Para quem é fã da Fórmula 1 que aparece nas telas de tevê, computadores e celulares, a nona vitória de Max Verstappen nesta temporada, conquistada no último domingo, em Silverstone, na Inglaterra, tem todo o gosto de água no chope e areia na farofa.
Quem tenta enxergar algo além desse domínio consegue ver que há motivo para muitas horas de análise e discussão para entender o porquê desse domínio arrasador. Sérgio Pérez que o diga. No resto do grid não faltam motivos de preocupação para Alpine, Haas, Mercedes e, pior dos mundos, Ferrari, que no final de semana foi derrotada por Alex Albon e seu Williams, carro que até algumas corridas atrás era pouco ou nada competitivo…
O clima de festa na Red Bull é restrito a Verstappen e seus amigos mais próximos: prova após prova ele não dá espaço para que alguém duvide do foco e preferência que Helmut Marko lhe dedica. O austríaco é famoso por sua fama de cobrar resultados impiedosamente e foi o padrinho do holandês na F-1, onde estreou aos 17 anos e tornou-se o mais jovem vencedor de um GP em todos os tempos. A primeira de suas 43 foi no GP da Espanha de 2016, quando ele tinha 18 anos e 228 dias; daí em diante o holandês nascido na cidade belga de Hasselt, mas que optou por assumir a cidadania dos Países Baixos, só colecionou vitórias, manobras arrojadas e companheiros de equipe que sucumbiram à sua velocidade.
A lista é longa e quem está na berlinda esta temporada é o mexicano Sergio Pérez, único piloto, além de Verstappen, a ter vencido GPs este ano (Arábia Saudita e Azerbaijão), é atual vice líder do Campeonato Mundial de Pilotos, 99 pontos atrás de Verstappen, que soma 255. Há cinco etapas Checo não consegue chegar à Q3, os 10 minutos finais da prova de classificação, a que define as dez primeiras posições do grid de largada. Com isso, ele é obrigado a fazer sucessivas corridas de recuperação e, mesmo apresentado recuperações notáveis, o pior saldo é a falta de pontos que ele conquista para sua equipe no Campeonato Mundial de Construtores. Se Helmut Marko ainda não fez qualquer comentário sobre isso, Christian Horner, o “team principal” da Red Bull, já declarou que o mexicano tem que aprimorar seu rendimento nas tomadas de tempo e ajudar a colocar seu carro em condição de disputar os primeiros lugares. De uma coisa Pérez pode estar seguro: Horner já admitiu que não vê nenhuma chance de colocar o australiano Daniel Ricciardo em seu lugar…
Referência absoluta de supremacia na categoria durante quase uma década, desde o ano passado a Mercedes não encontra o caminho para recuperar essa condição. O projeto do modelo usado em 2022 foi um fracasso inquestionável e o carro deste ano não é muito melhor. Resumindo o que acontece: Toto Wolff admite que em “muito breve vamos dar prioridade para o nosso carro de 2024, não temos muita escolha”. Uma leitura mais detalhada sugere que pelo resto do ano o time oficial da marca alemã poderá andar atrás da McLaren, equipe que usa os motores instalados nos carros de George Russell e Lewis Hamilton e cujos pilotos, Lando Norris e Oscar Piastri, terminaram a corrida em segundo e quarto lugares, exatamente à frente de Hamilton e Russell, respectivamente.
Em um box situado entre os da Mercedes e da McLaren, a equipe Alpine viveu um fim de semana movimentado dentro e fora da pista. No asfalto, Esteban Ocon e Pierre Gasly amargaram abandonos por problema técnico e um acidente, respectivamente. No caso de Gasly, seu resultado em Silverstone foi consequência de uma cortesia de Lance Stroll, que bateu na roda traseira direita do carro do francês. Dentro do box a mistura de interrogação e incentivo no que diz respeito à gestão da equipe: o francês Bruno Famin, diretor-gerente da fábrica de motores da Renault, em Viry Chatillon (França), foi nomeado vice-presidente da Alpine para coordenar todas as atividades de motorsport. Se por um lado tal mudança retira parte da autonomia de Otmar Szafnauer, por outro também contribui para que o “team principal” do time francês tenha mais tempo para trabalhar rumo ao objetivo de tornar a Alpine uma marca de ponta em 100 corridas, programa iniciado em 2022.
Ambiente bem menos otimista foi notado no box da equipe Haas, que igualmente viu seus dois pilotos, Kevin Magnussen e Nico Hulkenberg, abandonarem a prova. O time americano estreou na F-1 em 2016 e em seus primeiros anos mostrou potencial para se firmar entre os melhores do segundo pelotão, algo não concretizado. Apesar da resiliência de seu fundador, o industrial Gene Haas, não será uma grande surpresa se a equipe for vendida num futuro nada distante.
Tal opção não passa perto de quem quer que conheça a história da Ferrari. A famosa Scuderia iniciou este ano um novo plano de recuperação, agora sob a liderança do francês Frédéric Vasseur. O ex-diretor esportivo da Sauber substituiu o suíço Mattia Binotto, que em quatro temporadas não conseguiu recolocar a Scuderia no altar desejado pelos seus fanáticos torcedores. Pior, o aproveitamento de Binotto foi pífio: sete vitórias. Maurizio Arrivabene, que antecedeu Binotto, obteve 15 vitórias em igual período. Perguntado sobre o que enxerga na Ferrari atual, Arrivabene deu mostras de otimismo:
“Não comento o trabalho dos outros. A Ferrari é difícil de ser administrada e Vasseur chegou a Maranello há pouco tempo. Devemos dar-lhe tempo para que ele entenda a realidade e saiba como agir.”
Enquanto esse tempo não passa, chega a ser triste ver Charles Leclerc e Carlos Sainz andando atrás de Alex Albon e seu Williams, uma equipe que luta para deixar a lanterna do campeonato, posição que ocupou nas últimas temporadas.
O resultado completo do GP da Grã-Bretanha você encontra aqui.
WG
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