Nunca o automobilismo brasileiro desfrutou de tanto prestígio na FIA, a Federação Internacional do Automóvel, entidade que comanda o esporte dos carros em todo o mundo. Esse estágio amplamente favorável para o Brasil foi confirmado durante o congresso internacional da entidade, realizado na Guatemala e encerrado no dia dia 3 de agosto último, que contou com dois atos que enobrecem o automobilismo brasileiro.
O trabalho cumprido pela Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) recebeu o reconhecimento da FIA com a conquista do “Prêmio José Abed”*, entregue ao presidente da CBA, Giovanni Guerra, pelo presidente da FIA, Mohammed Ben Sulayem, como entidade que mais se destacou com ações que contribuíram para o desenvolvimento do automobilismo no continente latino-americano. Em sua primeira edição, o ”Prêmio José Abed” passará a ser disputado todos os anos com entrega no encerramento do Congresso Americano da FIA.
Para a escolha do “Prêmio José Abed”, da FIA, a entidade internacional levou em consideração aspectos como liderança na geração de conhecimento, destaque regional e intensa atuação em benefício do esporte e da mobilidade automobilística da América Latina. Para concorrer, cada confederação foi convidada a apresentar um ou mais cases sobre importantes ações da atividade em cada país. A CBA concorreu com o projeto “FIA Girls on Track Brasil”, trabalho executado pela Comissão Feminina de Automobilismo (CFA), presidida pela piloto Bia Figueiredo.
A vice-presidente de esportes da FIA para a América do Sul, Fabiana Ecclestone, afirmou que a entidade tem visto com alegria o aumento do número de mulheres cumprindo funções técnicas e de liderança no automobilismo brasileiro. Segundo ela, o trabalho realizado pela iniciativa “FIA Girls On Track Brasi”l tem grande parte deste sucesso, atraindo maior interesse feminino nas mais diversas posições de trabalho, seja de engenharia, comunicações e marketing.
O “FIA Girls on Track Brasil” foi criado em 2021 e, desde então, vem desenvolvendo ações e programas, inclusive com a criação, este ano, de uma Comissão Feminina de Automobilismo. Entre as principais ações promovidas estão:
• Seletiva de kart oferecendo para as vencedoras a participação da Copa Brasil 2023 com tudo pago;
• Formação do programa interno destinado a engenheiras, mecânicas e estudantes que sonham em trabalhar no automobilismo. São cinco eventos do automobilismo, como Stock Car, Truck e Porsche Cup, para que as selecionadas possam fazer parte de uma equipe de competição durante todo o final de semana, incluindo ajuda para custeio de despesas básicas no período;
• Participação feminina na delegação brasileira que disputou no ano passado o FIA Motorsport Games;
• Formação de grupo de mulheres para visitar e conhecer os bastidores da Fórmula 1 e Fórmula E em São Paulo.
O ato mais importante outorgado à CBA, também anunciado por Mohamed Ben Sulayem, foi a criação do escritório da FIA na cidade do Rio de Janeiro, primeiro do mundo fora do continente europeu, com responsabilidade por todas as atividades automobilísticas realizadas no continente latino-americano.
Novo escritório da FIA
O novo escritório da FIA será, a partir de setembro, o contato regional com todos os países da América Latina, com o objetivo de fortalecer o vínculo das entidades internacionais e facilitar a comunicação, com prontas respostas e perfeita clareza pelos idiomas semelhantes, menores diferenças de fuso horário e maior proximidade regional. O representante da FIA no Rio de Janeiro é o administrador de empresas Renato Correa, brasileiro fluente em vários idiomas e responderá a Fabiana Ecclestone e ao vice-presidente de esporte para a América do Norte, Daniel Coen.
Mesmo não tendo atualmente nenhum piloto em duas das principais categorias mundiais, o Brasil destacou-se pelo relacionamento internacional, organização, modernização do esporte e a criação de novas categorias, ampliando as opções para a formação de uma nova geração de pilotos, como ocorreu na década de 1970, quando o Brasil foi reconhecido pela FIA em trabalho realizado pelo ex-piloto Antônio Carlos Scavone, que colocou o país no calendário da Fórmula 1.
Não tive oportunidade de conhecer o presidente Giovanni Guerra, mas os comentários a seu respeito são plenos de elogios pelas ações positivas, conduta pessoal e a forma que se dedica para manter o automobilismo nacional com prestígio sempre elevado.
O sucesso conquistado por uma pessoa muitas vezes é classificado como sorte, mas os êxitos obtidos pela gestão Giovanni Guerra são frutos do trabalho da equipe que formou. No campo internacional é reconhecido pela imagem de dirigente que formou uma equipe séria, competente e com os olhos focados em resultados positivos, com a modernização do esporte, criação de novas categorias e ações que contribuíram para o desenvolvimento do automobilismo nacional.
Outro exemplo desse trabalho reconhecido é a atualização de regulamentos para fácil interpretação pelos fiscais, juízes de pistas e também comissários técnicos e desportivos. Sob responsabilidade de Sérgio Berti, membro do Conselho Técnico Desportivo Nacional (CTDN), a CBA completará, nesta semana, um curso de especialização com o objetivo de ampliar os conhecimentos das regras das corridas, o que repercutirá em mais uma avaliação positiva para o automobilismo brasileiro.
AE/Luiz Carlos Secco**
*José Abed, falecido em junho do ano passado, mexicano, engenheiro mecânico e civil, foi piloto de motocicletas e carros e defensor do automobilismo no seu país e na América Latina Promotor da Fórmula 1, presidiu a Organização Mexicana do Esporte Automobilístico Internacional (OMDA) e foi vice-presidente honorário da FIA.
**Luiz Carlos Secco é jornalista, assessor de imprensa e junto com seu filho José Carlos edita o podcast “Muito Além de Rodas e Motores” A partir desta participação inaugural, Secco pai terá presença regular no AE.