Acho engraçado quando vejo comentário de alguém dizendo que tal carro “não tem motor” no sentido de ter pouca potência, “não anda”. Caso, por exemplo, dos novos Honda City e HR-V com motor 1.5-litro aspirado de 126 cv. Ou do Renault Captur 1,6-L de 118/120 cv com câmbio CVT e 1.266 kg de peso. Em maio de 2019 escrevi matéria mostrando que mesmo com 24,2% acima da carga máxima de 449 kg dá para rodar perfeitamente.
Pela minha idade (completo 80 anos este mês) dirijo há praticamente sete décadas os mais diversos tipos de carro. Em 1951 fui num Kombi de um tio, lotado mais bagagem, do Rio a Cabo Frio, RJ. Motor 1100 de 25 cv, velocidade máxima de 80 km/h. Viajamos perfeitamente. O Citroën 11 1947 de um tio, no qual aprendi a dirigir, tinha motor de 1.911 cm³ e 57 cv.
Uma das viagens mais rápidas que fiz do Rio a São Paulo, do Posto 6 às minha casa em Moema, em tempo impublicável, foi com um 147 1050, de noite, dois pedágios abertos por passar de meia-noite (tinha isso na época, 1981) e con o tanque maior, de 56 litros. Viagem sem parar. Viagens de Fusca 1100 de 25 cv ente as duas capitais eram muito rápidas. Numa delas, descontando uma parada para reabastecimento, foram 4h05 de estrada.
Fiz duas vezes o mesmo percurso de Porsche Carrera RS 2,7-litros 1973 de 210 cv, que era muito rápido. O motor Ford Cosworth DFV 3-litros de F-1 entregava 450 cv.
O DKW-Vemag de 981 cm³ e 44 cv era rápido em qualquer situação, plano, subida de serra. O Fusca 1500 de mesma potência era veloz e acelerava bem. O motor aspirado do up! de 999 cm³ era de 75/82 cv. O Passat começou sua vida no Brasil com 1.471 cm³ e 65 cv. O Passat TS de 1.588 cm³, conhecido e ambicionado por seu esplêndido desempenho. era de 80 cv.
Em 2018 escrevi “Polo, sem medo de motor 1-L”, mostrando que seu desempenho era perfeitamente aceitável.
Mas por que estou dizendo tudo isso, se é patente que todos buscam potência? Se todas as fabricantes se lançam na disputa por potência? A razão é puramente emocional, potência está associada a poder. É claro que ter ou dirigir um carro potente satisfaz, é agradável, mas o fato é que está havendo exagero, pois dificilmente se usará toda a potência numa rodovia quando esta for superior a 250 cv.
A questão de potência passa para o lado do absurdo quando se trata de carros elétricos. O sedã Porsche Taycan GTS coloca à disposição do motorista nada menos que 598 cv produzidos por seus dois motores ´podendo acelerar de 0 a 100 km/h em 3,7 segundos. mas sua velocidade máxima é limitada em 250 km/h. Está faltando sensatez nos fabricantes. O Tesla Model S Plaid com seus três motores entrega 1.034 cv e acelera de 0 a 96.5 km/h em 1.99 segundo. Quase a aceleração de um carro de F-1.
Faz pouco tempo dirigi o Renault Kwid E-Tech;. Seu motor elétrico é de apenas 65 cv, potência suficiente para acelerar em meio ao tráfego com desenvoltura, como 0-50 km/h em 4,1 segundos e 0-100 km/h em 14,6 segundos. Isso faz sentido.
O motor elétrico tem torque máximo praticamente instantâneo assim que se acelera, o que significa elevada potência mesmo rotação bem baixa, o que indiscutivelmente agrada.
Outra questão importante no que diz respeito motores a combustão turbocarregados é cilindrada perder sentido quando se analisa o motor. Não falta quem menospreze motores “um-ponto-zero” sem se dar conta que o importante é o quanto de ar chega aos cilindros, não a cilindrada física obtida por simples cálculo. Pelo regulamento técnico da FIA (Federação Internacional do Automóvel), para enquadramento em classe de cilindrada motores super ou turbocarregados serão considerados como tendo cilindrada física 70% maior. Um motor 1,0, por exemplo, será considerado motor de 1,7 litro.
Para finalizar, desempenho é um dos aspectos mais importantes de qualquer automóvel, mas não é tudo. Sua escolha por determinado modelo ficará mais fácil lendo e/ou assistindo a vídeos em sites especializados como o AE ou experimentando o carro em mente. Se o test drive oferecido pela concessionária for insuficiente, alugue um por um dia. Vale o pequeno gasto para escolher certo.
BS
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