Quando a assessoria de imprensa da Porsche do Brasil, através do amigo Edu Pincigher ofereceu o Porsche Macan GTS para avaliação do AE, comecei a pensar em como compor uma matéria que mostrasse as virtudes do uso familiar deste suve esportivo. Neste ano já experimentei o 911 Turbo S na pista do MotorPark Haras Tuiuti, usei o Cayman Turbo S e 718 Cayman GT4 em modo comportado do dia a dia, portanto para este Macan queria fazer algo diferente, mas sem radicalizar em um autódromo.
A decisão foi uma viagem a Joinville, SC, e para conter o ímpeto do pé direito no acelerador convidei minha mãe com 84 anos e minha tia-madrinha de 83 para irem comigo. O objetivo era visitar meus tios (seus irmãos) e primos que residem naquela que é a maior cidade de Santa Catarina. O carro foi retirado na sede da Porsche nas imediações do Shopping Morumbi em São Paulo, e de lá já saímos pela marginal do Rio Pinheiros e Rodovia Regis Bitencourt, a BR 116, em direção ao sul do país.
Malas acomodadas no bom porta-malas de 488 litros, lanches para viagem preparados na véspera pelas duas mães. Tudo e todos acomodados na espaçosa cabine, bancos dianteiros com 18 possibilidades de ajustes foram sendo acertados nos primeiros quilômetros, e salvo em uma das três memórias. Celular pareado através de cabo com a central multimídia de 10,9 pol., e no sistema de navegação residente foi introduzido o endereço de destino.
Apresentação do carro
O Macan foi lançado em 2014 e utiliza a plataforma MLB do grupo Volkswagen. Em 2018 recebeu um facelift, e para 2022 incorpora novas modificações. Na dianteira o para-choque foi redesenhado e apresenta uma miniasa, nas laterais aparecem molduras na parte inferior das portas com grafismo GTS, e na traseira a parte inferior do para-choque agora é preto. No interior o principal item modificado é o volante de nova geração da linha Porsche.
As principais dimensões externas seguem inalteradas com 4.726 mm de comprimento e 2.807 mm de entre-eixos classificando o carro como um suve médio para nosso mercado, apesar de na Europa e EUA ser considerado compacto.
São quatro versões disponíveis nas concessionárias da marca que recebem as seguintes nomenclaturas: Macan, Macan T, Macan S, e Macan GTS (versão testada). As duas primeiras versões utilizam motor de quatro cilindros 2,0 turbocarregado, enquanto as outras duas o V-6 2,9-l biturbo.
Pelo site da marca é possível configurar a versão desejada, recebendo sugestões de pacotes de opcionais, escolha de cores e demais itens adicionais. O preço do Macan básico parte de R$ 439 mil, enquanto a versão GTS está por R$ 669 mil, alcançando R$ 770 mil pelo acréscimo de opcionais existentes no veículo desta avaliação. O valor pode subir ainda mais se utilizar outros pacotes de opcionais.
Se preferir assista primeiramente ao vídeo de apresentação do veículo gravado na Estrada dos Romeiros em Araçariguama, SP:
Motor e câmbio
O motor VW EA839 V-6 a 90 graus está montado no sentido longitudinal e tem diâmetro dos cilindros de 84,5 mm e curso de 86 mm, configurando um motor quadrado, onde diâmetro e curso têm praticamente a mesma dimensão. São quatro válvulas por cilindro acionadas por duplo comando por corrente com variação de fase na admissão e escapamento. A taxa de compressão é de 10,5:1 e recebe carregamento de dois turbos, um para cada bancada de cilindros. A potência máxima de 440 cv é alcançada a 6.800 rpm e o torque máximo de 56,1 m·kgf aparece entre 1.900 e 5.600 rpm, o que deixa o carro extremamente confortável de dirigir em baixas rotações e traz força em toda faixa de rotações de uso.
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O câmbio adotado é o PDK (iniciais, em alemão, de Porsche Doppellkupplung, dupla embreagem Porsche) robotizado de sete marchas que permite trocas manuais sequenciais apenas pelas borboletas atrás do volante. Os modos de condução Normal, Sport e Sport Plus, selecionáveis através de botão giratório no volante, alteram a curva de resposta do pedal do acelerador e pontos de troca de marcha. Para facilitar a vida do motorista em ultrapassagens basta pressionar o centro do botão e o modo Sport Plus é automaticamente ativado por 20 segundos, podendo ser desativado com um segundo toque no botão.
A viagem de São Paulo a Joinville seguiu sem surpresas e o controle de velocidade de cruzeiro adaptativo foi utilizado em grande parte da rodovia. Os inúmeros radares com velocidades diferenciadas que aparecem ao longo da rodovia requerem atenção redobrada para não levar muitas multas. Algumas devem aparecer pois é quase que impossível não ser pego em alguma dessas armadilhas. O maior absurdo fica por conta trecho duplicado na descida da serra do Cafezal, ainda em território paulista. A velocidade máxima permitida é de 60 km/h. Em um Porsche Macan GTS, ou até mesmo em seu bisavô, o Fusca, é uma velocidade nada natural para o traçado retilíneo com leve declive da via, verdadeiro “caça-níqueis”.
O consumo de combustível fica favorecido pelas baixas velocidades de cruzeiro, chegando a Joinville com média acumulada de 10,1 km/l. O número homologado junto ao Inmetro é de 6,3 km/l no ciclo urbano e 7,6 km/l no rodoviário. E o alcance remanescente na chegada era de cerca de 250 km, apesar dos 515 km já percorridos. Tudo graças ao conveniente tanque de 75 litros.
Conforto de rodagem
Suspensão de duplo braço superposto na dianteira e multibraço na traseira já indicam que o carro deve ser bom para fazer curvas, e quando providas de molas pneumáticas e amortecedores reguláveis entregam conforto também. A altura da suspensão pode ser ajustada em dois modos (normal e baixo), enquanto os amortecedores tem três opções (normal, sport e sport plus). As barras antirrolagem na dianteira e traseira ajudam a deixar o carro neutro de rolagem.
Os pneus Pirelli PZero 265/40R21 na dianteira e 295/35R21 na traseira tem altura dos flancos de 106 e 103 mm, respectivamente, e são muito bons em termos de aspereza de rodagem, além do ótimo grip em curvas nesse uso familiar.
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No retorno a São Paulo o inesperado apareceu. Um bloqueio por acidente na BR-116 me impediu de seguir por ela. Ou seja, não é apenas baixando as velocidades das vias que se evita acidentes de grande monta. Precisa de mais engenharia, inteligência e principalmente vontade, mas como diz Bob Sharp: isso dá um trabalho danado. As opções eram: esperar cinco horas para liberação da pista; voltar e dormir em Curitiba; ou seguir viagem pela BR-476, a Rota da Serpente com mais de 1.200 curvas que interliga a capital paranaense com o interior paulista. Consultei minhas acompanhantes, expliquei os riscos e acréscimo de quatro horas na viagem, e decidimos seguir pela última opção. Melhor opção para mim, pois sabia que estaria experimentando outras virtudes do Macan GTS nesse trecho. A estrada é bem sinuosa, com curvas de média/baixa velocidade, alguns caminhões para ultrapassar, e um visual esplendoroso. Pena não ter recuos ou até mesmo acostamento para parar e fazer fotos adicionais.
Resultou que foi acabou sendo uma inesperada, longa e demorada viagem de volta, 730 quilômetros em 10 horas e 10 minutos, porém não tão extenuante em razão das qualidades dinâmica e de conforto deste suve Porsche.
O freio a disco ventilado nas quatro rodas, de alta capacidade de desaceleração, foi usado com moderação para evitar que ficassem enjoadas. E assim seguimos serra acima, serra abaixo, sentindo a potência disponível do modo Sport Plus para ultrapassar os caminhões, e contornando as curvas com suavidade para gerar pouca aceleração lateral. Somente ao final da estrada minha tia, que esteve no banco traseiro por toda rota, teve um princípio de enjoo. Mas quem não teria?
Os pontos a destacar são o baixo nível de ruído de rodagem, pois a interlocução dentro da cabine era muito boa entre todos, conforto de rodagem, com uma suspensão firme sem ser dura. O conjunto pneus+suspensão absorve muito bem as irregularidades do piso. Prazer ao dirigir com aquela pitada Fun to Drive (divertido para dirigir) de poder optar pelos três modos de condução e suspensão, e ter sempre o carro na mão.
A tração integral com predominância para o eixo traseiro deixa o carro bem equilibrado em curvas, e até quando apareceu um trecho de pista molhada em curvas e subida, foi possível observar o gerenciamento transmitindo automaticamente maior potência para as rodas dianteiras, e diminuindo a participação do eixo traseiro, tornando o carro bem equilibrado para aquela situação de desiquilíbrio iminente.
O sistema de direção com assistência elétrica tem ótima calibração no tocante a acréscimo de peso à medida que a velocidade aumenta, excelente relação de redução, deixando o comando fácil e preciso para o contorno das curvas. E em momento algum senti o carro pendendo para um dos lados da via, o que indica que haver compensação para curvatura transversal e muito bem calibrada.
Conforto
Além do mencionado conforto sonoro proveniente da boa isolação estrutural do veículo, o espaço a bordo é bem adequado para quatro passageiros. O quinto ocupante central do banco traseiro fica comprometido devido à altura do túnel central, por onde passa o cardã para o eixo traseiro. Para conforto térmico da cabine, o suve vem equipado com ar-condicionado de três zonas, aquecimento e refrigeração dos bancos.
Os tecidos de revestimento interno combinam materiais, texturas, formas e cores, dando um toque de elegância e sofisticação, mas sempre mantendo o elevado apelo esportivo do veículo, onde se vê o logotipo GTS (Grand Touring Sport) no encosto de cabeça dos bancos dianteiros. O novo volante permite empunhadura perfeita tanto para a posição 9:15 quando 10:10, em ambas fica fácil acionar as borboletas de troca de marchas.
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O comando do controle de velocidade de cruzeiro adaptativo e limitador de velocidade está em uma alavanca adicional abaixo da de seta, e a operação é intuitiva, permitindo ajustar a distância do carro à frente pelo mesmo comando multifuncional. O alerta de saída de faixas pode ser inibido através de interruptor no console central, o mesmo processo a ser utilizado para desabilitar o sistema automático de desligar o motor nas paradas (start/stop).
Ainda no console central estão os demais comandos de abertura da válvula do escapamento para som do motor mais esportivo, seletores de altura da suspensão, carga dos amortecedores, controle de estabilidade e tração. E o Macan GTS conta também com sistema de controle de descida para facilitar em trechos de declive com piso escorregadio.
O sistema de som instalado no carro testado é da marca premium Bose com 14 alto-falantes, 14 canais e 665 watts de potência. O efeito palco é para impressionar a qualquer profissional da arte, e foi plenamente aprovado por minha tia, uma professora de música aposentada, que sempre se empolga com uma música de boa qualidade.
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Exterior com DNA da marca
Apesar de ser um suve com 1.596 mm de altura, o Macan GTS não nega as raízes e tem o DNA da marca já estampado no grande capô ladeado pelos faróis em formato oval. O sistema Porsche Dynamic Light permite uma ótima iluminação, e com o acionamento do alto automático a parte noturna de chegada a São Paulo nesta longa viagem foi supertranquila e muito bem iluminada. A luz de rodagem diurna em 4 pontos deixa o carro bem visível para os pedestres e demais veículos na cidade.
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As rodas de liga leve de 21 pol. têm desenho de cinco elementos com pintura preto acetinado e contrastam bem com as molduras de porta, e parte inferior dos para-choques que têm elementos em preto. A silhueta do suve mostra seu porte assim como realça a linha esportiva da marca.
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As barras longitudinais do teto são funcionais, podendo carregar até 75 kg com bagageiro original Porsche, e a capacidade máxima de carga do veículo é de 620 kg. Para reboque o máximo é de 2.400 kg com freio e 750 kg, sem freio. Lembrando que o porta-malas pode ser expandido a até 1.503 litros ao rebater totalmente os encostos do bancos traseiro
Conclusão
Porsche é reconhecidamente um lendário fabricante de carros esporte, mas, como todo fabricante vê o crescimento do interesse por suves e com isso começou a se mover nessa direção. Primeiro foi o lançamento do Cayenne em 2002 e o Macan em 2014 em uma categoria inferior ao primeiro em tamanho, mas não em padrão Porsche de fabricação.
Talvez o mais impressionante no Macan é como ele foi concebido pela engenharia da Porsche e vem sendo mantido atualizado ao mercado desde seu lançamento. É tremendamente civilizado e divertido de dirigir. Um carro que toda a família vai adorar e aproveitar seu conforto, mesmo nessa versão mais visceral que é o GTS.
Independente do seu desempenho próximo a um supercarro com 0-100 km/h em 4,3 segundos e velocidade máxima de 272 km/h, o Macan GTS entrega conforto em todas condições de uso. Tanto que ao final da viagem minha mãe e minha tia já começaram a planejar a próxima viagem. Mas não será fácil atendê-las com tanto conforto e segurança.
GB
FICHA TÉCNICA PORSCHE MACAN GTS 2022 | |
MOTOR | |
Tipo | V-6 a 90º, dianteiro longitudinal, bloco e cabeçotes de alumínio, duplo comando, corrente, 4 válvulas por cilindro, variador de fase na admissão e escapamento, biturbo com interresfriadores, injeção direta, gasolina 98 RON |
Diâmetro x curso (mm) | 84,5 x 86 |
Cilindrada (cm³) | 2.894 |
Taxa de compressão (:1) | 10,5 |
Potência máxima (cv/rpm) | 440 / 5.700 a 6.500 |
Torque máximo (m·kgf/rpm) | 56,1 / 1.900 a 5.600 |
Densidade de potência (cv/L) | 152 |
Densidade de torque (m·kgf/L | 19,4 |
Corte de rotação | 6.800 |
TRANSMISSÃO | |
Tipo | Câmbio robotizado de duas embreagens, 7 marchas à frente e uma à ré, tração integral com preponderância traseira, vetoração por torque |
Relações das marchas (:1) | 1ª 3,69; 2ª 2.15; 3ª 1,41; 4ª 1,03; 5ª 0,79; 6ª 0,63; 7ª 0,52 |
Relação dos diferenciais (:1) | 4,67 |
CHASSI | |
Suspensão e amortecimento | Molas pneumáticas e amortecimento variável, suspensão ativa e controle de rolagem ativo |
Dianteira | Independente, duplo braço sobreposto |
Traseira | Independente multibraço |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira eletroassistida indexada à velocidade |
Relação de direção (:1) | n.d. |
Diâmetro do volante de direção (mm) | 360 |
Diâmetro mínimo de curva (m) | n.d. |
FREIOS | |
Sistema de freios | Duplo circuito em paralelo, servo-freio eletromecânico, assistente de frenagem de emergência, distribuição eletrônica das forças de frenagem, freio de estacionamento eletromecânico |
Dianteiros (Ø mm) | Disco ventilado/ 390, pinça fixa de alumínio de 6 pistões |
Traseiros (Ø mm) | Disco ventilado/330, pinça flutuante |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Alumínio, 8,5Jx21 (diant.), 11Jx20 (tras.) |
Pneus | 265/40ZR21 (diant.) e 295/35ZR21 (tras.) |
Estepe | Vazio com kit de enchimento |
CONSTRUÇÃO | |
Arquitetura | Monobloco em aço com elementos estruturais em alumínio, subchassi dianteiro e traseiro, suve, 4 portas, 5 lugares |
Aerodinâmica (Cx) | 0,36 |
Área frontal (m²) | 2,62 |
Área frontal corrigida (m²) | 0,943 |
DIMENSÕES (mm) | |
Comprimento | 4.726 |
Largura sem/com espelhos | 1.932 /n.d |
Altura | 1.596 |
Distância entre eixos | 2.807 |
Bitola dianteira/traseira | 1.650/1.658 |
CAPACIDADES E PESOS | |
Porta-malas (L) | 488/1.305 |
Tanque de combustível (L) | 65 |
Peso em ordem de marcha (kg) | 1.960 |
Carga útil (kg) | 620 |
DESEMPENHO | |
Velocidade máxima (km/h) | 272 |
Aceleração 0-100 km/h (s) | 4,3 |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL NEDC | |
Cidade (km/l) | 6,8 |
Estrada (km/l) | 8,4 |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 8ª (km/h) | 55,7 |
Rotação a 120 km/h em 8ª (rpm) | 2.150 |
Rotação à velocidade máxima em 6ª (rpm) | 5.900 |