Há tendências de todos os tipos quando o assunto é automóvel. Algumas são boas, algumas desagradáveis, algumas inteligentes e algumas, burras. Provavelmente há quem esbraveje no computador sobre a obviedade do que eu disse, aplicável a qualquer indústria. E com razão. Um fabricante, porém, responsável por alguns dos mais óbvios desenvolvimentos e tendências, e não se refere ao primeiro pensamento que vem à cabeça como BMW. Honda, Toyota, Ferrari ou qualquer marca americana. Não. A fabricante que mais mostra o caminho é a Audi.
Pode ir recolhendo o seu queixo no chão. É verdade. A marca de luxo do Grupo VW, na sua origem, é responsável pelas tendências de design, engenharia e tecnologia que estão praticamente em toda parte. Algumas são legitimamente incríveis. Outras irão fazê-lo desejar o próximo A5 ao ver seu rosto com quatro anéis.
Acha que é da BMW e da Lexus a ideia das enormes grades? Perdeu. Foi o que marcou a Audi em 2004 com o A6 de sexta geração. A nova grade de moldura única chamou a atenção para a dianteira de maneira tal que poucos carros conseguiram. Sempre a achei linda, elegante e distinta, em especial na comparação com a concorrência. O BMW série 7 e o Mercedes classe S traziam desenhos cada vez mais avant garde, que podiam ser considerados pelo menos polarizadores, para então fugir das tradições de elegância subdeclarada. O A8 2007, o primeiro com a nova grade, era um modelo de beleza incomparável.
Ainda me lembro de algumas revistas achando as grandes grades horríveis. Conclui-se que os fabricantes não leem essas revistas, pois as grades nunca foram tão grandes. Memes mostram grades comendo BMWs inteiros, o último Toyota Avalon feito quase inteiramente de grade, e novas picapes Chevrolet com grades descomunais. A própria Audi também está nessa em toda a sua linha, grades tão grandes que um Q8 poderia devorar um Miata à sua frente.
Uma coisa não é questão de tendência, poder-se-ia dizer. Há outro elemento de design introduzido pela Audi no primeiro R8 que tomou conta de tudo, de Ferraris a Kias: luzes de rodagem diurna de LEDs.
O primeiro R8, um carro de visual glorioso, tinha um delicado rímel sob seus faróis. Um único realce num belo e inspirado design. Ficou tão bom que agora está em todos os carros, fabricantes criando suas próprias assinaturas de LED em cada carro que produzem. A moda chegou ao ponto de alguns fabricantes usaram tantos LED que até parecem constituir um componente estrutural do veículo.
Temos as telas de TFT (thin film transistor) usadas no instrumental, Claro, houve medidores digitais de uma forma ou de outra que só Deus sabe até quando, e isso pode não ser algo que começou com a Audi, uma vez que o amplo desenvolvimento da indústria infiltrou-se em todos os carros a partir de em torno de 2014. O lado bom é que isso colocou toneladas de informação diante do motorista e ajudou a reduzir a distração ao dirigir. O lado ruim é todos os mostradores serem iluminados, não interessando se lá fora está claro ou escuro. Já se sabe o que acontece.
Luzes de rodagem diurna e mostradores de TFT, antes grandes novidades, são agora o terror ao se dirigir à noite. Esses mostradores são retroiluminados o tempo todo e as luzes de rodagem diurna mais recentes são fortes o suficiente para iluminar a via à frente. Isso levou a grande número de pessoas dirigindo de noite com faróis desligados. Os mostradores estão sempre iluminados de modo a não se saber, de dentro do carro, que que os faróis não estão ligados. Isto resulta em idiotas que não podem ser incomodados para saberem que a sua iluminação teria de ser mais forte porque a assinatura de DRL é insuficiente, e o resto de nós relampejando nossos faróis para eles e torcendo para serem parados pela polícia e serem informados de quão idiotas são. Inclusive por as luzes traseiras normalmente só acenderem quando as luzes são ligadas.
É muito frustrante ver cada vez mais carros rodando à noite com luzes desligadas, motoristas totalmente alheios ao que está se passando. É insano.
Tem mais: a proliferação de tração nas quatro rodas. Ela é indubitavelmente boa nas circunstâncias apropriadas e, mais importante, com os pneus corretos. A assinatura Audi quattro de tração nas quatro rodas ganhou fama sozinha nos ralis de vias escorregadias e teve êxito ao passar o desempenho do sistema para os seus carros de rua.
BMW e Mercedes produziram carros de tração nas quatro rodas em alguns modelos nos anos 1980 e 1990, mas nunca abraçaram a solução como a Audi. A razão principal disso é modelos BMW e Mercedes serem carros de tração traseira, enquanto os Audis eram baseados em modelos de tração dianteira, de modo que tração nas quatro rodas era vista como algo premium. A Audi logrou torná-la parte do seu DNA e conseguiu tornar clara as vantagens percebidas de quatro rodas motrizes.
Hoje a tração nas quatro rodas é encontrada em carros de luxo, tanto de série quanto opcional, com comerciais realçando carros sendo dirigidos com a maior tranquilidade em vias cobertas de neve. O fato é que carros de tração dianteira ou traseira também vão bem na neve desde que com pneus apropriados. Há, claro, vantagens de desempenho sobre a tração nas quatro rodas em algumas condições, mas eles nunca o tirarão por força própria de situações como estar encalhado na neve.
Este é um crédito à Audi mais do que qualquer coisa. A marca é comercializada com todo sucesso e desenvolvida em design, tecnologia e engenharia de tal maneira que outras marcas nada podem fazer senão acompanhar. Isto tem que ser altamente gratificante para todos da Audi e provavelmente um pouco divertido.
BS
Matéria publicada na revista Road & Track online de 23/3/23
Tradução AE/Bob Sharp
Autor Travis Olulski – colaborador
Arte: Stephen Omart