O setor dos automóveis sempre passa, como todos os outros, por transformações que interferem diretamente no relacionamento e na postura de seus integrantes. Uma completa reviravolta, desde os processos de manufatura até as linhas de montagem que foram automatizadas e fábricas de autopeças que se instalaram sob o mesmo teto ou em suas proximidades.
O relacionamento fábrica-concessionário virou de ponta-cabeça e ninguém imaginava – 30 anos atrás – que um grupo econômico pudesse distribuir diversas marcas de automóveis. Nem que tantas fabricantes que concorriam ferozmente entre si viriam a se tornar mesma família sob uma única holding. E mais: até o conceito de concessionária está sendo questionado, principalmente com o definitivo ingresso da internet que interfere no comércio de novos e usados. E na manutenção dos automóveis. Já se duvida até da real necessidade de uma rede de revendas autorizadas nos moldes atuais.
Durante dezenas de anos as indústrias americana e europeia comandaram o carshow até se curvarem diante do desenvolvimento dos países asiáticos.
Jim Farley, presidente da Ford (foto de abertura), comentou em recente entrevista que o setor não passa apenas por modificações, mas, no momento, por um “terremoto”, tantos os novos conceitos que atingem toda sua infraestrutura.
A eletrificação é o principal destaque no tabuleiro destas movimentações, com foco no desenvolvimento de motores e baterias e na radical transformação das linhas de montagem. Acompanhada da proliferação de startups que vão marcando presença em cada atividade do setor e a introdução da inteligência artificial em decisões estratégicas.
Alguém imaginou, até um passado recente, que o consumidor pudesse colocar na balança a posse ou o uso de um automóvel? Pois muitos fazem as contas e, preto no branco, se decidem pelo carro por assinatura. O pagamento mensal elimina investir no produto e perder em sua desvalorização. E numa fábula de despesas com impostos, taxas, seguros e manutenção. Além de contar com o rendimento mensal do capital poupado. E estar sempre ao volante de um carro zero-quilômetro..
No mercado mundial, assim como japoneses e coreanos conquistaram espaço em algumas dezenas de anos, os chineses repetiram o processo numa velocidade muito maior e vão fincando bandeira em importantes mercados, inclusive no nosso: fábricas chinesas desembarcam por aqui principalmente com veículos eletrificados, onde são pioneiros mundiais. (Elon Musk à parte…).
Mr. Farley previu estar próxima uma guerra de preços entre os veículos elétricos e que sua empresa iria a curto prazo oferecê-los a partir de US$ 25 mil. A resposta veio muito rápida: dias depois, a GM anunciou a venda de um novo Bolt, o mais barato elétrico do mercado, por US$ 26 mil, um desconto de U$ 6 mil em relação ao modelo anterior. Também no Brasil estão surgindo elétricos mais acessíveis: dois já anunciados são o Renault Kwid e Caoa Chery iCar na faixa de R$ 140 mil.
Até a comunicação do setor passa por uma convulsão com a mídia digital e redes sociais alterando rapidamente o processo de informar o mercado. A mídia impressa (jornais e revistas) está em plena decadência e cedeu espaço para a eletrônica. Jornalistas especializados tiveram de aderir ao digital para se manterem na ativa. E ainda disputam espaço hoje com os “influencers”, pessoal sem nenhuma formação técnica ou preocupação com a credibilidade, mas que atingem milhões de seguidores em seus twitters e tik-toks da vida. Responsáveis pelas verbas publicitárias das fábricas acompanham surpresos esta rápida modificação da mídia, mas ainda sem uma definição objetiva de onde nem como aplicá-las.
Mas um terremoto sempre vem acompanhado de outros: dá para imaginar a intensidade do golpe que será provocado com a chegada do carro autônomo? Ele irá muito além de quebrar as autoescolas: os abalos mencionados por Mr. Farley serão rebaixados (na Escala Richter) para leves tremores…
Melhor as empresas do setor revisarem e reforçarem a resistência de seus alicerces para evitar que a casa venha abaixo…
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
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