A eletrificação é o inexorável futuro do automóvel. São muitos argumentos apontando para o motor elétrico como sucessor do térmico: sua eficiência é insuperável quando comparada com qualquer motor a combustão, seja à gasolina, álcool, gás ou diesel. Seu “combustível” (eletricidade) pode vir de fonte renovável. Além disso, não exige manutenção alguma, ao contrário das enormes complicações (e despesas) geradas pelo motor a combustão.
O Brasil é ideal para o carro elétrico, pois a recarga de sua bateria na tomada vem de uma eletricidade “limpa”: usinas hidrelétricas, fotovoltaicas ou eólicas. Ao contrário da Europa, por exemplo, que tem energia elétrica gerada principalmente a partir de usinas de carvão ou diesel. Ou seja, o carro não polui por onde passa, mas onde se produz a energia para movimentá-lo.
Entretanto, tão cedo o carro elétrico não emplaca para valer no nosso mercado. São várias razões:
– Ainda é inacessível por seu custo (R$ 150 mil o mais barato);
– Impossível ser o único carro da casa pelo limitado alcance;
– Dificuldade de se implementar uma infraestrutura de recarga pela grande extensão territorial e também pela baixa adesão ao elétrico;
– Incerteza de seu futuro no mercado de usados.
Quais as soluções?
– O carro híbrido com bateria recarregável por fonte externa pode ser uma alternativa, por não ter custo tão elevado. Seu alcance em modo elétrico é suficiente para o dia a dia de quase todos os motoristas. E de consumo de combustível reduzido;
– Flex? Está comemorando 20 anos desde seu lançamento em 2003, mas ajudou pouco na nas emissões de CO2
que aceleram o efeito estufa. Pois já rodam quase 85% de automóveis no Brasil com esta tecnologia, mas a gasolina ainda representa 70% do consumo nacional, contra apenas 30% de álcool.
O que pensam as fábricas?
Algumas, como Stellantis, Volkswagen, Honda e Toyota decidiram investir no híbrido, uma solução interessante para o país. Chinesas e coreanas investem no híbrido e no elétrico. A GM do Brasil está numa sinuca de bico: a matriz decidiu não passar pelo híbrido e pular direto da combustão para o elétrico. A filial aqui não tem como escapar deste caminho e a única marca que tenta contestar o incontestável, para defender a política estabelecida em Detroit. A Ford não produz mais no país e importa híbridos e elétricos.
As contas feitas pelos especialistas indicam que o carro movido a álcool tem emissões (do poço à roda) idênticas ou inferiores às do elétrico. Então, a maioria de nossos engenheiros e executivos do setor estão convictos de que o carro a álcool — por enquanto — é solução mais adequada, seja no carro a combustão, seja no híbrido. Ou no elétrico alimentado por célula a hidrogênio obtido a partir do álcool. por meio de reformador, mas que ainda não está pronto.
Medo do álcool
Entretanto, existe uma barreira para que o álcool se torne “o” combustível do nosso automóvel: o motorista desconfia dos produtores de álcool depois de inúmeras demonstrações (desde o fim da década de 80) de instabilidade nos preços e fornecimento do derivado da cana-de-açúcar.
O flex surgiu exatamente pelo medo do brasileiro em ter na garage um carro que só pode ser abastecido com álcool. Motores assim projetados seriam mais eficientes por não precisarem funcionar com os dois combustíveis. E nossa frota iria realmente contribuir para a descarbonização do planeta, pois o álcool não só emite menos dióxido de carbono pelo escapamento ,como a matéria-prima cana-de-açúcar açúcar ainda o absorve no campo ao crescer pela primeira vez ou depois de cortada.
Fosse o governo realmente preocupado com a limpeza ambiental, acionaria mecanismos regulatórios para estabilizar volumes e preços do álcool durante o ano, devolvendo ao brasileiro a confiança perdida neste combustível.
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
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