De repente, do nada, sem mais nem menos, comecei a ler capotamento em vez da secular capotagem. Alguém um dia resolveu “ser diferente” e o efeito-manada prevaleceu.
Quando o governo Juscelino Kubitschek criou o Geia, o ‘a’ se referia a automobilística (Grupo Executivo da Indústria Automobilística), mas por algum motivo esse adjetivo passou a ser automotiva.
Talvez por em inglês haver o adjetivo automotive. as pessoas achem que assim escrevendo ou falando “automotiva” denote cultura, ser bem informado. Ou se tratar de economia fisiológica, ou lei do menor esforço, a popular preguiça de escrever ou pronunciar uma palavras mais longa.
Vê-se isso até em entidades importantes e conhecidas como a AEA – Associação Brasileira de Engenharia Automotiva,, fundada em 1984 Ou a SAE Brasil, formada em 1991 e afiliada à SAE (Society of Automotive Engineers International, fundada nos EUA em 1905), só que em vez de a sigla significar Sociedade de Engenheiros Automobilísticos- Brasil. a associação se autodenominou sociedade de engenheiros da mobilidade.
Só pode ser preguiça a razão de se usar resgate no lugar de salvamento ou então dubladores de filmes acharem que o movimento labial de resgate combina com rescue.. Um parêntese: a dublagem brasileira é magnífica, parece que atores estão falando Português.
Lembro-me de ver escrito salvamento em vez de resgate nos veículos do corpo de bombeiros no Rio de Janeiro; não sei se ainda á assim.
PARA-SAR é o Esquadrão Aeroterrestre de Salvamento da Força Aérea Brasileira, ‘PARA’ de paraquedistas e ‘SAR’, de Search and Rescue, ‘Busca e Salvamento’. Resgate tem sentido de troca. como pagar resgate para libertar um sequestrado ou saldar um título num banco — paga-se e se recebe o título de volta.. Nos aviões militares há indicação, com seta vermelha, de onde abrir a cobertura transparente para retirar o piloto. onde se lês ‘Salvamento’.
Mudança inexplicável de sentido é chamar de carnavalesco o diretor de uma escola de samba. quando o termo sempre significou aquele que participa dos festejos de Momo (Os carnavalescos seguram pela avenida).
Outra aberração linguística é usar o verbo acontecer no lugar de realizar(-se). se acontecer significa algo imprevisto (‘aconteceu um acidente’). É comum ler ou ouvir, por exemplo, (‘a premiação acontecerá no dia tal’), algo programado e não imprevisto.
Uma novidade relativamente recente, correta mas estranha, é usar incluso em vez de incluído como em ‘revisões inclusas no preço’: a vida toda ouvi falar de dente siso incluso. Não está “incluído”.
Essa é bem antiga, chamar veículo policiai de viatura. como se o termo fosse exclusivo para o uso específico de veículo, para transporte de policiais. Viatura vem do francês voiture, veículo. Já vi em rodovias ‘Retorno proibido exceto para viaturas’…
É frequente ver especificação de modelo de automóvel quanto ao câmbio como MT e AT, como se carros comercializados no Brasil fossem dotados de manual transmission ou automatic transmission, respectivamente. Primeiro ,transmissão é todo componente que leva movimento do motor ás rodas motrizes envolvendo embreagem ou conversor de torque, câmbio, árvore de transmissão (ou cardã), diferencial e eixo traseiro rígido com as duas semiárvores embutidas. Vale notar que transmission, transmissão para representar câmbio é exclusividade — errônea — dos Estados Unidos. Nos outros países, Inglaterra inclusive, é caixa de mudanças. câmbio.
Para contextualizar, eixo tanto pode ser tanto um elemento em torno do qual algo gira, como uma roda, quanto uma linha imaginária que duas rodas. alinhadas e separadas.
Bem comum também, e antigo, é confundir unidade de volume com substantivo ao dizer ou escrever ‘motor de 2.000 cilindradas. Já vi essa aberração até em ficha técnica de fabricante. Que tal dizer que do piso ao teto da sala são três alturas?
Encerro a coluna com a mãe de todas as aberrações, usada è exaustão nos noticiários, falada na indústria automobilística e até na Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, a Anfavea: montadora.
No dicionário Aulete montadora significa indústria que fabrica e monta veículos (como se fosse possível fabricar veículos sem montá-los) e indústria em que o processamento dos produtos se faz em linhas de montagem — como se veículos só pudessem ser montados em linhas para essa finalidade e nesta indústria não houvesse prensas para estampar peças de carroceria, sua armação por solda, máquinas operatrizes, pintura e outros equipamentos para produção.
Ir devagar com a evolução da língua é questão de bom senso. Isso nunca fez mal a nada e a ninguém.
BS
A coluna “O editor-chefe fala” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.