O polêmico Elon Musk surpreendeu os acionistas da Tesla, semana passada, com uma declaração teatral: “Cavamos nossa própria cova com o Cybertruck”. O empresário procurava desta maneira exagerada alertar aos acionistas que o lançamento da exótica picape elétrica pode demorar um pouco mais do que o programado o que, conforme especulam especialistas, já começa a preocupar os investidores e também o próprio Musk.
Um dos motivos para este atraso é que o projeto implica em um processo produtivo inédito e desafiador, bem maior do que a Ford enfrentou para criar a F-150 de alumínio. Isso, porque a Cybertruck adota propostas inovadoras como a carroceria em chapas de alta resistência, de aço inoxidável sem pintura, sendo basicamente blindada, da mesma forma que para-brisa, vigia e vidros laterais deverão ser mais resistentes.
Mas apesar da confissão bombástica, o empresário procurou explicar sua afirmação: de que “o Cybertruck é um daqueles produtos especiais que só aparecem de vez em quando. E, por isso, estes tipos de propostas são incrivelmente difíceis de colocar no mercado e atingir volume suficiente para serem rentáveis”. Indiretamente ele estava indicando que o modelo não poderá apresentar nenhuma falha grave para ter sucesso. Por isso o atraso.
Nas projeções otimistas de Musk “apenas” 250.000 unidades poderão ser entregues anualmente na primeira fase de produção que deve ser alcançada até o fim de 2025. Só depois a linha de montagem poderá embalar para atender o desafio de entregar os “proclamados” 2 milhões de pedidos em fila de espera, conforme divulga a Tesla, no que parece ser o veículo mais aguardado da história do automóvel.
Enquanto admitia suas dificuldades, o empresário também surpreendeu ao propor a ideia polêmica da cláusula, provavelmente ilegal, de proibir a revenda da Cybertruck pelo período de um ano após a data da compra, conforme divulgou o site da revista alemã Auto Motor und Sport, que detalhou que Musk pretende evitar a ação dos flippers, apelido nos Estados Unidos para os que compram carro novo apenas para revender por preço maior. Segundo a publicação alemã, a GM teve esse problema com a nova picape GMC Hummer EV e o novo Corvette C8. Como a produção do Cybertruck deverá ser limitada inicialmente, parece que Musk receia que esse risco também existe com seu modelo. Porém, a proposta não deverá ter amparo legal pelas normas de mercado americano.
Deixando de lado os problemas de produção, o Cybertruck ganhou opinião positiva de ninguém menos do que o renomado designer italiano Giorgetto Giugiaro, que em entrevista para a rede americana NPR (National Public Radio), afirmou que a polêmica em relação ao design da picape poderá ajudar a conquistar uma base de fãs. “Quando você sai das normas, quase sempre é visto como uma provocação, mas tem seus admiradores”, disse.
Com sua experiência pioneira no projeto do DMC De Lorean, na década de 1980, Giugiaro conhece bem o assunto, já que a proposta de carroceria de aço inoxidável sem pintura no DeLorean DMC-12 foi muito criticada. Para ele “isso acontece em todas as áreas da indústria, desde móveis até cozinha, etc. Todos querem se diferenciar; é uma necessidade do mercado, e o Cybertruck certamente fará sucesso, tenho certeza. ”
No entanto, o designer de 85 anos não quis fazer juízo sobre o desenho da picape: “Não quero julgar o Cybertruck se bonito ou feio. Mas certamente tem admiradores que desejam um veículo diferenciado, que se destaque”. Como definiu Giugiaro, que inquestionavelmente é um dos designers automobilísticos mais influentes, devem existir muitas pessoas entusiasmadas com a possibilidade de possuir esta máquina de aparência alienígena.
RM