A busca incessante pelo melhor rendimento há tempos deixou de ser uma prática restrita ao ambiente dos autódromos (foto de abertura). É cada vez mais normal a contratação de profissionais que saibam explorar a melhor integração e sinergia de cada funcionário de uma equipe de F-1 e, com isso, tornar toda o ecossistema da empresa mais eficiente. O brasileiro Gil de Ferran (este ano de volta à McLaren) o italiano Luca de Meo (presidente do Grupo Renault) e o inglês Pat Fry (diretor técnico da Williams) exploraram esses recursos recentemente na esperança de abreviar a distância que separa suas equipes da invencível Red Bull.
Gil de Ferran é, sem dúvida, o que melhor se saiu nessa movida. Em entrevista publicada recentemente na revista Curva3, o brasileiro explicou como retornou à McLaren e qual é o escopo do seu atual cargo na tradicional escuderia. Segundo ele, não existe uma bala de prata que vai resolver todos os problemas na estrutura de uma operação como a da sua equipe: “Eu atuo como um consultor e trabalho diretamente com o Andrea Stella (diretor esportivo) e o Piers Thynne (diretor operacional), faço parte da liderança da McLaren. Eu acompanho todos os processos do time e analiso as oportunidades que podem melhorar alguma coisa nele. Estamos falando de muito trabalho, entrosamento, abertura…”
Com uma carreira consolidada no automobilismo internacional e há tempos vivendo no Exterior, Ferran está apto para identificar qualidades que independem da origem de cada funcionário: “Eu diria que não existe uma questão de educação ou nacionalidade. Na F-1, por exemplo, tem gente de todo o canto. Eu trabalhei em equipes dos Estados Unidos e da Europa e posso dizer que as diferenças entre um profissional do automobilismo americano ou europeu tem mais a ver com a cultura da equipe em si do que da nacionalidade de cada indivíduo. Na McLaren eu lido com o Italiano Andrea Stella, com o inglês Piers Thynne, com o estadunidense Zak Brown e por aí afora.”
Depois de uma experiência com a McLaren em 2018, Gil de Ferran focou seu trabalho na equipe de Indy. Este ano, após a transferência de Andrea Seidl para o projeto de F-1 da Audi, o brasileiro foi chamado por Stella e Brown para um novo projeto. Tudo indica que sua ajuda foi válida: após um primeiro semestre de rendimento medíocre, o time terminou a temporada apresentando rendimento superior à Ferrari e à Mercedes.
Um processo mais radical marcou a temporada da equipe Alpine, marca esportiva da Renault. Mesmo terminando a temporada de 2022 em quarto lugar, o time francês perdeu Fernando Alonso par a Aston Martin e australiano Oscar Piastri, em quem tinha investido alguns milhões de dólares em sua formação, para a McLaren. Disputas internas geraram um processo que culminou este ano com a dispensa do triunvirato que comandava a operação: o estaduninese de origem romena Otmar Szafnauer, o inglês Pat Fry e o francês Laurent Rossi. Quando isso aconteceu Luca De Meo não titubeou em se deslocar até a fábrica, localizada em Enstone, para acalmar os ânimos e garantir que o projeto de F-1 estava seguro.
Seu novo ajudante de ordens, o também francês Bruno Famin, explicou ao site inglês Motorsport.com que as deficiências da equipe iam além das atualizações nessa base dedicada à fabricação e manutenção dos carros, e a de Viry-Chatillon, na França, onde são fabricados os motores: “Com as mudanças que efetuamos no meio da temporada conseguimos fazer com que as pessoas se abrissem, se comunicassem melhor. Posso dizer que hoje estou muito satisfeito com a mudança de mentalidade que atingiu todo o nosso time. Marcamos mais pontos na segunda fase do campeonato e agora precisamos manter o embalo.”
A equipe Williams não titubeou em contratar Pat Fry assim que ele se desligou da Alpine. A contratação foi parte do plano de recuperação desenvolvido por James Vowles, ele mesmo um ex-funcionário da equipe Mercedes, e contratado pela Dorilton Capital, a proprietária do time fundado por Sir Frank Williams. O objetivo de Fry é restaurar o espírito de equipe, algo que se tornou rarefeito nos últimos 10 anos.
“A primeira coisa que estou fazendo”, explicou Fry, “é definir as ferramentas e tecnologias para os próximos cinco anos. Em uma equipe que há anos estava desprovida de recursos financeiros, cada departamento tinha uma visão própria e não enxergava a empresa como um todo.”
Tal como pregam Ferran e Famin, Fry também defende que o melhor caminho é trabalhar no desenvolvimento de cada colaborador e incentivar uma mentalidade vencedora. Diria que, nesse processo de voltar a vencer corridas, esse é o ponto mais fácil de identificar e o mais difícil de ser realizado”.
WG
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