Minha coluna deste domingo foge do tema-chave do AE, que é o automóvel e o autoentusiasmo, É uma das prerrogativas deste cargo que ocupo desde a aurora do AE em agosto de 2008. Faço-o por indignação. Veja o motivo.
Jornalistas & Cia é um boletim semanal online dirigido aos profissionais da imprensa e agências de publicidade. O boletim nasceu m 1995 como fax e se chamava Fax Moagem. Era enviado às redações, mediante assinatura, contando o que se passava no meio, quem foi para onde, até quem faleceu. É uma ferramenta de excepcional utilidade para os profissionais da imprensa.
Foi uma brilhante iniciativa do jornalista Eduardo Ribeiro que frutificou e passou para a mídia eletrônica quando a internet se consolidou.
Em 2014 o Jornalistas & Cia. instituiu o “Prêmio +Admirados”, separadamente para jornalistas, profissionais de comunicação das fabricantes e times de comunicação destas. Tanto o boletim semanal quanto o “+Admirados” estão consagrados e mais fortes do que nunca. graças ao trabalho incansável de Eduardo Ribeiro e de sua valorosa e competente equipe.
Eu mesmo fui escolhido +Admirado Jornalista da Imprensa Automotiva em 2020, o que me deu muita alegria. O fato, é claro, rendeu uma pequena matéria aqui no AE.
Este ano, surpresa
Quando Eduardo Ribeiro divulgou o “Prêmio +Admirados Jornalistas Negros e Negras da Imprensa Brasileira”, imediatamente me insurgi contra a ideia, em caráter particular. Apesar de ele justificar o prêmio como parte de um movimento para elevar a participação de jornalistas negros na imprensa brasileira — 20,5% ante 55% da nossa população negra — procurei demovê-lo da iniciativa e lhe disse por quê.
Considero esse prêmio, apesar de revestido das melhores intenções, segregador, racista, ofensivo aos jornalistas negros (como se precisassem desse artifício para serem reconhecidos), totalmente desnecessário e sobretudo inoportuno.
O fato é que os negros não precisam de favoritismo de qualquer natureza para se tornarem mais presentes nas redações, diante das câmeras das emissoras de tevê ou dos microfones das rádios.
Se tiverem capacidade ela transparecerá naturalmente. A cor da pele não tem nada a ver com isso.. Racismo no Brasil pertence ao passado, ficou apenas uma poeira estatística. É por isso que considero o prêmio +admirados negros e negras inoportuno. É ressuscitar um assunto enterrado.
Maria Júlia “Maju” Coutinho, a segunda colocada, passou de repórter de trânsito da TV Globo, a bordo de um helicóptero, a uma das maiores estrelas da casa. A admirada Glória Maria, falecida em fevereiro deste ano, é um exemplo que fala por si só.
A grande vencedora, Zileide Silva (foto de abertura) não o foi por ser negra, mas pela excelência da sua personalidade e do seu trabalho que muitos, como eu, admiram. Tenho certeza de que ela tem consciência disso.
Parabéns do AE à Zileide!
Assista à cerimônia de premiação realizada dia 13 último. Avance até 3min7s, seu início efetivo, e a duração é 3h7min.
Temos o excelente Heraldo Pereira, primeiro jornalista negro a apresentar o “Jornal Nacional” da TV Globo.
Não muito tempo atrás havia um repórter negro da TV Globo que eu sempre via ao vivo nos boxes das corridas de F-1 aqui chamado Abel Neto. Ele dava de dez a zero em qualquer outro (ou outra) pela precisão de informação, concisão, postura, dicção. Ficou na Globo 20 anos.
Falando de F-1, o que dizer do heptacampeão mundial Lewis Hamilton? Terá ele ascendido à categoria em consequência de algum movimento pró pilotos negros? Nunca!
Na corrida presidencial de 2010 “lancei”, por meio de carta de leitor ao O Estado de S. Paulo, a candidatura do ministro do STF Joaquim Barbosa. Sua história é a de um menino nascido de uma família humilde. Não fui o único a querer vê-lo no cargo mais importante do Brasil.
Outro exemplo, e que é próximo a mim, é o do jornalista negro Linoel Dias, durante muitos anos assessor de imprensa da Volkswagen do Brasil. Fomos colegas quando comandei Competições na Volkswagen. Sempre me acompanhava nas provas. Aposentado, está com 89 anos.
Todos deveriam assistir ao filme “Prova de fogo” (The Tuskegee Airmen), de 1995 (foto da capa do DVD), a história real de um esquadrão de pilotos de caça negros formado em 1941 por ordem do presidente Franklin Roosevelt como maneira de combater o absurdo racismo aberto nos Estados Unidos. Eles combateram na II Guerra Mundial, sua principal missão tendo sido escoltar os bombardeiros B-17 nas incursões sobre a Alemanha em 1944. Os pilotos (brancos) dos bombardeiros a princípio não gostaram da ideia, mas não demorou a constatarem a eficiência dos pilotos negros na defesa dos bombardeiros. Numa grande missão de escolta, o comandante do grupo de caça disse aos pilotos na preleção antes da missão: “Vocês não foram designados, vocês foram requisitados!”.
Depois que os pilotos negros começaram o trabalho de escolta, o esquadrão de B-17 não perdeu nenhum avião nas missões de bombardeio da Alemanha.
Cor de pele, mero detalhe.
BS
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