Talvez nem precisasse citar isso, pois todo aficionado da marca Porsche já sabe que o Cayenne Turbo GT é o suve recordista mundial no circuito norte de Nürburgring, percorrendo os 20,832 km em 7 min 38,925 s, o que dá uma média de 165,414 km/h — um suve! Numa pista que já foi utilizada pela Fórmula 1 e até hoje é tida como uma das pistas mais desafiadoras do mundo, se não a mais. Tanto que todos os fabricantes de carros esportivos utilizam-na para validar o desempenho de seus veículos. E por aqui não é diferente, esse suve de 640 cv virou em 1 min 48 s na pista do Autódromo de Interlagos, sendo o suve mais rápido a serpentear pelas curvas da pista paulistana.
Para aqueles que odeiam o modismo dos suves, aposto que ao dirigir essa versão de Porsche por alguns minutos ou alguns dias, como tive o privilégio de testar, vão mudar de opinião rapidamente. Está certo, é um Porsche e é um suve, uma combinação que não poderia ser mais perfeita para quem gosta de suves e de Porsche como eu.
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Trem de força nota 10
O motor V-8 de 4 litros (3.996 cm³l com dois turbocarregadores é fenomenal e os engenheiros da Porsche conseguiram uma calibração que tem suavidade nas acelerações leves e emoção na hora que o pedal da direita é pressionado ao fundo. O 0-100 km/h é feito em meros 3,3 segundos o que é uma brutalidade se considerarmos que o peso em ordem de marcha é de 2.220 kg. Durante meus cinco dias com esse carro vivi uma misto de emoções, querendo sempre sentir a pujança desse desempenho e obviamente sem poder. Foi um verdadeiro teste de autocontrole.
Tudo o mais que pudesse ser descrito sobre esse motor V-8 a 90º seriam meros detalhes, como ter diâmetro dos cilindros e curso dos pistões de 86 mm — curiosamente como GM Família 2 de 1.998 cm³ bem conhecido por nós — , que o classifica-o como um motor quadrado que utiliza quatro válvulas por cilindro com duplo comando variável em fase e levantamento de válvulas em cada bancada, que a potência máxima de 640 cv aparece a 6.000 rpm e o corte de injeção está a 6.800 rpm, que o torque máximo é de 86,7 m·kgf entre 2.300 e 4.500 rpm. Mas na verdade não são detalhes, são os predicados de um motor perfeito.
Se o 0-100 km/h é rápido, o que dizer do 0-200 km/h em 12,2, segundos e a velocidade máxima de 300 km/h? E o 80-120 km/h que leva apenas 2,2 segundos. Ou seja, tudo que for dito sobre desempenho deste suve é superlativo.
Sem o câmbio Tiptronic S epicíclico de 8 marchas — isso mesmo, não é mais o PDK robotizado de dupla embreagem — certamente esse desempenho do motor não chegaria às quatro rodas em sistema de tração integral com distribuição de torque entre os eixos variável com tanta eficácia. As trocas de marcha, para quem desejar fazer em modo manual, podem ser feitas pelas ótimas borboletas posicionadas atrás do volante, mas não recomendo. O motor cresce de rotação muito rapidamente e a automaticidade é muito mais eficiente que qualquer piloto para fazer as trocas no momento exato.
Como diz o velho ditado: cavalo corre, cavalo bebe. A média geral de consumo nos 5 dias de uso do veículo foi de 7,35 km/l, porém ao trafegar pela rodovia os Bandeirantes a 120 km/h entre São Paulo e Campinas o consumo médio foi de 10,5 km/l. Um resultado mais que aceitável para o peso e dimensões — e desempenho — do veículo. Para comparação, o consumo médio declarado pela fábrica, com gasolina super plus europeia, sem álcool e 98 RON, é de 7,1 km/l.
Perfeição dinâmica
Se os engenheiros de motores já tinham acertado tudo na área deles, os de dinâmica veicular não poderiam ficar para trás, e realmente fizeram um trabalho do nível Nasa que deixou o suve de 1,636 mm de altura desafiar as leis da física. Ao contornar as curvas da estrada das Cabras em Joaquim Egídio o veículo parece muito menor do que os 4.942 mm de comprimento total e muito mais leve do que realmente pesa. O esterçamento das rodas traseiras coloca o Cayenne no contorno certo nas curvas e passa muita segurança e confiança ao motorista.
Eu já havia dirigido essa versão no Porsche World Road Show do ano passado no autódromo Velocittà, mas não imaginava que essa sensação pudesse ser sentida também em vias públicas. E não é necessário andar fora da lei para perceber a maestria em calibração de suspensão e direção e escolha de pneus que os engenheiros alcançaram. E não é que os controles de estabilidade e tração estão em ação o tempo todo, mas na verdade o Cayenne rola tão suave e fácil de dirigir nas curvas que vão se sucedendo, que um motorista normal até se sente mais habilidoso do que realmente é? Todo esse resultado é graças à suspensão pneumática adaptativa com três modo de ajuste, onde até a barra antirrolagem modifica a rigidez de acordo com a condição de uso.
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Se o carro é ótimo na pista de um autódromo ou nas rodovias de piso uniforme, ao chegar na cidade e enfrentar os buracos, calombos, lombadas e valetas de nossas vias o sofrimento é proporcional a tudo de bom que entregou nas outras condições. O suve chega a ser duro e a redução da pressão de pneus de 46 lb/pol² na dianteira e 49 lb/pol² na traseira para 36/39 lb/pol², respectivamente, pressão recomendada para uso até 160 km/h, deixa o carro menos desconfortável.
O sistema de direção é um capítulo à parte, dando precisão, resposta e esforço na medida certa à medida que eleva a velocidade do veículo. Tudo é feito para que o motorista sinta total controle em suas mãos. Complementado por toda essa sensação aparece o efusivo som do motor V-8 biturbo. Nada se compara a isso. E ainda é possível abrir a válvula no sistema de escapamento para que o ruído mais intenso preencha ainda mais a cabine.
Os discos de freios com revestimento em composto de cerâmica são de série no Cayenne Turbo GT e proporcionam desaceleração estonteante sem qualquer sinal de fading ou aumento do curso de pedal. A modulação de pedal é proporcional à desaceleração que se deseja e os discos ventilados na dianteira e traseira — de respectivamente 440 mm e 419 mm de diâmetro, azem seu papel, juntamente com pinças de 10 pistões na dianteira e 4, na traseira. ,E novamente, o excelente sistema de freio ou conjunto motor-câmbio não seriam nada se não fossem os pneus 285/35R22 na dianteira e 315/30R22 na traseira para transferir toda potência para o solo.
Interior honesto
A começar pelo desenho dos bancos traseiros que só comporta dois passageiros, e assim o veículo é homologado, quatro lugares. O túnel central pronunciado propicia espaço para o cardã e escapamento pela parte inferior, mas também aumenta muito a rigidez à torção do monobloco, um elemento muito importante para o excelente resultado dinâmico do Cayenne..
O sistema de ar-condicionado tem quatro zonas de ajuste e 8 bolsas infláveis estão espalhadas pelo veículo para aumentar ainda mais a segurança.
Ao fechar as portas não é necessário bater, o sistema soft-closing se encarrega de fechá-la suavemente. A luz ambiente pode ser ajustada em cor e intensidade e juntamente com o sistema de som premium da Burmesteir deixa a cabine confortável para explorar o desempenho e sentir apenas as boas vibrações oriundas do V-8 dianteiro.
Bancos dianteiros são ajustados eletricamente para facilmente encontrar a melhor posição de dirigir, e ainda tem o ajuste manual do volante em altura e distância. O HUD (heads-up display), ou projetor de dados no para-brisa, é outro requinte que auxilia o motorista, mas é bem mais bonito olhar para os cinco mostradores circulares com o conta-giros ao centro. É a tradição Porsche que não poderia ficar fora do seu principal suve, assim como a partida pelo lado esquerdo do volante.
Estilo exterior
Todos os suves parecem uns com os outros, há poucas inovações no desenho e formas externas, mas este Cayenne Cupê tira o folego de qualquer um. É um carro que parece que foi desenhado para atender a todos os estudos de formas e proporções para entregar uma combinação perfeita e harmoniosa. Mesmo com o tamanho mais avantajado, ainda assim os engenheiros da Porsche conseguiram deixar esse suve sem vincos nas laterais.
Até as cores dos carros da Porsche parecem custosas, e realmente são. Mas a combinação com uma quantidade generosa de peças feitas em compósito de fibra de carbono deixa o suve mais charmoso nos seus detalhes, com todo esse desenho exterior sendo realçado pelas rodas de 22”e desenho exclusivo.
Tecnologia de bordo
Apple CarPlay tem pareamento sem fio enquanto o Android Auto ainda necessita de cabo USB. A central multimídia ao centro do painel de instrumentos tem imagem cristalina, a resposta tátil é rápida, e é fácil e intuitiva de navegar entre todas as funções de ajustes do veículo.
Entre os sistemas de auxílio ao motorista fica o destaque negativo para o sistema de permanência em faixa que tem resposta lenta e não corrige totalmente a rota. O controle de velocidade de cruzeiro é adaptativo, mas o mais legal de utilizar é o botão do volante que alterna os modos de condução entre Normal, Sport, Sport Plus e configurável individualmente. Ao centro desse botão aparece o curioso e útil botão de ultrapassagem, que posiciona todos os sistemas de potência e controle para o desempenho máximo por 20 segundos.
Pela central multimídia é possível ajustar a altura da suspensão e selecionar os modos de condução fora de estrada, visto que o veículo está preparado para enfrentar desafios maiores, não só em termos de pista, mas também de motoristas.
Conclusão
O Porsche Cayenne Cupê Turbo GT é o topo de gama da linha de suves grandes da Porsche que tem preços a partir de R$ 630 mil, e passa de R$ 1,3 milhão nesta configuração testada. A lista de opções configuráveis é bem completa, deixando com que cada proprietário tenha o veículo ao seu estilo e gosto pessoal.
Como já foi visto, esta versão testada é um carro para poucos e podemos facilmente dizer que é um superesportivo em carroceria suve-cupê, quase um sleeper para os desavisados.
GB
FICHA TÉCNICA PORSCHE CAYENNE TURBO GT | |
MOTOR | V-8 a 90º, dianteiro, longitudinal, bloco e cabeçotes de alumínio, duplo comando de válvulas, corrente, 4 válvulas por cilindro, ajuste contínuo de fase e de levantamento de válvulas Variocam Plus, desativação ativa de 4 cilindros, dois turbocarregadores com interresfriadores, pressão de turbocarregamento relativa 1,6 bar, injeção direta, pressão de injeção 250 bar, gasolina, octanagem requerida 98 RON |
Cilindrada (cm³) | 3.996 |
Diâmetro e curso (mm( | 86 x 86 |
Potência máxima (cv/rpm) | 640 / 6.000 |
Torque máximo (m·kgf/rpm) | 86,7 / 2.300 a 4.500 |
Taxa de compressão (:1) | 9,7 |
Corte de rotação (rpm) | 6.800 |
Densidade de potência (cv/L) | 160,1 |
Densidade de torque (m·kgf/L | 21,5 |
TRANSMISSÃO | |
Tipo | Transeixo dianteiro com câmbio automático epicíclico de 8 marchas,trocas manuais sequenciais por borboletas no volante ou pela alavanca seletora, tração integral,distribuição de torque variável entre os eixos |
Relações das marchas (:1) | 1ª 4,71; 2ª 3,14. 3ª 2,11; 4ª 1,67; 5ª 1,29; 6ª 1,00; 7ª 0,84; 8ª 0,67; ré 3,32 |
Relação de diferencial (:1) | 2,95 |
SUSPENSÃO | |
Sistema | Pneumático de 3 câmaras, gerenciamento ativo com definição esportiva de abaixamento, estabilização antirrolagem ativa |
Dianteira e traseira | Independente, multibraço de alumínio |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, eletroassistida indexada à velocidade |
Relação de direção (:1) | 12,2 (no centro) |
Diâmetro mínimo de curva (m) | 11,6 |
FREIOS | |
Tipo | ABS, hidráulico servoassistido com duplo circuito dianteiro-traseiro, assistente à frenagem, freio de estacionamento eletromecânico |
Dianteiros (Ø mm) | Disco carbocerâmico ventilados, pinça monobloco de alumínio , de 10 pistões / 440 |
Traseiros (Ø mm) | Disco carbocerâmico ventilado, pinça monobloco de alumínio de 4 pistões / 410 |
RODAS E PNEUS | |
Dianteira | Rodas de liga de alumínio 10,5J x 22, pneus 285/35ZR22 |
Traseira | Rodas de liga de alumínio 11,5J x 22, pneus 315/30ZR22 |
CONSTRUÇÃO | |
Tipo | Monobloco de aço, suve-cupê, 4 ´portas, 4 lugares, subchassi dianteiro e traseiro |
AERODINÂMICA | |
Coeficiente aerodinâmico (CX) | 0,36 |
Área frontal (m²) | 2,84 |
Área frontal corrigida (m²) | 1,022 |
DIMENSÕES (mm) | |
Comprimento | 4.942 |
Largura sem/com espelhos | 1.995 / 2.194 |
Altura | 1.636 |
Entre-eixos | |
Bitola dianteira/traseira | 1.689 / 1.686 |
Distância mínima do solo | 164 |
PESOS E CAPACIDADES | |
Peso em ordem de marcha (kg) | 2.220 |
Peso máximo admissível (kg) | 2.765 |
Capacidade de carga (kg) | 545 |
Peso admissível no teto (kg) | 75 (com sistema Porsche de transporte no teto) |
Pese rebocável (sem/com freio (kg) | 750 / 3.500 |
Capacidade do porta-malas (L) | 549 / 1.464 com o banco traseiro rebatido |
Tanque de combustível (L) | 90 |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h (s) | 3,3 |
Aceleração 0-160 km/h (s) | 7,7 |
Aceleração 0-200 km/h (s) | 12,2 |
Retomada 80-120 km/h (s) | 2,2 |
Velocidade máxima (km/h( | 300 |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL WLTP | |
Consumo médio (km/l) | 7,1 (ponderado 55% cidade, 45% estrada) |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
V/1000 em 8ª (km/h) | 69,2 |
Rotação a 120 km/h em 8ª | 1.730 |
Rotação à vel. Máxima em 6ª | 6.460 |