Luiz Otávio Masiero sempre sonhou em ter um Opala diferente daqueles que via pelas ruas. O interessante é que ele tem 37 anos de idade, e tinha apenas seis quando o último Opala saiu da linha de montagem. Mesmo assim, ele é apaixonado pelo sedã da GM, e já teve outros, mas, quando viu esse atual, foi paixão à primeira vista: esse é o Opala que ele sempre sonhou em ter.
Se formos lembrar que o modelo foi apresentado ao público pela primeira vez no Salão do Automóvel de 1968, e tinha uma carroceria totalmente baseada no Opel Rekord alemão de 1966, é fácil pensar que Luiz Otávio não estava nem nos projetos de seus pais enquanto o Opala já era sonho de consumo dos brasileiros. Seu nome, Opala, dizem, não era exatamente uma referência a pedra brasileira semipreciosa, mas sim a união das palavras “Opel” e “Impala”. Explico abaixo.
O Opala tem uma história interessante: era um carro lançado pela Opel na Europa, com motor de quatro cilindros de 1.698 cm³ e parcos 60 cv e, quando foi pensado pela GM para o Brasil, logo veio como sedã de quatro portas com todas as medidas da carroceria em sistema métrico (suspensão, direção, freios, tudo em milímetros), enquanto o resto da sua mecânica era semelhante aquela do Impala lançado em 1962 nos EUA, ou seja, medida em polegadas (motor, câmbio, cardã e eixo traseiro em polegadas.). O mecânico que quisesse trabalhar nos primeiros Opala precisava ter dois jogos de ferramentas, um para a carroceria e outro para o trem de força.
Mas o carro caiu bem no mercado nacional, e desde 1968 foi fabricado sem interrupção até 1992, por cerca de 24 anos, cedendo espaço ao Omega. Teve inúmeras versões e vários tipos de carroceria, inclusive camioneta, e essa longevidade com inúmeras qualidades do projeto fizeram dele um dos mais queridos da história da nossa indústria automobilística. Por essas e outras, angaria milhares de fãs até hoje.
Entre eles, Luiz Otávio, que encontrou esse Opala azul, tema da nossa matéria, num anúncio na internet. Ele, morando em Sorocaba, SP, descobriu que o carro estava a mais de 420 quilômetros de distância, lá na cidade de José Bonifácio, no estado de São Paulo mesmo. Falou com o proprietário, que logo se adiantou dizendo que o carro tinha vários outros interessados, mas, como o amor não tem fronteiras, Luiz caiu na estrada logo depois para não perder o negócio. Ele viu o anúncio as 23h00, e às 2h da madrugada já estava viajando para lá, onde chegou na manhã seguinte, antes de todos os outros tais “interessados”.
Pechincha daqui, negocia de lá, e negócio fechado! Trouxe, no mesmo dia, o carro para Sorocaba, provando que o amor nesses casos fala mais alto. Mas, o que ele comprou? Qual era a enorme vantagem desse Opalão em específico? Vamos ver…
Raro, este sedã foi vendido em dezembro de 1991 já como linha 1992. Ao contrário da grande maioria, que era da versão topo de linha Diplomata, o carro que ele achou era um Comodoro equipado, de fábrica, com o motor 250 (4,1 litros), seis cilindros em linha e câmbio manual de cinco marchas (a rara caixa Clark CL2205B), que era a grande novidade da linha 1992 e só existiu nela. Como o Comodoro e Diplomata, na época, tinham preços próximos, a maioria partia logo para o mais completo, ainda mais falando de um carro que estava em final de ciclo.
O Diplomata já tinha bancos em couro, câmbio automático e por aí vai, fora o motor 4,1 de série. Poucas unidades saíram nessa configuração específica do carro de Luiz Otávio, e menos ainda estão em condições como as do carro dele: ótimo estado, com pouco mais de 70 mil km, manual do proprietário e chaves-reserva, carroceria íntegra, pintura original, etc.
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O dono anterior, que comprou o carro de uma loja focada em modelos especiais localizada em Curitiba, não estava muito satisfeito com o quão original o carro estava: começou a mexer, principalmente na mecânica, para ficar do jeito que ele queria. Seu 4,1 (4.093 cm³) subiu para 4.359 cm³ com a troca dos pistões originais de 98,4 mm de diâmetro por outros de 101,6 mm (4 pol.) com cabeça plana, mantendo bielas e virabrequim. Com a maior cilindrada unitária, resultado do maior diâmetro dos cilindros, mais os pistões de cabeça plana, a taxa de compressão original de 7,5:1 passou a 8,5:1. O motor passou a funcionar exclusivamente com álcool.
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O cabeçote foi totalmente retrabalhado e polido, com as válvulas de admissão e escapamento aumentadas no diâmetro, para que o motor pudesse aspirar melhor nas altas rotações. Árvore de comando de válvulas e balancins foram substituídos por um conjunto importado dos EUA, também focando nas altas rotações. Na admissão, o velho e confiável carburador, junto do coletor de admissão, cederam lugar a seis cornetas de 48 mm cada, com alimentação feita por injeção eletrônica Fueltech de última geração, modelo 450. Ela comanda, inclusive, o nova ignição eletrônica com três bobinas duplas.
Com isso, estima-se que a potência do motor deste Opala seja de algo ao redor dos 300~310 cv, ainda não foi medida no dinamômetro. O sistema de escapamento também mudou: coletores ganharam confecção especial em aço inox, até o meio do carro, e a saída mudou para a lateral, de forma direta. Mas isso deve mudar: como o Luiz Otávio já é pai e casado, o Opala fica tão barulhento assim (sem silenciador e com saída lateral esquerda), que não permite um passeio tranquilo de final de semana, ainda mais com uma criança dentro. A ideia é voltar a saída para a traseira, com um silenciador em inox no caminho.
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O câmbio Clark de cinco marchas foi outra surpresa: apesar de ser original do conjunto, a caixa foi totalmente desmontada e suas engrenagens passaram por processo de recementação para suportar o torque e potência do novo motor 4.4 preparado. E, claro, isso tornou o câmbio mais barulhento e “chorão”, como preferem alguns, mas ganhando maior resistência e solidez.
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E, na mesma linha de robustez, como o eixo traseiro é um Braseixos com a relação de diferencial 2,73:1 do modelo, bem longa, adequada a um baixo nível de ruído e à economia de combustível, está nos planos do Luiz Otávio está a troca por um eixo Dana 44, mais robusto e com diferencial mais curto (3,08:1), para melhorar ainda mais as arrancadas do Opalão. Externamente, o Comodoro especial 4.4 trocou apenas as rodas aro 15 (popularmente apelidadas de “ralinho” pelo seu desenho raiado, lembrando um ralo de banheiro), por um conjunto 17” com o mesmo desenho das rodas do Diplomata 1992, mas com duas polegadas a mais no diâmetro, e pneus 225/45R17. Além disso, ganhou lanternas traseiras escurecidas, também do Diplomata.
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O interior está praticamente original, com direito aos bancos e laterais de porta em tecido aveludado, volante de três raios com a grafia “Comodoro SL/E”, comandos do ar-condicionado originais, relógio digital no painel, e inclusive o rádio toca-fitas de fábrica, um Chevrolet Andara. Destaque apenas para a tela tátil da injeção Fueltech que informa os parâmetros do carro e permite configurar o sistema de alimentação e ignição, nesse caso fixada na frente do painel de instrumentos original.
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Por fim, suas molas e amortecedores são originais, mas o conjunto foi ligeiramente rebaixado para melhorar a estabilidade do carro em altas velocidades. Segundo Otávio, apesar da dinâmica mais apurada, ele optou por manter o conforto ao rodar, “marca registrada” do luxuoso Opala.
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Muitos de vocês devem estar pensando: “quanto vale um carro desses?”. Segundo algumas fontes, um Comodoro SL/E 250 com câmbio manual de cinco marchas, nessa mesma configuração do carro do Luiz Otávio, deve valer algo ao redor dos R$ 80 a 100 mil. Seguramente, nessa preparação feita pelo antigo dono do carro (só para lembrar, o Luiz comprou ele exatamente assim, já preparado), devem ter sido gastos mais outros R$ 50 mil. Por isso, seu atual dono não aceitou nem a última proposta que lhe fizeram: a troca do vistoso Opalão por um VW Nivus Highline 0-km, de preço público de quase R$150 mil.
Qual o preço de um sonho? Como esse carro vai ficar com o Luiz Otávio para todo o sempre, e ele é a concretização do tal sonho de criança, que se transformou nesse monstro de 300 cv. Definitivamente, não tem preço!
Abaixo, alguns vídeos do carro em movimento, mas, para quem quiser saber do dia a dia do Opalão, ele tem sua própria página no Instagram: @opala4400.
DM
A coluna “Perfume de carro” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.