Até que demorou demais: a discutível presença de Mattia Binotto à frente da Ferrari desde 2019 parece finalmente estar com os dias contados. O italiano Leo Turrini, com quem comparti bons anos cobrindo a F-1 in loco, escreveu ontem que o francês Fredéric Vasseur e o italiano Antonello Coletta são apontados como seus possíveis substitutos. Turrini é, sem dúvida, o jornalista melhor informado sobre o que acontece dentro da Ferrari e é conhecido pela veracidade de suas informações.
A mudança, sempre segundo Turrini, deve incluir Simone Resta, que por diferenças com Binotto foi transferido à Sauber-Alfa Romeo e, posteriormente, à Haas. A Scuderia mantém assim sua tradição de viver grandes mudanças em ciclos bem mais curtos que os dos times rivais e, como de costume, divulgou nota classificando a notícia de Turrini como “infundada”.
As chances de Binotto seguir à frente da Ferrari diminuíram bastante após a dobradinha da equipe Mercedes no GP de São Paulo, etapa disputada domingo, em Interlagos. Some-se a isso a relação entre ele e Charles Leclerc e os erros cometidos na gestão estratégica. O piloto monegasco foi contratado como futuro campeão mundial e nome a bater Max Verstappen, mas nas últimas duas temporadas dois motivos principais fizeram ruir esse potencial. Um é de ordem pessoal — Leclerc cometeu alguns erros inesperados para alguém em sua posição — o outro remete a Binotto, que demonstra não ter o melhor relacionamento com seu piloto.
A contratação de Vasseur é dada como a melhor opção: ele tem boa relação com Nicolas Todt (além de ser empresário de Leclerc ele tem bom trânsito junto à direção da Ferrari), a Audi vai assumir um protagonismo cada vez maior na direção da equipe Sauber-Alfa Romeo (fala-se em assumir 75% do controle do time) e o acordo do time suíço com a Alfa Romeo termina em dezembro de 2023. Antonello Coletta, eventual rival à vaga de Mattia Binotto, é atualmente responsável pelo programa GT de Maranello. Como esse departamento está em franca expansão, sua permanência no posto parece ser mais interessante do que sua ausência.
Simone Resta iniciou sua carreira na F-1 com a equipe Minardi, em 1998 e três anos depois foi contratado pela Ferrari, onde permaneceu até 2018, quando foi transferido para a Sauber. Em agosto de 2019 retornou a Maranello por um ano e meio, até ser transferido para a Haas. Um relacionamento problemático com Binotto é tido como o motivo do seu afastamento.
Entre os inúmeros casos de reorganização radical na história da Ferrari, os mais célebres envolvem os ingleses John Surtees e John Barnard. Surtees, único piloto a vencer campeonatos mundiais de automobilismo e motociclismo, era o franco favorito ao título de 1966, quando a F-1 passou a usar motores de 3 litros. Após vencer o GP da Bélgica, dia 12 de junho, o piloto e Eugennio Dragoni, então dirigente da Scuderia, discutiram e o inglês deixou Maranello para formar sua própria equipe com um Cooper-Maserati.
Barnard teve um relacionamento variado com os italianos, com quem desenvolveu o primeiro F-1 com câmbio semiautomático acionado através de borboletas atrás do volante. Uma temporada onde o trio formado por ele, o italiano Cesare Fiorio e o francês Alain Prost fez ruir a associação com Maranello. Nessa época Barnard trabalhava desde o condado de Surrey, ao sul de Londres. Oficialmente, a recusa em voltar a atuar em Maranello foi a razão para tanto, mas muitos ponderam que o relacionamento já estava por demais afetado entre as partes.
WG