Que os carros elétricos estão de volta, não há a menor dúvida. Isso mesmo, de volta, não é algo novo. O carro elétrico existiu nas duas primeiras décadas do século 20 e conviveu com o carro de motor a combustão. Só sucumbiu a este por ser menos prático no que se refere a alcance e tempo necessário para recarregar a bateria.
O carro elétrico a bateria tem vantagens indiscutíveis em relação aos de motor a combustão. O motor elétrico é incomparavelmente mais simples que o motor a combustão por ter uma peça móvel apenas, o rotor.
O motor a combustão, por mais simples que seja, como um monocilindro, tem pistão, biela, virabrequim, árvore de comando de válvulas, duas varetas, dois balancins e duas válvulas. Todas movimentam-se entre si e têm que vencer o atrito, que além absorver potência requer um sistema de lubrificação, que inclui reservatório (cárter) e bomba de óleo. Em alguns casos, sistema para arrefecer o óleo, como trocador de calor ou radiador.
Precisa de um sistema de formação de mistura ar-combustível e de um sistema de ignição para que esta mistura entre em combustão (tratando-se de motores de ignição por centelha). Esta produz calor, que precisa ser dissipado por um sistema de arrefecimento a líquido ou a ar. A combustão produz gases que precisam ser descarregados na atmosfera por meio de um sistema de escapamento que inclui necessariamente um silenciador, já que a combustão produz ruído elevado. O motor elétrico dispensa tudo isso, embora não prescinda de um sistema de arrefecimento para a bateria com os mesmos elementos de um para o motor a combustão.
No longo termo o carro elétrico gerará menos despesas de manutenção, contrabalanceadas pelo maior preço do veículo. Enquanto o Renault Kwid Outsider, a combustão, custa R$ 73.890, o mesmo carro, elétrico, o E-Tech, tem preço público de R$ 146.990, 103% mais, ou seja, ligeiramente mais que o dobro. É importado, mas carros elétricos trazidos do exterior são isentos do imposto de importação (35%).
Há o estímulo para o carro elétrico na cidade de São Paulo que é não estar sujeito ao ilegal rodízio pelo final de placa, conforme reza o Código de Trânsito Brasileiro, uma medida absolutamente nojenta criada pelo prefeito Celso Pitta em 1997, verdadeiro desrespeito aos munícipes e a quem nos visite que, inacreditável e incompreensivelmente existe há 25 anos, mantida pelos seus sucessores.
Como o funcionamento do motor elétrico não envolve combustão, não há produção de gases nocivos aos seres vivos, portanto carro elétrico obviamente não tem catalisador para quimicamente tornar esses gases inofensivos.
O motor elétrico não precisa de acoplamento suave e progressivo com a transmissão do veículo, pois uma vez que haja energia elétrica no carro, basta fornecê-la ao motor (acelerar) para este começar a produzi energia mecânica imediatamente. Isto significa que embreagem ou acoplamento hidráulico, como conversor de torque, inexistem carro elétrico.
Por não carregar combustível a bordo, que vai sendo consumido, com o passar dos quilômetros, a distribuição de peso no carro elétrico não se altera. A carga a bordo — passageiros e/ou carga — é s única varável que afeta o comportamento dinâmico, o que facilita o trabalho dos engenheiros.
Falando de combustível, uma vantagem da energia elétrica sobre os combustíveis é ela jamais poder ser adulterada,, o que elimina os conhecidos problemas no motor associados a mau combustível, inclusive aumento do consumo.
Por não precisar de ar para funcionar, o motor elétrico é insensível à pressão atmosférica, desse modo mantendo seu desempenho (potência) em qualquer altitude. Num exagero, o motor elétrico pode funcionar até na Lua, onde não há atmosfera, como ficou conhecido no veículo de exploração lunar da Nasa.
Por ser desnecessário controlar a elevada rotação do rotor do motor elétrico (10.000 a 15.000 rpm), um conta-giros é dispensável.
Mesmo que motores a combustão estejam rumando para 40% de eficiência, ela é bem baixa comparada á de até 95% do motor elétrico (transforma em energia mecânica 95% da energia elétrica que recebe).
Todo carro elétrico tem o que se chama regeneração de energia elétrica. Ela ocorre sempre que se levanta o pé do acelerador e/ou se freia, estratégia que faz o motor elétrico passar a ser gerador. Na parte que interessa a todos, o custo direto para rodar, um carro elétrico supera por ampla margem um par de motor a combustão. Um que rode 6,5 km com 1 kW·h, com o kW·h a R$ 1,051 (São Paulo capital) tem custo do quilômetro de R$ 0,16. Um carro a combustão de mesmo porte que rode 10 km/l (média cidade-estrada) com gasolina a R$ 5,00 o litro tem curso do quilômetro R$ 0,50. Isso significa que o custo direto para rodar num carro elétrico é 68 % menor neste exemplo. Num trajeto de 500 quilômetros, enquanto o motorista do carro a combustão gastará R$ 250,00, o do carro elétrico só desembolsará R$ 80,00.
Mas assim como os preços dos derivados do petróleo (e do álcool) variam, o da energia elétrica também pode variar, mudando esses resultados.
Nessa fase de implantação da infraestrutura de carregamento, de um modo geral a energia elétrica fornecida ainda ainda não é cobrada, como ocorre nos shoppings, lojas e estacionamentos, mas isso tende a mudar. Nos eletropostos o preço do kW·h é bem mais alto, tendendo a R$ 2,00 por kW·h (corrente contínua, que abrevia o tempo de carregamento). Nesse caso o custo por quilômetro sobe e fica só 40% menor do que num carro a combustão, embora continue a ser uma vantagem nada desprezível: no mesmo percurso de 500 quilômetros do exemplo acima gastar-se-ia R$ 150,00 em vez de R$ 80,00
Quem mora numa casa pode se valer da energia solar com placas fotovoltaicas, mas elas não são baratas, algo em torno de R$ 20 mil. Neste caso o custo da energia obviamente é zero, certo? Errado: a energia gerada durante o dia, quando há luz solar, e que não é totalmente utilizada, é jogada na rede elétrica. Como em geral se recarregam as baterias no período noturno, quando evidentemente não há luz solar, o que foi jogado na rede volta, porém acrescido do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que com a “isperteza” de fazer o cálculo “por dentro” os 25% de ICMS viram 33.3% num passe de mágica, ou seja, a luz do astro-rei e taxada. Aliás, sobretaxada.
É necessário condicionamento
Dirigir um carro elétrico é tão simples, ou mais, quanto dirigir um de motor a combustão com câmbio automático. É aperta o botão de partida/desligar para energizar o circuito elétrico do motor, pôr o seletor de marcha em D e acelerar. Mas logo se nota a disposição para o veículo ganhar velocidade a partir da imobilidade, maior do que a de um veículo semelhante de motor a combustão.
Mas aproveitar todas essas vantagens tem seu preço:; o (a) motorista precisa se condicionar ao tipo diferente de propulsão. Esse condicionamento implica:
• Entender que é essencial ficar bem atento ao “combustível”, que é a carga da bateria, sempre mostrada no quadro de instrumentos, onde também é informado o quanto o veículo pode rodar (alcance) com a carga existente.
• É o mesmo cuidado a tomar quando se dirige um carro de motor a combustão, com a diferença de não ser. ao menos por enquanto, tão fácil encontrar um ponto de recarga da bateria, combinado com o longo tempo da operação de recarga, de algumas horas. a menos que não se deseje recarregá-la totalmente — igual a reabastecer um carro de motor a combustão quando se tem pressa, colocar poucos litros de combustível.
• Sempre planejar seus deslocamentos na cidade ou na estrada levando em conta a distância a percorrer, como também saber onde encontrará postos de recarga da bateria (há aplicativos de celular que fornecem essa informação).
• Habituar-se a sempre que chegar em casa ao fim de um dia de utilização do carro elétrico, carregar a bateria durante a noite para que esteja com carga total ao iniciar a jornada do dia seguinte.
• Sempre que possível, dar recarga de oportunidade mesmo que desnecessária. como ir a um estabelecimento comercial e efetuar a recarga da bateria caso haja carregador disponível no local. Exatamente com se faz com telefone celular, ao que estamos mais do que acostumados.
• Fica ciente de que usar muita potência, com acelerações fortes e imprimir velocidade elevada, ocasiona rápida descarga da bateria.
• Usar ao máximo possível a mencionada regeneração de energia para a bateria que ocorre ao levantar o pé do pedal do acelerador. O trabalho de gerar energia requer força mecânica, que se traduz em resistência, portanto a regeneração tem o mesmo efeito do freio-motor do motor a combustão, com a vantagem de enviar energia elétrica para a bateria nesse processo.
Concluindo, o carro elétrico tem vantagens indiscutíveis, e espero que a coluna desta semana ajude na decisão de passar ou não para a forma diferente de propulsão do seu novo carro.
BS