orquestra comandada por Severino Araújo. E os saudosistas se deliciaram dançando ao som, que eles só ouviam na “Sonata” dos bailes de garagem das suas turmas. Tentamos a “Divina”, que também fora crooner da Tabajara no início da carreira, mas Elizeth Cardoso não tinha a data livre.
E assim, sempre com o apoio do festeiro André Beer, tivemos festas memoráveis, como aquela onde hoje está a sofisticada Sala São Paulo, na Estação Júlio Prestes (foto de abertura). E, no início da madrugada, convidamos os jornalistas e acompanhantes para fazer um tour de trem, no centro de São Paulo. E, para marcar o evento, servimos champanhe a bordo.
Outra, inesquecível, foi no Moinho São Jorge, então desativado, na Avenida dos Estados, em Santo André, que possui um maravilhoso salão, conhecido como Palácio de Mármore. À entrada, para ninguém se perder, pois ainda não havia Waze, foram pendurados dois modelos do Corsa, na cor prata, iluminados por fortes canhões de luz. Isso sem contar que foi feita uma projeção do logotipo da GM, como se fosse o símbolo do Batman. O carro era entregue para manobristas travestidos de antigos lanterninhas dos cinemas de décadas passadas.
E lá no 12º andar do moinho, a festa correu solta, com o tema “Cem anos de cinema”. Ao chegarem, as pessoas podiam encarnar seu personagem preferido e serem fotografados, com “Polaroid” (lembram?). Ao circularem pelo salão podiam cruzar com a “Marilyn”, também com “James Dean”, “Carlitos”, “Jack Nicholson”, “Michael Jackson” e muitos outros “artistas” convidados para a festa.
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Outra grande festa foi a pré-inauguração do Bourbon Street Musical Club, que aconteceu, antes da oficial, com BB King. Havíamos lançado, em 1996, o Vectra em New Orleans, e queríamos manter o carro na memória da Imprensa. Daí, sabendo (por dica do Renato Luti, que dividia o Departamento de Imprensa) que havia uma casa com as características da Capital do Blues, prestes a abrir em São Paulo, em Moema, decidimos fazer a festa de final de ano lá no Bourbon.
E trouxemos, de New Orleans, a “Rainha do Blues de New Orleans”, Marva Wright (que já nos deixou), que os jornalistas haviam assistido, e adorado, a um show dela no Second Line, uma das melhores casas à beira do Mississipi.
Foi uma festa extraordinária. Quando ela entrou no Bourbon, não pelo palco, mas pela entrada mesmo, teve um jornalista que, emocionado, ajoelhou-se diante da Rainha e beijou-lhes as mãos. (só revelo seu nome, se ele autorizar, com assinatura e firma reconhecida. Combinado, Gaúcho querido?)
E aqui abro parênteses para contar uma curiosidade da festa. Haviam dois jornalistas, que preferiam comer, sempre, o tradicional filé com fritas. Mas a cozinha do Bourbon ainda não estava funcionando e daí não havia como atender ao pedido deles. Não tivemos dúvida, logo ali, na esquina seguinte, havia um bar, de boa aparência. E pedimos ao seu dono que preparasse quatro filés para a noite da festa.
— Mas eu não tenho filé mignon. Aqui a gente serve é bife mesmo.
Combinamos com o açougueiro da outra esquina que forneceu quatro belos “bifes” de file mignon para o bar preparar os “filés com fritas” para a dupla que os saboreou com prazer. Por que quatro e não dois? Vai que alguém vê e resolve querer o filé com fritas também…
Falamos aqui, apenas de algumas festas de final de ano, sem mencionar lançamentos, em que o espírito festeiro do André Beer também sempre prevaleceu, tanto para imprensa, quanto para concessionários.
CL
P.S.: Depois de publicada a coluna, e Informado sobre sua participação “anônima” no evento do Bourbon Street, beijando a mão da Marva Wright, o jornalista gaúcho Celso Ferlauto fez contato comigo e revelou-se autor da façanha, da qual se orgulha até hoje. “Os bons momentos da vida devem ser recordados sempre”, disse.