Antes de entrar no assunto indicado pelo título, permita-me voltar ao assunto suve, maneira de grafar SUV no AE que alguns leitores, bem menos do que eu esperava. repudiaram. Como já disse em várias ocasiões, há siglas que são pronunciáveis, outras não. Quem lê UOL pronuncia uol, quem lê FCA pronuncia F-C-A. Paulistanos pronunciam C-E-T, cariocas pronunciam CET.
Vejo duas pronuncias da sigla SUV: S-U-V e SUV. Herlander Zola. da Stellantis, vice-presidente Sênior da Marca Fiat para a América do Sul e Operações Comerciais Fiat no Brasil, nas apresentações pronuncia SUV, enquanto outros executivos se atêm às letras individualmente.
De tanto ouvir pessoas pronunciarem SUV como um bissílabo, achei que era o momento da acabar com uma sigla em inglês em meio a um texto em português. Era plausível e apropriado aportuguesar a sigla SUV como suve até para leitura em voz alta. Afinal, esse tipo de veículo tornou-se conhecido ao ponto de hoje deter 44% do mercado de carros novos. Ninguém tem dúvida de que tipo de veículo se trata. ao ler suve Muitos falam em radar sem se darem conta que é a sigla de Radio Detection and Ranging (detecção e determinação de distância por rádio)
Suves e crossovers
A confusão é maior quando entra um termo em inglês no texto: crossover. Quem não fala inglês pode entender que se trata de crosso,-vér, (não há acentuação no inglês), Essa palavra significa cruzamento de raças em genética, e só passou a ser empregada para explicar que parece suve mas não é exatamente um devido unicamente a um detalhe construtivo.
O suve, em sua origem, nada mais é que um utilitário esporte, ou seja, utilitário para lazer em vez de ser utilitário para trabalho, com carroceria fechada montada sobre chassi de picape (aportuguesamento de pick-up) e com tração nas quatro rodas, combinado com mais maior distância do solo, para poder chegar com facilidade a locais inóspitos e de acesso precário para quem busca lazer.
Esse conceito nasceu em 1949 com o Jeep Station Wagon, (foto de abertura) considerado o primeiro suve, que aproveitou o conhecimento de tração nas quatro rodas adquirido com o Jeep militar, veículo de total sucesso como transporte básico das forças aliadas na Segunda Guerra Mundial.
Nada impedia que se fizesse um veículo de idênticas aptidões com construção unitária, o conhecido monobloco, que já não era novidade. O Citroën Traction de 1934 e o Opel Kadett de 1936 já eram monobloco. O americano Nash 600 de 1941, também era. Mas a ideia do suve foi aproveitar o chassi e o conjunto motriz das picapes. E deu certo.
O primeiro crossover (carroceria monobloco, lembre-se) foi o Jeep Cherokee XJ, em 1984 e dali em diante o conceito tomou conta. Mas a carroceria sobre chassi de picape não entregou os pontos; o Chevrolet Blazer foi lançado aqui em 1995 e três anos depois surgia a versão 4×4, fazendo jus ano nome suve.
Portanto, constitui preciosismo distinguir nos descritivos suves e crossovers se a diferença é unicamente o tipo de construção, Finalidade e utilização sãs as mesmas.. Bom exemplo é o JLR Defender geração anterior e atual, que passou de construção separada a monobloco e suas aptidões off-road não foram afetadas, pelo contrário, aumentaram.
Outro exemplo de suve monobloco (portanto crossover) é o Lada Niva, de 1970, que criou uma legião de admiradores nos cinco anos em que esteve por aqui aqui, (1990 a 1995).
Uma coisa e certa, se os suves tivessem continuado a ser de construção separada, nem de longe seriam o que são hoje, hatchbacks anabolizados com comportamento em curvas que de utilitário não tem nada.
BS
A coluna “O editor-chefe fala” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.