Domingo retrasado (21/8) falei sobre dirigir carro com volante na direita e suas diferenças. Começo dizendo que bem fez Gordon Murray ao idealizar seu McLaren F1 (foto de abertura): motorista no centro ladeado por dois bancos algo recuados, assim não há problema de lado do volante, — mas há outros. Um, acessar o banco do motorista, que fica longe das duas portas; outro, passar em pedágio, só com cobrança automática, é complicado pagar com dinheiro, a menos que haja uma cestinha com cabo comprido a bordo.
Do ponto de vista de dirigir em vias de sentido único, perfeito, é assim que pilotos de monopostos veem a pista nas altas velocidades praticadas, e eles nunca se atrapalham. Quando corri de Fórmula Vê na segunda metade da década de 1960, nenhum problema, abstrai-se completamente do fato de se estar dirigindo no centro do carro.
O mesmo nos aviões de treinamento que pilotei, no centro, dois lugares em fila (tandem). Mas quando passei a voar Cessna 150 e 172, disposição de automóvel, nem mais difícil, nem mais fácil: igual.
Aliás, confesso que tenho um sonho: ter um carro de comando duplo, como nos aviões, ser indiferente sentar-me na esquerda ou na direita. Numa viagem e acompanhado de passageiro habilitado, dizer para ele ou ela “pega um pouco”, como precisar ler alguma coisa ou apenas dar uma relaxada, fumar. E quando eu achar que preciso intervir, bastar dar uma mexida no volante para quem estiver dirigindo sentir que assumi o comando. É o “código” da aviação.
Voltando ao McLren F1, em vias de duplo sentido complica no momento de precisar ultrapassar. Menos que volante na esquerda/mão de direção direita (ou vice-versa), mas complica.
Ônibus articulados que rodam em pistas exclusivas têm (ou tinham, não estou certo) volante no centro, mas nunca entendi o motivo. Seria para dar um arde trem ou bonde? Se alguém tiver explicação, por favor manifeste-se. No trens do metrô nunca notei a posição banco do condutor, vou ver se descubro na próxima vez que tomar um.
Há outra diferença ao se dirigir um carro com volante “no outro lado”, oposto ao que estamos acostumados: o cinto de segurança vir pelo outro lado. Pode parecer bobagem ou exagero, mas é estranho. Fora não gostar de ser passageiro — non dvcor, dvco, “não sou conduzido, conduzo”, escrito no brasão da cidade de São Paulo — o cinto vindo da direita me incomoda.
Parêntese: estou pensando em personalizar meu perfil na Uber, carros só sem Insulfim e de câmbio automático. O primeiro por detestar andar sem ver o mundo exterior como ele é; o segundo, por achar muito desagradável ouvir e sentir a “primeira de pobre”, a roda não dá nem meia volta e o sujeito já engata a segunda. É antinatural para mim.
Sobre a inversão de lado do volante, há pouco eu soube que a VW, nos câmbios DSG. inverte o deslocamento da alavanca seletora para posição manual quando volante é na direita, de modo a ser para a direita em vez de para a esquerda, ou seja, para o modo manual a alavanca sempre é trazida para perto do motorista seja volante na esquerda ou na direita.
Outro ponto pelo qual sempre. me bato é o conta-giros dever ser na esquerda, no lado que requer atenção por permitir que a visão periférica facilite vê-lo e também o tráfego contrário, ou vice-versa. Acho estranho, por esse aspecto, dirigir Mercedes e Fiat Argo/Cronos. Esses exemplos, com volante na direita, ficam perfeitos.
E aprecio os velocímetros em que 130 km/h é com o ponteiro na vertical, é a velocidade que se pode imprimir nas autoestradas brasileiras sem o risco de cometer infração — o número é na verdade 129 km/h pela tolerância legal de medição, mas como todo velocímetro tem erro de leitura para mais, 130 km/h é seguro, apenas 0,8% de erro. Nunca é menos de 2%.
Tudo são manias de quem se prende a detalhes no automóvel. Para encerrar, quando o acionamento do vidro da minha porta é por manivela, acho esquisito me aproximar de uma cabine de pedágio diminuindo a velocidade pelo freio e precisar girar a manivela no sentido horário. Tem que ser anti-horário. Já pensou nisso?
BS