Ontem resolvi ir à Curva AE, tanto para matar a saudade, quanto para andar com o Honda City que a fabricamte me ofereceu ao notar que eu só havia dirigido o City Hatchback, e por um dia apenas. Aceitei o oferecimento de bom grado por ter curiosidade de saber como seria a andadura do sedã em relação ao hatch, pois sempre há diferença. Peguei o Honda e fui até lá, saí de casa às 15h45, já havia terminado a faina diária no AE.
Lá chegando fiz algumas fotos numa parte larga que muitos leitores conhecem, o entroncamento da Estrada dos Romeiros (na verdade, estrada municipal Ubaldo César Lolli até Pirapora do Bom Jesus) com uma pequena estrada de terra que leva ao Vale do Sinos, uma espécie de condomínio no município de Araçariguama, SP. É nessa parte larga que está, majestosa e abandonada, a Maison Blanche que é fundo de foto desde que começamos a frequentar a Romeiros em 2014.
Para saber quem é a pessoa que deu nome à estrada, Ubaldo César Lolli, que conheci, corria de Simca e depois Alfa Romeo GTA da equipe Jolly-Gancia nos anos 1960. Eu soube recentemente que a família tinha uma grande propriedade em Araçariguama, daí a homenagem. A Estrada dos Romeiros começa em Barueri, às margens da Castello Branco, e vai até Pirapora do Bom Jesus, onde termina a estrada Ubaldo César Lolli, e continua até Itu. Só que desaconselho começar o passeio por Barueri (saída 26-B da Castello Branco), a estrada é o exemplo perfeito do lixo rodoviário que assola o país, é a perfeita lombadalândia combinada com radarlândia-armadilha. Verdadeiro inferno na Terra. É melhor (muito) pegar a Ubaldo Lolli saindo do km 48 da Castello Branco à direita e em 1,5 km chegar à Curva AE/Maison Blanche. Inclusive, a Curva AE está no Waze. Não tem erro.
O local está meio sujo de terra, foi feito recapeamento recente, movimento de máquinas, essas coisas normais em obras. Foi aí que notei o detalhe da foto de abertura. Com o recapeamento “à moda brasileira”, jogar o asfalto novo por cima do velho, o desnível para a margem, que é o escoadouro de águas pluviais, ficou descomunal. Se não tem 20 centímetros, tem quase. Pena eu não estar com a trena.
Irresponsabilidade da construtora e da prefeitura da Araçariguama. Qualquer veículo, de quatro e duas rodas, tração térmica (e agora, elétrica) ou a sangue — essa copiei dos hemanos argentinos, vi num trecho final da estrada Buenos Aires-Córdoba, placas rodoviárias informando “Prohibida tracción a sangre” — que entrar com uma roda num dos incontáveis escoadouros, o risco de perda de controle, inclusive de capotagem ou tombo, é enorme. Serviço porco com distinção.
Essa “técnica” recapear sem remover o asfalto velho só pode mesmo resultar no que a foto mostra, a pista de rolamento ir subindo, subindo… Aqui no bairro onde moro, Moema, há ruas em que se você se abaixar um pouco não vê a calçada outro lado da rua, tal a altura combinada com curvatura excessiva.
Há alguns anos fiz uma foto disso, um total descalabro. Não faz muito tempo fui atravessar a rua (alameda dos Maracatins), pus um pé no escoadouro e o outro não percebeu que havia uma montanha no caminho: tombo, felizmente sem nenhuma consequência. Nem o Ray-Ban saiu do lugar.
Outro descalabro (não gosto de repetir palavras, mas nesse caso não tem jeito) é numa rua com belo (e durável) calçamento de paralelepípedos (que drena água da chuva naturalmente e desestimula o dirigir muito rápido) é jogar asfalto por cima e, dane-se. No caso de haver trilhos de bonde, lá ficam arqueologicamente.
Mas nem tudo está perdido: nossas vias de asfalto irregular e/ou esburacado produziram os melhores engenheiros de calibração de suspensão do planeta. Nossos engenheiros são mesmo uma espécie à parte nisso.
Ah, o sedã é bem melhor. E o tanque tem mais 4,5 litros, 44. Um “tancão’ comparado com o do Hatchback.
BS
(Atualizada em 20/6/22, correção da saída da Castello Branco para a estrada dos Romeiros, Barueri e não Santana do Parnaíba)