Volta e meia me pego pensando nas coisas da vida, em especial as relacionadas à minha atividade profissional, e me surpreendo como era, ou foi possível, enfrentar a diversas situações do dia a dia sem os recursos de comunicação atuais.
Como estarmos eu e o nosso engenheiro designado para competições na Volkswagen, Luiz Antônio da Silva, em Buenos Aires para o rali etapa do campeonato mundial com nosso Gol 1,6 grupo A dois dias antes do início e ainda não termos em mãos a ficha de homologação da FIA, documento exigido para qualquer carro participar na prova.
Fomos para a sede do Automóvil Club Argentino (ACA) para tentar ver se o clube, que era a autoridade desportiva nacional como a CBA é no Brasil, por acaso já tinha a ficha. Não tinha. Eles entenderam o problema, telefonaram para a FIA em Paris, que ficou de enviá-la por fax para o ACA. Ficamos ansiosos aguardando o fax e depois de duas horas as folhas começaram a sair da máquina — lentamente, pois estas fichas, além das numerosas páginas, contêm muitas fotos identificando o modelo e seus conjuntos de peças. Hoje, com o correio eletrônico e aplicativos de transferência de arquivos seria coisa de minutos e sem sair do hotel.
A telefonia móvel celular, associada a aplicativos com o WhatsApp, permite comunicação por voz com imagem para qualquer parte do mundo, antes coisa de filme de ficção científica, vista com assombro no filme “2001. uma odisseia no espaço”, de 1968. Houvesse esse recurso seria simples telefonar para a VW e falar com nosso chefe Ronaldo Berg para pedir que mandasse o Beechcraft King Air da fábrica nos buscar em Córdoba, na Argentina: ao chegarmos ao aeroporto de manhã cedo, após outro rali, etapa do campeonato sul-americano, que vencemos, os voos estavam cancelados por motivo de greve da Aerolíneas Argentinas. Eram 7 da manhã e teríamos que achar um telefone, complicado nesses momentos. Decidi voltarmos de carro ao Brasil.
Por sorte o caminhão-cegonha com os carros ainda não havia iniciado viagem, pedi para descarregar um dos Gol mula e dirigimos até Porto Alegre (1.250 km), onde pegamos um voo para São Paulo.
Houvesse o celular nos meus anos de Volkswagen teria sido desnecessário munir o Luiz Antônio de um bipe para lhe pedir que me telefonasse, dado que a engenharia na Ala 17 ficava distante da Ala Zero, onde eu tinha o escritório.
O que dizer do Waze, aplicativo impensável não existir? Acabaram os guias de rua e/ou parar para pedir informações. Hoje um endereço é tudo que se precisa para chegar a algum lugar — até a Curva AE está no Waze!
Nos exames teóricos para CNH profissional, exigida para dirigir táxi, os candidatos tinham que mostrar conhecimento das ruas do centro da cidade (pelo menos no Rio era assim).
Sem o Waze e a telefonia móvel seria impossível o serviço de transporte por aplicativo como Uber e 99, por exemplo.
No jornalismo, nem se fala. Acesso a informações de toda ordem, inclusive fotos e vídeos. Nos salões de automóveis tínhamos que sair de lá com tamanha quantidade de material de imprensa impresso que os organizadores providenciavam couriers como DHL e UPS para despacharem os enormes volumes para as redações ou nossas residências.
Escrever tornou-se fácil e rápido com os editores de texto como o Word. No Direito, a ajuda da comunicação é inestimável. Audiências presencias tornaram-se desnecessárias na maioria dos casos. Decisões judiciais são transmitidas pela internet.
A comunicação interfamiliar reaproximou as pessoas de maneira admirável. Um filho viajando pode manter seus pais informados de sua localização a qualquer momento. E mandar fotos feitas pela câmera do telefone celular pela internet.
Em todos os campos de atividade humana a comunicação proporcionada pela internet tornou nossas vidas mais fáceis e prazerosas.
Como disse Fernão Capelo Gaivota, a ave personagem-chave do livro de 1970 escrita por Richard Bach, “longe é um lugar que não existe”.
De filosófico passou à realidade com a internet e a comunicação a ela associada.
BS