A União Europeia voltou atrás com relação à proibição de comercialização de veículos a combustão a partir de 2035. Vitória da Alemanha – com apoio da Itália, Polônia, Bulgária e Romênia – que conseguiu a revisão do texto original. Agora, o regulamento continua destacando o fim dos veículos que emitem CO2, mas não do motor a combustão!
Depois de longas negociações durante o fim de semana foi formalizado o acordo, oficializado durante reunião de ministros de energia e transportes em Bruxelas na manhã desta terça-feira (28/3). O texto recebeu a aprovação final com o acordo que vai liberar as vendas de veículos novos movidos exclusivamente com combustíveis neutros para o clima.
Mas o regulamento continua impondo a redução de 100% das emissões de CO2 após à data-limite definida anteriormente, o que proibirá efetivamente a comercialização de novos automóveis de passageiros e utilitários movidos a combustíveis fósseis, como diesel e gasolina, nos países da comunidade europeia no prazo definido a partir de 2035.
A nova regulamentação isentará somente os veículos que rodam com e-combustíveis, mas que por serem detonados em um motor tradicional a combustão eles também liberam emissões na atmosfera, porém seus defensores argumentam que no processo de produção podem ser neutros para o clima compensando o dióxido de carbono emitido pelos motores.
O mais correto é definir como combustíveis sintéticos todo e qualquer combustível que seja completamente neutro em carbono. Em termos práticos significa que o carbono capturado diretamente na atmosfera e usado para produzir o combustível deve ser igual ou superior à quantidade de carbono emitida na queima do combustível no motor.
Esta tecnologia combina hidrogênio e dióxido de carbono (CO2) para produzir o combustível sintético. O combustível neutro envolve o uso de hidrogênio renovável, com o dióxido de carbono sendo capturado diretamente do ar e utilizando 100% de eletricidade renovável em toda a cadeia de produção, padrão que ainda não é totalmente atendido atualmente.
Porém, em termos de emissões, esta operação não é tão neutra, já que a combustão também envolve a liberação de outros poluentes como monóxido de carbono, ozônio e material particulado, mas estes não estão incluídoos nas restrições, o que é motivo para os críticos da tecnologia contestarem.
Os críticos também afirmam que além de produção cara, os e-fuels são ineficientes em termos de energia e consideram desperdício de recursos. Eles dizem que a produção atual deste tipo de combustível é muito limitada e deverá atender apenas o nicho de modelos esportivos e de luxo, e também que nunca serão uma alternativa viável para a motorização elétrica.
Porsche e Ferrari são as marcas que se beneficiarão diretamente desta isenção. Em entrevista à agencia Reuters, o presidente da Ferrari, Benedetto Vigna, afirmou: “A boa notícia para nós como empresa é que, além dos carros elétricos, também poderemos continuar produzindo nossos motores de combustão interna”.
Já o presidente do grupo Volkswagen e da Porsche, Oliver Blume, disse que o combustível sintético ajudará modelos de baixa produção como o Porsche 911: “Vemos os combustíveis sintéticos como uma alternativa útil à frota existente de motores combustão e também em aplicações especiais”.
A Porsche, que não tem planos de fabricar um 911 totalmente elétrico, já faz parte de um consórcio que investiu em uma fábrica-piloto no Chile para produzir combustível sintético. A Aramco, em parceria com a gestora da Fórmula 1, também está trabalhando no desenvolvimento comercial de combustíveis sintéticos.
A petrolífera árabe afirmou recentemente para a publicação francesa L’Automobile, que terá capacidade de produzir um litro de combustível sintético a 1 euro, sem os impostos, a partir de 2028/2030. Para isso vai que investir na construção de enormes parques de energia renovável no deserto aproveitando os ventos e gerar eletricidade suficiente para a produção dos combustíveis sintéticos.
Voltando ao acordo definido esta semana, ele oferece uma interpretação legal adicional que a Comissão pretende destacar a isenção dos e-combustíveis em um artigo específico, mas que precisa ser aprovado pela maioria dos deputados. Só assim, o novo regulamento de CO2 acordado nesta terça-feira passará a ser lei após a publicação no jornal oficial da UE.
Porém, se os legisladores rejeitarem a modificação, terá que ser proposta a revisão completa da legislação, o que pode gerar novos pedidos, como a solicitação da Itália que quer isentar os biocombustíveis, cuja pegada de carbono decorre do uso da terra, e que não foi aceita ao ser votado o regulamento original em fevereiro.
A isenção também forçará os fabricantes desenvolver um dispositivo que distinguirá os combustíveis eletrônicos dos combustíveis fosseis derivados de petróleo, quando os motoristas forem abastecer os veículos. Porém, ninguém poderá ter a certeza de que os carros não serão abastecidos com combustível fóssil, até que regulamentos específicos sejam fixados.
RM