Desde 2019, quando começaram as articulações do Parlamento Europeu para proibir a venda de automóveis e vans com motor de combustão interna a partir de 2035, a indústria automobilística se viu na incômoda situação de “se ficar o bicho come, se correr o bicho pega”. A proposta foi aceita e se tornou lei da União Europeia em março último. Além do banimento, em 2030 as emissões pelo escapamento terão que ser 55% inferiores aos níveis de 2021. Saída da indústria automobilística? Partir para o carro elétrico. Ou encolher. Ou fechar
Plano perfeito de mentes esquerdopatas (não necessariamente só esquerdistas) para gerar dessossego econômico-social e fazer prevalecer a teoria de que o capitalismo é um mal, fracassou.
Tal banimento, batizado de “descarbornização”, é injustificável do ponto de vista técnico.. O “temível” gás CO2, (dióxido de carbono), que age como capa térmica na troposfera e impede a total dissipação no espaço do calor gerado pela atividade humana, estaria ocasionando aumento de temperatura média da Terra e com, isso levando a mudanças climáticas.
Sabidamente, do total de CO2, gerado, apenas 14% cabe aos automóveis, isso todos os automóveis em circulação no mundo, 1,3 bilhão. À medida que a frota mundial vai sendo renovada por veículos menos gastadores — a geração de CO2,tem relação direta com o consumo — como consequência da evolução tecnológica dos motores e também dos veículos quanto a peso e aerodinâmica, a tendência é essa participação diminuir mesmo sem o banimento.
É por isso que o carro elétrico a bateria nunca deveria ser uma imposição velada (banimento do motor de combustão interna), mas uma alternativa de propulsão. Afinal, o carro elétrico tem seus méritos, como dispensar sistema da escapamento, catalisador ,turbocarregador em muitos casos, sistema de injeção de combustível e câmbio, além de ser absolutamente silencioso e muito agradável de dirigir.
Convém lembrar que o carro elétrico teve presença marcante nos vinte primeiros anos do século 20 justamente por essas características. Especialmente quando a partida do motor a combustão tinha de ser feita manualmente por manivela até que o motor (elétrico) de partida chegasse em 1912.
Só que não se muda de combustão para elétrico da noite para o dia, ou num estalar de dedos. Isso todo mundo sabe. Leva tempo, muito tempo e dinheiro, muito dinheiro. Números astronômicos.
Por isso não constituiu surpresa para mim quando o executivo-chefe mundial da Volkswagen, Thomas Schäfer (foto: Autocar), 55 anos, empossado no cargo há exatamente um ano, dirigiu-se online aos seus executivos e gerentes seniores — 2.000 pessoas — dias atrás alertando-os para a dimensão e severidade do problema que a fabricante enfrena para se tornar líder em carros elétricos ao mesmo tempo em que continua a atender os mercados globais com carros de motor de combustão interna. A notícia saiu anteontem no site da revista inglesa Autocar. “Estamos deixando os custos subirem demais em muitas áreas”, disse, e conclamou todos a fazerem “pequenos ganhos”, segundo fontes com informação sobrea as minutas da reunião.
Numa tentativa de enxugar as operações, o chefe da Volkswagen disse que pretende adotar uma nova série de “programas de desempenho” com, objetivo de poupar à empresa 10 bilhões de euros (R$ 54 bilhões) nos próximos três anos. Esses programas já foram discutidos pela mesa diretora.
Schäfer fez um apelo aos seus gerentes no sentido de instigar mudanças visando tornar a empresa mais enxuta e ágil. “Nossa estrutura e processo ainda são muito complexos, lentos e inflexíveis”, disse. Num recado ao seu time de executivos, Schäfer disse que a fabricante “precisa mais do que nunca do espírito de equipe”.
O executivo-chefe de Finanças Patrick Andreas Mayer disse a esses gerentes que “nosso negócio de veículos não vai bem”, antes de descrever a mensagem de Schäfer como “uma última chamada”.
Esses tempos difíceis causados pela “descarbonização” repentina e impositiva certamente não se restringem à Volkswagen.
BS
A coluna “O editor-chefe fala” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.