A terminologia do automóvel é mesmo complicada. Por exemplo, qual é a relação entre a fêmea da ave peru e um veículo com muitos lugares chamado perua? Nenhuma. O porquê do nome é desconhecido. Acho tão estranho esse termo que a partir desta semana decidi bani-lo do AE. No seu lugar passamos a empregar a definição do Código de Trânsito Brasileiro, peça legal que completou 25 anos no dia 23 de setembro do ano passado: camioneta, veículo capaz de transportar pessoas e carga no mesmo compartimento. Intui-se que para colocar a carga no lugar a ela destinado haja uma grande porta para essa finalidade.
Camioneta é longe de ser um nome simpático, mas é correto. O que não dá é chamar uma (camioneta) BMW Touring de perua. Ou usar sistematicamente a sigla SW, de station wagon, que bem provavelmente tem origem nos veículos de tração animal destinados ao transporte de passageiros e suas bagagens chegados de trem à estação ferroviária.
É óbvio que todo nome é criado por alguém por necessidade. Não tenho pretensão de ser etimologista, aquele que estuda a origem das palavras, mas desde que me entendo por gente gosto de saber ou procurar entender determinados nomes. Por exemplo, roadster é o nome dado, em inglês, a um carro esporte de dois lugares sem capota ou conversível e o nome sugere uso em estrada a título de diversão, sport.
Por ter essa mania, assim que conheci o nome-sigla SUV no começo dos anos 2000, achei-o estranho por definir um tipo de veículo. Como os americanos são pródigos em criar siglas, esta foi para os veículos utilitários esporte (sport utility vehicles), nome que desembarcou no Brasil com sendo veículos utilitários esportivos ou simplesmente utilitários esportivos
O conceito original do SUV é uma carroceria de camioneta (passageiros e carga no mesmo compartimento, como vimos) montada sobre chassi rolante de picape, o que inclui suspensão, e dotada de tração nas quatro rodas, esta servindo para o lazer de se poder chegar a lugares e exóticos e aprazíveis onde os automóveis comuns não chegam pela dificuldade de trafegar sobre terreno inóspito. O primeiro veículo com essas características foi o Jeep Station Wagon, em 1949, que além da tração nas quatro rodas contava com reduzida na caixa de transferência para superar subidas íngremes com facilidade.
Com a popularização das carrocerias monobloco a “receita SUV” continuou, mas sob novo nome: crossover, que entre outro significados é o cruzamento de raças — no caso carroceria-sobre-chassi e carroceria monobloco.
A tração nas quatro rodas faz tempo que deixou ser essencial para a caracterização dessas duas “raças”, ensejando a criação do termo “SUV de shopping” que todo mundo sabe o que é. Inclusive, não me ocorre haver hoje SUV com tração só traseira. Ou é 4×4 ou é tração-dianteira,
Comum aos SUVs e crossovers é a grande abertura traseira com porta de carga que em inglês tem o nome de hatch, daí o popular termo hatchback. traseira com grande porta traseira, para carga — exatamente o termo em alemão, Grossehecktur. É desnecessária análise extensa para constatar que todo SUV e crossover é hatchback, da mesma forma que toda camioneta.
Esse fato me leva a considerar ser cabível a indústria abandonar os termos SUV e crossover em favor de hatchback, tal como é feito sem a menor cerimônia em relação aos sedãs — subcompacto,, compacto, pequeno, médio, médio-grande e grande. Um enorme Rolls-Royce Cullinan (foto de abertura), por exemplo, passaria a ser hatchback grande.
Estou “viajando”? Pode até ser, mas pelo menos acabaria, no AE, ler os inconformados de verem seus SUVs — supostamente — rebaixados a suves.
BS