Em toda minha vida participando de lançamentos de carros, seja como jornalista automobilístico ou membro do rime de imprensa de fabricante, tenho vivenciado os palcos vias públicas e autódromos. Cada um tem suas peculiaridades e desafios, seus prós e contras.
Em qualquer caso o objetivo das fabricantes é tão-somente divulgar seu novo produto, e para isso nada mais eficaz e de menor custo do que a receita instituída por Lee Iacocca quando vice-presidente de vendas da Ford: carro se lança pela imprensa. É por ela que a mensagem da fabricante atinge diretamente o consumidor, o mercado.
O formato mais utilizado, mesmo que mais trabalhoso, é a imprensa experimentar o veículo nas vias públicas, especialmente nas estradas. É a melhor reprodução das condições de uso do veículo. Mas requer planejamento maior, é bastante trabalhoso, é preciso deslocar a equipe de lançamento para os vários pontos do roteiro rodoviário.
Outro formato é chamar a imprensa para um autódromo, tudo num lugar só. mas há três problemas: o piso não representar o padrão das vias públicas, os pneus precisarem ser inflados com pressão maior do que a normal pelas maiores velocidades em curva, o que altera a percepção do acerto (ou desacerto) da suspensão, e o temor da fabricante de acidentes de pista.
Tal temor, que considero infundado, chega ao ponto de obrigar o uso de capacete a a presença de acompanhante no banco direito e, não raro, reduzir a velocidade na pista por meio de chicanas marcadas por cones. Fora essas medidas, carros saírem em grupos com moderação de um carro-madrinha é bastante comum.
Em todos meus anos de testes de imprensa em autódromos nunca vi um jornalista se acidentar, mesmo sem as medidas as medidas restritivas citadas acima. No lançamento do Corsa para a imprensa brasileira no autódromo de Barcelona em fevereiro de 1994 a pista estava completamente livre e nada de capacete e acompanhante, tampouco carro moderador. O mesmo no lançamento do Punto em 2007 no autódromo de Buenos Aires. Num evento da Porsche na pista do campo de provas de Weissach tinha carro-madrinha, um 911, só que precisei usar tudo o que eu sabia de dirigir rápido para acompanha-lo. E sem capacete.
No lançamento do Gol GT em 1984, em Interlagos eu já na VW, o diretor de engenharia Philipp Schmidt, falecido em 30 de setembro último na Alemanha aos 91 anos, queria a rodo custo promover uma corrida de jornalistas improvisada, mas foi refreado pelo departamento de imprensa da fábrica.
Não tenho nada contra capacete, só que não estamos no autódromo para competir e o capacete tira a percepção do carro como um todo É péssimo.
Nas experimentações em estrada lembro de ótimas na Europa e até nos Estados Unidos nas quais se podia andar livremente sem preocupação alguma com excesso de velocidade. Acidente, mesmo assim leve, só com três chineses que compareceram ao lançamento do Ka em 1996, nas estradas da Sardenha. Nesse caso por eles mal saberem dirigir, quadro que tenho certeza de ter mudado passados 26 anos.
O que posso assegurar, e aqui vai o recado para o pessoal de imprensa/relações públicas das fabricantes, é que hoje os jornalistas especializados brasileiros dirigem bem, alguns até pilotos são; os que não são, besteira ou loucuras não fazem. Não precisam de babás.
Um “bom” exemplo de pista travada foi o lançamento do Pulse na pista do Circuito Panamericano (foto de abertura), o campo de provas da Pirelli, em 15 outubro do ano passado. Mal se podia acelerar, comentei na matéria. Pelo menos não fomos obrigados a usar capacete.
Alguns fabricantes ou importadores, caso da Porsche, estão percebendo o exagero. O Gerson Borini esteve num evento da marca (matéria do 718 Cayman GT4 RS em elaboração) esta semana no autódromo Velo Città (nome mudado para Velocittá, mesmo caso do álcool rebatizado etanol; por isso no AE manteremos o nome original). Ele contou que acabaram capacete, acompanhante e pista com cones. Três quartos do caminho andado.
Rumo ao normal!
BS