Faz tempo que esta questão me intriga. Se potência é potência e independe do tipo de motor, o que será que levou ou esta levando fabricantes a lançar carros de passageiros, elétricos, suves inclusive, com motores de elevadas potências, típicas de supercarros esporte?
Tome-se como exemplo o Tesla 3, um sedã com dois motores que totalizam 515 cv e pesa 1.730 kg. Isso dá uma relação peso-potência de 3,35 kg/cv. O carro acelera de 0 a 100 km/h em 3,4 segundo e atinge 260 km/h. Tal ordem de desempenho dificilmente pode ser explorado nas vias normais. Ou como o Porsche Taycan Turbo (?) S, 772 cv, 0 a100 km/h em 2,8 segundos e 260 km/h. Alcance, 340 quilômetros.
É insensatez esse exagero de potência que está havendo. O Tesla S Plaid (foto de abertura), por exemplo, tem potência total de 1.000 hp (1.014 cv) de seus três motores elétricos, acelera de 0 a 100 km/h em 1,9 segundo e atinge 320 km/h — velocidade limitada, supostamente. Desempenho de F-1!
No outro lado da escala temos o Renault Kwid E-Tech de 65 cv e 977 kg de 0-100 km/h em 14,6 segundos e velocidade máxima limitada de 130 km/h que proporciona agilidade no trânsito plenamente adequada e até certo ponto empolgante, mesmo com a alta relação peso-potência de 15 kg/cv
Nesses dois exemplos o fato de motores elétricos oferecerem torque máximo instantâneo, a sensação de aceleração comparável à de motores de combustão interna bem mais potentes.
Por exemplo o Polo Track de motor 1-L de aspiração atmosférica, 77/84 cv a 6.450 rpm. Como eu só o havia dirigido no lançamento, quis ver seu desempenho no dia a dia na cidade. Solicitei um à VW e a versão me surpreendeu, apesar da sua relação peso-potência de 13,7/12,5 kg/cv (estava com gasolina).
Surpreendeu no sentido de agilidade mesmo girando pouco o motor, “limpando” o tráfego à frente sem nenhuma dificuldade. Usando mais potência, de modo algum pareceu tratar-se de motor de 1 litro. Mesmo em São Paulo, a 800 metros acima do nível do mar.
Costumo dar a referência do Passat TS 1600 que tivemos aqui, 885 kg e 80 cv (11,1 kg/cv), símbolo de desempenho no seu tempo, 0-100 km/h em 13,8 s e 160 km/h; Polo Track, 0-100 km/h em 13,8/13,4 s e 166/169 km/h.
Indago-me por que a eletrificação não significa utilizar motores de potência proporcional ao tipo e peso do veículo, por exemplo, relação peso-potência de 8 kg/cv. Importante: nada de lei ou regulação, apenas um parâmetro que considero razoável para a indústria.
Um carro médio de 1.300 kg teria motor elétrico de 162 cv, o que não deixaria ninguém insatisfeito. Especialmente em vista do torque máximo dos motores elétricos serem produzidos no momento em que se pressiona o pedal do “reostato”. Ou seja, potência farta imediata.
Como no citado Kwid, só que a versão a combustão de 999 cm³ e 68 cv. É mais coerente. Praticamente como no Peugeot 208, o mesmo carro com motor a combustão de 1,6 litro, 115/118 cv, e elétrico de 136 cv (e-208 GT).
A virtude está no meio termo.
BS
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