Após finalmente se consolidar no mercado norte-americano, a Fórmula 1 vive neste fim de semana um momento importante para o seu futuro de curto e médio prazo. A disputa do GP dos EUA (foto de abertura) no fim de semana, abre espaço para encontros importantes entre patrocinadores locais interessados em aderir à categoria, fomenta a discussão em torno da discutida entrada da Andretti como décima-primeira equipe da categoria e certamente vai esquentar a verdadeira situação de pilotos para o ano que vem.
Não foram poucas as tentativas da F-1 se firmar nos Estados Unidos, que até 1960 teve até a icônica prova 500 Milhas de Indianapolis como parte do seu calendário, mesmo que praticamente nenhum piloto dessa especialidade jamais se aventurasse na categoria de origem europeia. Nem mesmo o prêmio de US$ 100 mil ao vencedor das provas em Watkins Glen, circuito mais tradicional nos calendários de 1960/70 e situado ao norte de Nova York, conseguiu catalisar o interesse local. Mais recentemente, os texanos fizeram de Cota (sigla em inglês de Circuito das Américas), a aposta mais forte. A tentativa teve sucesso relativo e somente com o apoio do governo local foi possível evitar a falência do complexo.
A grande virada veio mesmo com a chegada da Liberty Media, grupo ligado à comunicação e entretenimento que adquiriu os direitos da F-1 do seu outrora irremovível dono, Bernie Ecclestone. O investimento deu certo e alavancou propostas em outras áreas do esporte, como o atual programa de valorização do futebol no país do basquetebol, beisebol e futebol americano. A contratação do argentino Messi para atuar em um time de Miami é a prova disso.
Voltando à F-1, após pular de galho em galho, situação caracterizada por provas disputadas em locais tão distantes e diferentes como as ruas de Dallas (Texas), Detroit (Michigan) e Long Beach (Califórnia) e e até mesmo num traçado alternativo no autódromo de Indianápolis (Indiana), o atual calendário 2023 da categoria conta com provas na pista do Cota, nos circuitos urbanos de Las Vegas e Miami. Não se tem notícia de que um país tenha tido três etapas do campeonato mundial em um mesmo ano e o número ainda pode aumentar.
Nos últimos dias foi divulgado que Patrick Mahomes, Trevis Kelce (dirigentes do Atlético de Kansas City, time de futebol americano) e o golfista Rory McIlroy optaram por investir na equipe Alpine através da Outro Capital, empresa de gerenciamento de capital. Tal interesse reafirma o crescimento da categoria nos EUA.
Para que isso aconteça será preciso crescer ainda mais e a adesão da família Andretti ao hoje seleto grupo de equipes que disputam a F-1 pode contribuir para tanto, apesar da oposição dos 10 times já consolidados. De maneira quase unânime os controladores das equipes alegam que um novo concorrente vai diluir os lucros de suas franquias, criar problemas logísticos e de instalação nos autódromos e apelam para uma velha máxima do futebol, aquela do “em time que está ganhando não se mexe”.
Ocorre que o poderio da família Andretti, fundado pelo veterano Mario, imigrante italiano nascido em Montova (atualmente parte da Croácia) parece subapreciado pelas equipes da F-1. Ele ganhou cidadania estadunidense no ano que conquistou o título mundial pela Lotus, em 1978, e hoje atua como o embaixador de um conglomerado que disputa várias categorias, explora centros de kart indoor de motor elétrico espalhados pelos EUA, tem ligações consolidadas com diversas marcas, conseguiu o apoio da General Motors para representar a Cadillac (marca de luxo do grupo) na F-1 e está construindo uma ampla e imponente sede em Fishers, ao norte de Indianapolis e prevista para ser inaugurada em 2025. Este empreendimento marca o nascimento da Andretti Global, nome que indica claramente a região na qual a equipe pretende atuar. E não há nenhuma categoria automobilística mais global que a F-1…
Se as equipes ainda dificultam a abertura de espaço para a família Andretti, a FIA já aceitou sua inscrição na F-1, ainda que enfatizando que a aprovação depende do aceite das dez equipe em atividade. Além das causas já citadas para tal rejeição, deve-se considerar o fato que algumas equipes estão em processos de recuperação — tanto competitiva quanto econômica —, e até mesmo abertas para trocar de mãos. No primeiro caso está a Williams, atualmente controlada pela Dorilton Capital, fundo de investimento privado com sedes na Europa (Londres) e Estados Unidos (Houston e Nova YorK).
No segundo grupo podem ser incluídas a Haas, do empresário norte-americano Gene Haas e a Aston Martin, controlada pelo canadense Lawrence Stroll. Adicionar um concorrente ao grid vai, em princípio, afetar o valor desses empreendimentos em situação menos estável que os grandes times da F-1. Guenther Steiner, diretor esportivo da Haas, usou até mesmo a pandemia da Covid-19 para justificar sua posição:
“Eu gostaria de voltar a 2020 quando a gente se comunicava por videoconferência enquanto a pandemia atacava e quatro times questionavam se estariam ativos na temporada seguinte ou não…”
WG
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