Erros dos fabricantes de automóveis acontecem e são intrigantes. Exemplos não faltam. Eis um deles.
Em todo carro pode-se ligar lanternas com motor desligado para sinalizar o veículo à noite quando necessário. No início de 2003 comprei um Celta Super 4-portas e da concessionária fui direto a um posto para abastecê-lo, pois é prática (condenável) entregar o carro 0-km ao comprador com tão pouco combustível que muitas vezes o veículo para por pane seca antes que ele tenha oportunidade de abastecer, o que constitui infração de trânsito (CTB,, Artigo 180, infração média, quatro pontos na CNH e multa de R$ 130,16). Quando fui concessionário VW na Rio de Janeiro, de 1968 a 1978, todo carro novo era entregue com cinco litros e o cliente era avisado para que ficasse tranquilo, pois dá para rodar cerca de 40 quilômetros.
Como era quase noite, liguei faróis. Ao parar ao lado da bomba desliguei o motor, como sempre se faz. Nisso note, intrigado, que a iluminação do quadro de instrumento desligou. Liguei ignição e a luz dos instrumentos acendeu. Trapalhada da GM de primeira grandeza engendrada por algum esperto. que desconhecia a obrigação de manter luzes ligadas ao parar o veículo para embarque/desembarque, à noite, em zona de estacionamento proibido (só parada breve para esta finalidade), portanto numa faixa de rolamento.
Caso o motorista fizesse questão de manter o veículo sinalizado naquela situação e precisando abrir o porta-malas, solução tinha: levar a chave-reserva no bolso. evidentemente um contrassenso só.
No Celta Super de ano-modelo anterior que eu havia comprado para minha filha essa “melhoria contínua” ainda não havia sido aplicada….
Claro, reclamei com a GM e me foi dada a explicação do porquê da modificação do circuito elétrico: ao desligar o motor todas as luzes eram desligadas, evirando esquecer o farol ligado que geralmente leva à descarga total da bateria. dependendo do tempo em que os faróis ficam ligados e/ou o estado da bateria.
Nesse ponto o esquema elétrico dos Volkswagen era superior, os faróis sempre foram chaveados via ignição, de moto que ao desligar o motor só os faróis deligavam, e como o consumo de lanternas e iluminação da placa é bem menor que o dos dois faróis — 25 watts versus 70 watts — a bateria demora bem mais a descarregar.
O melhor arranjo de todos era o do Fiat Uno: ao desligar o motor desligavam-se todas as luzes, ideal para, por exemplo, deixar o carro no estacionamento de um aeroporto, situação em que muitas vezes se está com pressa. e poder-se esquecer as luzes ligadas. Mas foi previsto manter luzes ligadas intencionalmente, para isso bastando apertar uma lingueta junto ao interruptor de ignição/partida, girar a chave e retirá-la.
Na minha vida testando automóveis dei um vexame justamente nessa questão da lingueta. Numa viagem noturna com um Uno Mille de teste, no tempo da revista Oficina Mecânica, o trânsito parou demoradamente devido a um acidente. Desliguei o motor e todas as luzes externas desligaram-se. quando o que eu queria era manter as lanternas ligadas Achei errado e no texto na revista critiquei essa “deficiência” — para alguns dias depois receber uma carta do assessor de imprensa da Fiat com uma cópia da página do manual do proprietário que explicava o esquema da lingueta….
O mais curioso foi pouco tempo depois um membro da equipe de redação, mais velho do que eu (não foi o chefe Josias) me perguntar para quê servia aquela lingueta….
Quanto à GM, os fiz entender que a mudança não permitia atender o bom senso, muito menos o CTB, e que por isso eu exigia uma solução. Dali a poucos dias me encaminharam a uma concessionária para um técnico da fabricante “desatualizar” o chaveamento das luzes, o que só levou um dia.
Antes de ir ao posto, ainda na concessionária, outra supressa: ao abrir a bandeja do cinzeiro sob o painel, um adesivo bem visível, em amarelo, avisava “Não coloque cigarros aqui”. O time de depenação havia retirado o cinzeiro naquele ano-modelo. Tive que comprar um!
BS
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