Eu já tinha tratado deste assunto com a matéria: “Salsicha e Ketchup com ‘part-number’ VW?”, nela eu falo especificamente das salsichas VW e do catchup VW, também relato o banimento das salsichas do restaurante que fica no segundo andar do prédio da diretoria. Este é o prédio mais alto da Fábrica Volkswagen de Wolfsburg e é chamado de Markenhochhaus – Prédio da Marca. Ele havia sido previsto já na maquete da fábrica de 1938, mas acabou sendo construído só depois do término da Segunda Guerra Mundial.
Por ser bastante alto este á o prédio da fábrica que se vê de longe, sendo que o logotipo VW é iluminado à noite, disputando esta hegemonia com as chaminés da usina termelétrica que também são avistadas de longe.
A fábrica Volkswagen de Wolfsburg hoje conta com 65.000 funcionários e tem restaurantes, lanchonetes e quiosques onde são servidos alimentos, e que são mais de 30.
Mas porque a “veganização” de um deles causou tanta celeuma? A coisa foi turbinada pela própria Volkswagen que contou com a imprensa para divulgar que estava enveredando para a sustentabilidade através da redução do consumo de carne “cuja produção seria prejudicial ao meio ambiente”. E nesta onda o clube de futebol Wolfsburg patrocinado pela Volkswagen, entrou no jogo anunciando que não serviria mais leite em seu estádio e que sua cantina seria vegana também.
A ação da fábrica e do time de futebol enfureceu a união dos agricultores independentes que chamou para uma campanha de boicote contra a Volkswagen lançando um site: “VW-freie Landschaften” – Paisagens livres de VW, no qual colocam o seu protesto em relação à atitude da Volkswagen, bem como defendem como a sua agricultura é feita, como no vídeo (02:52) abaixo:
Lembrando que praticamente todos os vídeos podem apresentar legendas em seu idioma, pois o YouTube oferece a possibilidade de traduzir as legendas para muitos idiomas (é uma tradução por computador).
Para ativar a tradução de legendas ative a visualização no YouTube e siga os passos abaixo:
Selecione o ícone de legendas (é retangular com linhas de pontinhos), pause o vídeo e:
1) Clique no ícone de configurações abaixo da tela do vídeo (roda dentada);
2) Clique em Legendas/CC;
3) Clique em “Traduzir Automaticamente”;
4) Selecione o idioma desejado. Clique na tecla play e curta o vídeo.
Esta reação de revolta se justifica, pois segundo o site Agrarheute (o agro hoje), a Volkswagen, através de seu departamento de imprensa, atacou a carne disponível no mercado por pretensamente ter hormônios e anabolizantes, e que o leite seria carregado de antibióticos e outros remédios. Isto é veementemente rechaçado pelos agricultores independentes como pode ser visto no vídeo acima.
Uma outra ação dos agricultores independentes foi a de alterar os logotipos de seus carros Volkswagen de maneira a ficar um “V” que indicaria a vitória deste grupo de agricultores contra as atitudes da Volkswagen, que afetaram diretamente o negócio deles, em prol de uma paisagem sem Volkswagens, como se pode ver na foto abaixo:
O tal restaurante “veganizado” do prédio da diretoria também atende a operários da linha de montagem, que consomem muitas calorias em suas tarefas. Isto levou o ex-chanceler alemão Gerhard Schröder, que foi presidente do conselho da Volkswagen, a dar a sua opinião. “Currywurst com batatas fritas é uma das fontes de energia do trabalhador qualificado na produção.” Se ele ainda estivesse no Conselho, esse cancelamento não teria acontecido.
A irritação no meio agropecuário alemão foi a tal ponto que o site Agrarheute fez sérias acusações quanto à honestidade das atitudes de “veganização” que logo tinham se alastrado para a fábrica de veículos utilitários da Volkswagen em Hannover.
Segundo o site Agrarheute a questão é: por que a VW deu esse passo e fez tanta publicidade externa? O argumento de que os funcionários teriam preferido mais pratos vegetarianos e veganos é ridículo. Eles poderiam ter sido oferecidos sem aquele restaurante ter que ficar completamente sem carne.
Ainda segundo o site Agrarheute a resposta é simples: greenwashing — lavagem verde. O fabricante de automóveis lava as manchas de fuligem de seu colete branco e se faz parecer inteligente para o possível próximo governo federal. “Veja o quanto nos preocupamos com o meio ambiente! Estamos até deixando de comer carne porque ela é muito ruim para o clima!”
Como se pode ver o grau de irritação no meio agrário tinha atingido um pico. Mas boa parte dos leitores de jornais fizeram comentários contra o banimento da Currywurst na Volkswagen. E, por outro lado, era voz corrente na imprensa que a meta da Volkswagen era veganizar a maioria de seus restaurantes a médio prazo, o que acabou deixando muita gente enfurecida. A ver se este plano não irá ser efetivamente implementado oportunamente…
Mas, ainda sobre o restaurante veganizado do prédio da diretoria em Wolfsburg, a VW defendeu a decisão na época. “Isso não vai contra a salsicha Currywurst, que continua a ser oferecida em todas as outras cantinas da fábrica”, disse o então chefe de catering da VW, Nils Potthast. Afinal, a VW tem mais de 30 cantinas e quiosques na fábrica – e o currywurst continua no cardápio de todos os demais pontos de venda de comida. Durante a pandemia, a VW até introduziu um serviço de entrega em domicílio para que os funcionários pudessem receber sua Currywurst quando estivessem trabalhando de casa. No final, a VW disse na época que foram vendidas ainda mais salsichas Currywurst do que antes da pandemia.
Mas, como vimos, este assunto causou muita celeuma e mal-estar nos vários setores da sociedade envolvidos.
A salsicha Currywurst derrota a ofensiva vegana
A Volkswagen está perseguindo a mudança para carros elétricos com toda a sua determinação. As coisas são diferentes com a Currywurst, que foi banida da cantina principal há quase dois anos. Em vez de carne havia apenas pratos vegetarianos e veganos. Uma decisão que foi recebida de forma esmagadoramente positiva pelos funcionários na época. E, no entanto, a comida de culto está agora comemorando o seu regresso.
No final de agosto de 2023 o restaurante do Markenhochhaus voltou a oferecer pratos com carne ou peixe. Uma porta-voz da VW disse, quando questionada, que o “desejo atual dos trabalhadores” foi atendido. Os funcionários em Wolfsburg agora podem escolher novamente como querem se alimentar. O prato Currywurst (salsicha Currywurst grelhada, cortada em rodelas com um molho ao curry e servida com batatas fritas, e tudo polvilhado por uma mistura de curry, sal e pimenta) voltou a reinar naquele restaurante.
Pois bem, nem a mudança para carros elétricos está indo lá muito bem, com carros elétricos não encontrando compradores e a produção sendo adaptada a esta situação. E na “veganização”, “tão almejada” pela diretoria da empresa, conforme falas internas e em eventos com a imprensa, as coisas estão retrocedendo.
Mas uma coisa continua firme e cada vez mais forte, a salsicha Currywurst que é produto Volkswagen com part-number desde 1973, ou seja, este ano esta iguaria completa 50 anos de estrondoso e vitorioso sucesso!
E se você for visitar a Fábrica de Wolfsburg, pare num dos quiosques e peça um lanche rápido, e eu adivinho qual será: uma deliciosa Currywurst!
AG
Para esta matéria foram feitas pesquisas nos sites: merkur.de com o trabalho de Simon Mones; schweine.net; agrarheute.com com o trabalho de Sabine Leopold; rtl.de com o trabalho de Aristotelis Zervos; derstandard.de; 24auto.de com o trabalho de Marcus Efler; Wikipedia.
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