A pausa anual do calendário da F-1 ocorre ao final do mês, mas há algum tempo provoca sentimentos de perda em um dos circuitos mais antológicos da história da categoria: Paul Ricard. Inaugurado em 1971 e construído pelo magnata das bebidas que levam seu nome, o autódromo situado na pequena Le Castellet, praticamente no meio do caminho entre Nice e Marselha, impôs conceitos avançados de segurança e operação em uma época que era normal ver mecânicos desmontando automóveis sobre a grama ou mesmo piso de terra batida. O assunto nos bastidores do GP da França (foto de abertura), que será disputado a partir de sexta-feira, certamente será a renovação de contrato com a Liberty Media, acordo que expira este ano.
O piso liso da pista situada no Departamento (correspondente francês ao conceito de Estado no Brasil) do Var é um componente com potencial para provocar surpresas na formação do grid e na corrida. Somando-se a isso o forte calor que marca o atual verão europeu, a degradação dos pneus e o acerto aerodinâmico serão os elementos básicos para o acerto dos carros às 53 voltas pelo traçado de 5.842 metros, um dos mais longos do calendário e onde a volta mais rápida da prova de 2021 foi marcada pelo vencedor Max Verstappen com o tempo de 1’36”404, média de 218,156 km/h.
Modernismo nas pistas
Quando foi inaugurado, em 19 de abril de 1970, o Circuit Paul Ricard rapidamente se transformou no queridinho de equipes, mecânicos e pilotos. Os profissionais que atuam no paddock ficaram maravilhados com os boxes que podiam ser trancados e, com isso, evitavam que a cada final de jornada os carros, equipamentos e ferramentas fossem transferidos para os caminhões de cada time, operação que seria repetida na em ordem inversa na manhã seguinte. Os pilotos se empolgaram com a reta Mistral, um trecho de 1,8 km onde Patrick Tambay esteve próximo de alcançar 400 km/h com um Ferrari. Outro detalhe marcante eram as duas entradas e saídas de box: na altura do centro da faixa dos boxes havia um pequeno viaduto que passava sobre a entrada aos carros que vinham da pista e servia de saída para os carros que retornavam ao circuito. Um paddock de dois andares entende-se por toda a extensão daquela faixa.
Um aeródromo particular, ao lado da pista e uma área destinada a galpões usados por equipes e fábricas de equipamentos voltados para o esporte foram mantidos e funcionam normalmente. Em 1999 Bernie Ecclestone comprou o autódromo após o falecimento de Paul Ricard e uma cláusula do contrato de venda exigiu que o nome da pista não fosse mudado. Há alguns anos o autódromo é explorado por uma empresa que tem sede nas Ilhas Maurício, no Oceano Índico. Sob o comando de Ecclestone a pista foi ampliada com a pavimentação de praticamente toda a área do terreno, o que permitiu a criação de até 167 traçados diferentes, o menor com 826 metros e o maior, com 5.861 metros. Faixas coloridas que contrastam com o asfalto preto determinam o percurso escolhido e as variantes a serem utilizadas. O circuito conta com um equipamento que permite irriga todo o autódromo.
Calor e velocidade
O piso liso, o layout veloz e o forte calor do verão europeu sem dúvida trará dificuldades para o acerto dos carros e gerenciamento do uso dos pneus. O fato de que toda a área da pista é pavimentada ajuda a elevar a temperatura do asfalto e a superfície plana da pista permitirá andar com os carros mais baixos e com menor inclinação de asas. Com menor pressão aerodinâmica e maior velocidade final ficará mais difícil manter o carro dentro dos limites do traçado, infração cada vez mais punida pelos comissários desportivos das provas. A menor inclinação das asas,, ajuste que permite alcançar maior velocidade final, afeta os pneus de duas maneiras antagônicas: menor desgaste, já que esses elementos sofrem menos carga, e maior aquecimento, já que o carro ficará menos estável. Um compromisso entre essas grandezas é a chave para o melhor aproveitamento do conjunto.
Além da disputa cada vez mais intensa entre Red Bull, líder dos campeonatos de Construtores e Pilotos, com Max Verstappen, e Ferrari, vice-líder em ambos com Charles Leclerc, a disputa pelo quarto lugar no campeonato das equipes também fica mais acirrada: o desempenho crescente da Alpine, empatada com a McLaren com 81 pontos, e a Haas, que tem 51, mas que vem de duas provas com dois carros entre os dez primeiros, explicam esse quadro. Correndo em casa, a equipe francesa entregará a Esteban Ocon e Fernando Alonso um novo pacote de melhorias em seus carros, ato que será repetido pela Haas no GP da Hungria, na semana que vem. Na McLaren aumenta a pressão para que a FIA autorize um aumento de gastos no teto de US$ 140 milhões estipulados para esta temporada. Segundo Andrea Seidl, chefe da equipe, “sete das 10 equipes do grid enfrentam problemas com a limitação orçamentária em vigor”.
WG
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