A temporada de 2023 do automobilismo termina com nuances contrastantes nos cenários internacional e local, comparação onde o Brasil leva a melhor. Enquanto a Fórmula 1 (foto de abertura), a categoria mais importante do esporte, vive uma crise conjugal com a Federação Internacional do Automóvel (FIA), entre nós vive-se um período de entrosamento entre a Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) com a entidade internacional e os principais promotores de campeonatos nacionais, algo que há tempos não era visto.
O árabe Mohammed bin Sulayem é o primeiro cidadão não europeu a assumir a presidência da FIA desde a sua criação, em 1946, fato que incomodou eminências pardas, opacas e algumas coloridas em várias camadas do esporte. É provável que a primeira pedra encontrada no meio do seu caminho tenha vindo delas: foi sua primeira atitude prática no cargo providenciar uma análise detalhada da situação econômica da entidade. O resultado não poderia ter sido mais contundente: de posse dos resultados desse estudo bin Sulayem declarou que os recursos disponíveis levariam à bancarrota em quatro ou cinco anos caso uma nova gestão financeira não fosse adotada de imediato. Há poucos dias ele reiterou que a entidade tinha um déficit de US$ 20 milhões, cerca de R$ 100 milhões. Atualmente essa dívida está em torno de US$ 3,3 milhões, ou cerca de R$ 16 milhões.
Cinco dias antes de Sulayem suceder ao francês Jean Todt no comando da FIA, cargo que ele ocupou por 12 anos, o Campeonato Mundial de F-1 terminou de forma atribulada graças à uma atitude que saiu cara para o australiano Michael Masi como diretor de provas da categoria. Apesar da temporariedade do fato ter acontecido ainda sob o comando do francês, o rescaldo caiu no colo do árabe, que segue agindo de acordo com seu propósito.
No que diz respeito à F-1, o “carinho” mais recente entre a categoria e o mandatário foi a bênção concedida publicamente à entrada da Família Andretti como equipe da categoria, algo que os times relutam em aceitar. Tal atitude, porém, reflete o modelo de gestão atual dos times, cada mais profissionais… e gananciosos.
Se as relações de Sulayen com a vitrine do automobilismo mundial não vão bem, o oposto acontece com a América Latina e, em particular com o Brasil. O quartel-general da FIA está situado no número 8 da Place de la Concorde, em Paris, mas quando Max Mosley assumiu a presidência em 1993, o advogado inglês instalou uma subsede em Genebra como prevenção à possíveis interferências da União Europeia no dia a dia da entidade, algo que era visto como uma ameaça cada vez maior. Este ano bin Sulayem foi mais além e abriu o primeiro escritório fora da Europa e que está localizado na sede da Confederação Brasileira de Automobilismo.
Trata-se de uma vitória do atual presidente da CBA, Giovanni Ramos Guerra, que tem em Fabiana Ecclestone — esposa do outrora mandante da F-1 Bernie Ecclestone — uma aliada de primeira linha. Após 12 anos de uma inoperância jamais vista na história da confederação, Guerra conseguiu recuperar a relação com os promotores de campeonatos brasileiros e incentivando gestões cada vez mais profissionais e eficientes. EM 2024 o País receberá três eventos de campeonatos mundial: uma etapa do campeonato da Fórmula E, do Mundial e Resistência (WEC) e o GP de F-1. Além disso teremos provas continentais de turismo e de kart.
O crescimento do kart, junto com o incentivo às categorias de base, o aperfeiçoamento dos comissários técnicos e desportivos em nível nacional através seleção rigorosa e cursos de formação, compõe um elenco de pontos positivos da gestão do goiano radicado em Imperatriz, no Estado do Maranhão e cujo mandato termina no final de 2024. Até o momento não se nota a formação de uma chapa de oposição para as próximas eleições, marcadas para o final de 2024. O fato de contar com o apoio de cerca de 80% do colégio eleitoral formado pelas 22 federações estaduais reconhecidas pela CBA, porém, deixa claro que Giovanni Guerra deverá continuar no cargo por mais quatro anos.
WG
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