Esse foi foi o recado, ou alerta, de Keith Crain, presidente da Crain Communications e editor-chefe da publicação Automotive News, referência mundial em cobertura da indústria automobilística, e sua irmã Automotive News Europe. O leitor ou leitora do AE certamente conhece ambas de tanto que reproduzimos matérias de uma ou de outra.
O título desta matéria, “Não invistam em motores a vapor”, foi a manchete da Automotive News de 15 de janeiro de 2018, primeiro dia reservado à imprensa do Salão de Detroit, no qual estava o jornalista e colunista Fernando Calmon, que guardou um exemplar.
Isso cinco anos atrás, quando já se falava de carro elétrico, mas ainda bem longe do “bombardeio” de hoje. Mas seu conhecimento de automóvel, de sua história, e da indústria que o produz com certeza impeliu Keith Crain dar o recado-alerta:
“Muito tempo atrás, as pessoas estavam convencidas de que o motor a vapor seria a escolha da nascente indústria automobilística. Mas apesar dos seus grandes esforços, o vapor ficou longe dos chicotes das carroças e silenciosamente morreu.
Não se surpreenda se a energia elétrica por baterias seguir o mesmo caminho. Qualquer um que examine um carro elétrico de perto, rapidamente concluirá que embora baterias possam ser uma solução de curto prazo, elas não se prestam para o longo prazo. Elas não acumulam energia suficiente e levam tempo demais para serem recarregadas.
Para uso local ou regional as baterias até podem ser adequadas, mas não se fala em viagens longas, a menos que se tenha tempo de sobra ou bons livros para ler.
Baterias são a resposta imediata para os que estão convencidos de que a eletrificação dos veículos é o futuro, algo que ainda está por ser decidido. Ao consumidor caberá o voto final, a não ser que governos ao redor do mundo proíbam os carros de motor de combustão interna.
Híbridos são uma solução para os problemas de alcance e recarga, mas esta alternativa ainda depende primariamente da energia do petróleo com pequena ajuda de baterias. Usar dois motores independentes pode ser uma eficiente maneira de propulsionar um carro ou caminhão.
A verdadeira solução está noutro lugar. À medida que os carros elétricos forem se sofisticando, a indústria precisará de alguma coisa que ainda não foi desenvolvida ou comercializada.
Apesar de haver muitas possibilidades, a única solução que faz mais sentido é a célula a combustível.
Temo-las usado nos programas espaciais décadas. Elas já foram à lua e voltaram várias vezes, e não existem postos de recarga lá.
As células a combustível ainda estão bem distantes da comercialização, mas há algumas empresas, inclusive fabricantes de autoveículos, despendendo muito tempo e recursos financeiros no desenvolvimento de células a combustível para veículos elétricos.
Ninguém tem certeza de qual acabará sendo a fonte energia para veículos elétricos, mas uma coisa é certa: não será a de baterias.
Se os consumidores estão desejosos de trocar o motor de combustão interna pela eletrificação, está para ser comprovado, mas fica cada vez mais óbvio que as baterias são uma solução temporária. O jogo não acaba aí.”
A superioridade do motor elétrico
Acho que essa superioridade é indiscutível, basta pensar em trens, elevadores e motores de compressor dos refrigeradores, mas parodiando o conhecido mote da Pirelli, “Potência não é nada sem controle”, o motor elétrico não é nada sem uma fonte de energia segura e contínua. As limitações dos carros elétricos a bateria, desnecessário repetir.
Ferdinand Porsche admirava a eletricidade desde adolescente, empregou-se na empresa austríaca Lohner & Co, ainda bem jovem e com 25 anos projetou um carro elétrico a bateria com um motor em cada cubo de roda dianteira que foi uma das grandes atrações da Feira Mundial de Paris em 1900.
Ferry Porsche descreveu seu pai como “uma pessoa que desprezava soluções simples e aceitas. Suas recusas em ouvir os outros causou-lhe problemas a vida toda. Tendo começado sua carreira como projetista de veículos elétricos, ele teimosamente insistiu com a tração elétrica mesmo ficando claro que os carros a gasolina eram o futuro”.´
Com um detalhe: jamais os carros elétricos foram ´proibidos, ao contrário da imposição irresponsável do parlamento europeu em proibir a venda de carros de motor a combustão após 2035 devido as emissões de
CO2.. Como se estas cessassem subitamente de 2036 em diante. A medida está levando a uma disrupção na indústria automobilística sem precedentes e inimaginável.
Keith Crain acertou em cheio ao dizer que as baterias são uma solução temporária e ao falar na célula a combustível. Esta já é uma realidade desde 2014, ano em que a Toyota lançou o sedã Mirai de célula a hidrogênio. A Honda apresentou o FCX Clarity de mesma propulsão em 2008, lançou-o em 2016, mas deixou de produzi-lo em 2021, um dos vários reflexos da pandemia da covid-19.
A tecnologia existe, há a possibilidade de o hidrogênio ser produzido a bordo a partir do álcool por meio de reformador em estudo pela Nissan com cooperação da Unicamp. As vantagens são evidentes: zero ansiedade de alcance, reabastecimento em minutos nos mais de 35.000 postos de combustíveis no Brasil, onde a venda de álcool existe há 40 anos e que poderão passar a vender hidrogênio sem constituir problema maior.
Esse é o futuro.
BS
A coluna “O editor-chefe fala” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.