O título é uma frase-advertência que nunca esqueço, dita à exaustão por um dos meus instrutores de voo no começo dos anos 1960, Abiel Derizans. O motivo, desnecessário dizer, quando a gasolina acaba no automóvel, encosta-se; no avião, tem-se que fazer um pouso forçado, em qualquer lugar, com grande possibilidade de ser malsucedido.
Bom alcance — autonomia refere-se tempo de funcionamento,, de voo no caso de aviões ou de embarcações — é um atributo que eu e muitos apreciam nos automóveis. Saudade dos carros de bom alcance que tive ou dirigi, como os Santanas nos meus anos na Volkswagen e os Omegas quando trabalhei na GM, ambos com tanque de 75 litros. Ou do meu Fiat 147 ’81, comprado zero quando ainda trabalhava na Fiat onde eu tinha um de serviço, mas precisava de outro para minha mulher. O 147 foi lançado em 1976 com tanque de 38 litros, mas depois (1982) passou para 56 litros, que logo tratei de trocar.
No Omega CD 4,1, mesmo fazendo 8 km/l na estrada, o alcance era de 600 quilômetros, 150 km mais do eu precisava para ir de casa, em Moema, ao Posto 5, em Copacabana, no Rio, para visitar minha mãe, o que eu fazia frequentemente com minha mulher e os dois filhos.
Voltando no tempo, o DKW-Vemag tinha tanque de 45 litros, mas a fábrica tinha disponível, para competição, um de 70 litros, que pus no meu DKW sedã. Eu me divertia com o semblante preocupado dos frentistas quando o mostrador da bomba mostrava 42, 43, 44 litros… e nada de encher, continuava — 60, 65 litros… Claro, ele devia achar estranho eu mandar pôr 1 litro e meio de óleo no tanque, mas havia quem colocasse mais do que a indicação, pela fábrica, de 1 litro para 40 litros de gasolina. Mas longe de brincar de reclamar de bomba alterada, eu o tranquilizava contando-lhe o porquê de tanta a gasolina a mais.
Nessas quatro experiências pessoais, um denominador comum: sossego pela comodidade proporcionada. Ansiedade mínima de ficar sem combustível e não encontrar um posto.
Sempre achei notável a solução de reserva nos dois Fuscas que tivemos em casa, um 1953 e um 1955, que ainda não tinham medidor de combustível (só a partir de 1961). Ao perceber a falta de combustível, com o carro ainda rodando na inércia, acionava-se com o pé direito uma torneira de três vias no que seria a parede de fogo num carro de motor dianteiro — Fechado, Aberta, Reserva — e tinha-se combustível para rodar mais 50 quilômetros. Era igual nas motocicletas por décadas.
Só não se podia esquecer de voltar a torneira para Aberto após reabastecer…
Mas o ápice do alcance estendido foi quando o governo, pelo Conselho Nacional do Petróleo, baixou portaria em 1976 determinando fechamento dos postos entre 20h00 e 6h00 e nos fins de semana, na esteira da crise do petróleo de 1973. O objetivo, reduzir o consumo de gasolina, derivado do petróleo que era excedente no país fazia tempo devido ao combustível-mãe ser o diesel em razão do perfil da nossa frota. A portaria proibia, inclusive, aumentar a capacidade dos tanques dos automóveis, mas permitia fazê-lo nos ônibus e caminhões — justamente o derivado que nos faltava devido à brutal elevação dos preços do petróleo. Tudo uma grande trapalhada do governo Ernesto Geisel, que um ano antes (14/11/1975) criou o Programa Nacional do Álcool, o Proálcool, para substituir… a excedente gasolina!
O tanque do Passat era pequeno, 45 litros, e pensei numa solução para aumentar o alcance. Leia o que fiz para dobrá-lo. São Paulo-Goiânia, 900 quilômetros, sem reabastecimento e sobrava gasolina — a decente, ainda com 5% a 8% de álcool., embora de menos octanagem (91 RON) do que a atua de 95 RON.
Outro alcance que dava gosto era o do meu Escort GLX 1,8 Zetec 1998, 1.024 km com o tanque de 64 litros, 16 km/l. Eu trabalhava na Embraer em São José dos Campos e ia voltava todo dia, 228 quilômetros de Moema, na capital paulista, ao estacionamento na fábrica-sede. Um tanque durava quatro dias (912 km) e sobravam sete litros.
Nada como um bom alcance!
BS
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