Ingressar no seleto clube de pilotos da Fórmula 1 (foto de abertura) é um processo longo, custoso e, mais comum do que raro, frustrante. Nesse processo é preciso ir rápido e firme, mas a pressa raramente contribui para obter bons resultados. Há aqueles que chegam apoiados por empresas que praticamente compram uma vaga e há outros que convencem as equipes a apostar em suas carreiras. A estreia de um jovem aspirante na categoria geralmente é motivo de festa e otimismo que chega a contagiar todo o paddock. Há casos, contudo nos quais a carreira do piloto é interrompida ou a estreia não acontecem por decisões intempestivas, casos de Guido van der Garde e o recente entrevero envolvendo Oscar Piastri e a equipe Alpine.
No primeiro caso, o piloto holandês, que disputou a temporada de 2013 na equipe Caterham, garantiu sua presença na equipe Sauber 27 horas antes do primeiro treino para o GP da Austrália de 2015, e graças a uma decisão da Suprema Corte australiana. Para essa temporada a equipe suíça inscreveu como pilotos oficiais o brasileiro Felipe Nasr e o sueco Markus Ericsson. Diante da decisão judicial que levou em conta um acordo anterior que garantiu apoio de patrocinadores ao time, este iniciou uma série de manobras para demonstrar que não seria possível cumprir a ordem. As alegações variaram desde o despreparo de van der Garde para estrear na F-1 até a alegação de que os carros estavam preparados para Nasr e Ericsson.
Quando os treinos oficiais iniciaram na sexta-feira, Guido van der Garde apareceu vestindo o macacão de Marcus Ericsson e seu próprio capacete no box da Sauber, mas ninguém da equipe lhe deu atenção: todos se recusaram a lhe dirigir uma única palavra. Interferências externas contornaram o problema e o piloto holandês nunca mais se aventurou a entrar na F-1.
O caso de Oscar Piastri se assemelha ao de Guido van der Garde, porém aqui é o piloto que não quer correr pela equipe que apoiou sua carreira nos últimos quatro anos. Quando disputava a temporada de 2018 da Fórmula Renault Eurocup, o australiano de Melbourne começou a se aproximar da Renault e em 2019 venceu o campeonato. Integrado à academia de pilotos do time francês, Piastri conquistou os títulos da FIA para F-3 (em 2020) e F-2 (2021), fato inédito na história das categorias de acesso à F-1. Isso garantiu sua ascensão ao posto de piloto-reserva em 2022 e o colocar em primeiro lugar na fila para assumir uma vaga na equipe Alpine.
De acordo com o departamento da Federação Internacional do Automóvel (FIA) que analisa e julga a validade de contratos entre equipes e pilotos, Piastri tem direito de correr por outra equipe em 2023. A própria Alpine indicou várias vezes que, caso Piastri não fosse promovido à sua equipe para a próxima temporada, ele teria lugar em outra escuderia na condição de empréstimo. Diante da demora do time francês em acertar a renovação de contrato com Fernando Alonso, que acabou se transferindo para a Aston Martin, Mark Weber, ex-piloto e atual empresário de Piastri, buscou outras oportunidades e teria acertado a contratação do seu cliente pela equipe McLaren.
Aqui a história fica ainda mais turva: os atuais pilotos da equipe de Woking — Lando Norris e Daniel Ricciardo —, têm contratos que garantem sua permanência até o final de 2023,, no caso do australiano. Diante dos fracos resultados do piloto de Perth desde que trocou a Alpine pela McLaren, o exercício do seu contrato [passou a ser discutido cada vez mais e se tornou público depois de Zak Brown, executivo maior da casa, ter admitido a existência de “mecanismos que podem interromper o contrato com o piloto. Não demorou muito para Ricciardo divulgar um comunicado que está disposto a permanecer na equipe até o final do acordo.
Posto isso, é muito cedo para responder questões básicas. Ricciardo será mesmo desligado da McLaren? Piastri será seu substituto? A Alpine vai processar Piastri por perdas e danos face ao investimento que fez em sua carreira? A imagem do jovem australiano será estigmatizada no seleto clube de pilotos da F-1? Qualquer que seja o desfecho dessa história, de hoje em diante os contratos das equipes com jovens pilotos será ainda mais leonino em favor das equipes: até hoje nenhuma pediu ressarcimento por investir em um contratado que abandona o projeto.
WG