No meu conceito, todo autoentusiasta deveria ter condições de ter cinco carros na garagem para saciar todas suas vontades e paixões pelo automóvel. Quando digo condições, não são só as financeiras, pois cinco  carros são cinco vezes de despesas e capital investido, mas tem que ter espaço e principalmente tempo para poder curtir suas paixões.

Minha lista é composta assim:

1 – Suve médio para viajar com a família. Todos bem acomodados e a limitação de porta-malas dos suves pode ser compensada com bagageiro de teto.
2 – Hatch compacto do tipo esportivo, ou um esportivo puro-sangue para passar um dia na pista ou num rali com os amigos e/ou companheiro(a).
3 – Sedã para o dia a dia. Não há nada mais prazeroso do que o conforto de um sedã 4-portas. E pensar que no Brasil dos anos 70-80 carros 4 portas eram odiados.
4 – Veículo 4×4, pois por mais que goste do asfalto, um autoentusiasta de verdade gosta de um dia de adrenalina no barro e na poeira.
5 – Picape para ter a versatilidade de ajudar os amigos ou familiares no carreto básico ou possibilidade de levar consigo seu hobby, que pode ser moto, kart, gaiola, jet-ski, barco, bicicleta e tantos outros.

E quando falo em 5 é para ficar no básico, pois certamente um autoentusiasta ainda é capaz de identificar a necessidade do sexto, sétimo até o enésimo carro na garagem.

A nova picape Rampage R/T, com preço sugerido de R$ 277.490 seria uma ótima opção para compor essa lista, pois além de entregar a versatilidade da caçamba e o bom espaço interno, ainda tem um desempenho que surpreende a qualquer um. É a picape com motor a gasolina mais veloz fabricada no Brasil, pois faz 0-100 km/h em 6,9 segundos e tem velocidade máxima de 220 km/h.

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Motor Hurricane 4

O motor 4-cilindros a gasolina de 2 litros turbocarregado faz jus ao seu nome traduzido para o português, furacão: entrega 272 cv de potência máxima a 5.200 rpm e torque máximo de 40,8 m·kgf a 3.000 rpm. A construção do bloco e cabeçote é em alumínio com duplo comando de válvulas no cabeçote, acionamento por corrente, 4 válvulas por cilindro. A taxa de compressão é de 10:1 e o  diâmetro dos cilindros de 84 mm com curso dos pistões de 90 mm proporcionam baixas vibrações de trabalho.

O câmbio automático de engrenagens epicíclicas é o ZF 948TE de 9 marchas mais ré e está acoplado ao motor por conversor de torque. A tração é primordialmente dianteira, com saída de força para o eixo traseiro configurando a tração integral sob demanda. Não há seletor de acoplamento da tração 4×4, mais uma evidência de que a picape é desenvolvida para entregar desempenho em todas as condições.

As trocas de marcha em modo manual são feitas somente pelas borboletas atrás do volante e não há no seletor giratório de câmbio a posição manual. Portanto, sempre que as borboletas são acionadas o câmbio assume a condição de manual por algum tempo, voltando para o modo automático após inatividade manual de cerca de 10 segundos.

Ao ativar o botão R/T posicionado no painel central o modo mais esportivo de condução da picape entra em ação com aumento da carga do volante, maior resposta do pedal do acelerador e alteração dos pontos de trocas de marchas ascendentes. O conjunto fica mais esperto e responsivo e a tração integral passa a entregar mais torque às rodas traseiras, melhorando a tração nas saídas de curvas para uma condução mais esportiva.

E toda essa esportividade vem acompanhada da sonoridade das duas saída de escapamento sob o para-choque traseiro, uma de cada lado. É o conceito de que não basta apenas ser esportiva, tem que parecer esportiva também.

Uso geral

Na semana de testes da Rampage R/T foram mais de 500 km rodados entre cidade e estrada, sempre procurando estar dentro dos limites de velocidade, mas aproveitando a potência para fazer ultrapassagens com segurança, o consumo de combustível acumulado foi de 9,4 km/l. No trecho entre São Paulo e Campinas a 120 km/h o consumo foi de 11,8 km/l (retificando que erroneamente falei no vídeo,10,8 km/l).

O desempenho vem acompanhado de bom nível de ruído interno na cabine. Tanto em velocidades constantes quanto em plena aceleração não se nota nenhuma vibração ou picos de ruídos que possam incomodar os ocupantes. Veja nos gráficos abaixo:

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O espaço interno é bem distribuído e mesmo ao ter que puxar os bancos dianteiros para frente para dar maior espaço aos ocupantes do banco traseiro, o recurso de ajuste de distância e altura do volante permite que a posição de condução ainda seja prazerosa. O ajuste elétrico do banco do motorista é outro recurso de sofisticação na picape.

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Conforto e estabilidade dos bancos dianteiros é muito bom e mesmo em curvas de maior aceleração lateral, dentro do autódromo, a estabilidade do corpo é perfeita. E no banco traseiro o ângulo de inclinação do encosto, que é um item muito crítico em picapes, é satisfatório.

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A usabilidade da caçamba é destacada pelas argolas de armação na parte inferior das laterais (4), facilitando a fixação de cargas baixas, e as argolas na parte superior (4) que permitem maior segurança para cargas altas. O vidro vigia traseiro é desprotegido e a capota marítima é item de acessório. O revestimento de proteção da caçamba é de série.

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O pacote de tecnologia é bem completo com central multimídia bem posicionada ao centro do painel de instrumentos, com pareamento sem fio para Android Auto e Apple CarPlay e carregador de bateria de celular por indução. O quadro de instrumento é configurável, mas como em outros modelos da Stellantis poderia ter caracteres com uma fonte maior, facilitando a leitura. O ar-condicionado de duas zonas tem saídas para os ocupantes traseiro e seis tomadas USB (três são C) estão disponíveis na frente e atrás.

Os itens de auxílio ao motorista presentes na Rampage R/T permitem uma condução mais segura com alerta de ponto cego nos retrovisores externos, controle de cruzeiro adaptativo com frenagem autônoma de emergência. O sistema de permanência em faixa pode ser ajustado em seu modo de assistência em três níveis, o mesmo acontece com o alerta de obstáculo à frente.

24 horas de uso

A Ram promoveu um autodesafio para estabelecer uma marca de distância percorrida em 24 horas de uso em pista. Para isso vários jornalistas foram chamados, incluindo a equipe do AE. Nosso editor-chefe, Bob Sharp, juntamente com o colunista do AE, Fernando Calmon, ficaram encarregados de dar as primeiras voltas em uma das picapes do desafio.

O evento foi na pista de teste do campo de provas da Pirelli em Elias Fausto, SP, no Circuito Panamericano, uma pista similar à um autódromo com curvas de média, alta e baixa velocidade, além de duas retas onde era possível alcançar altas velocidades. Mas por questões de segurança a organização recomendou que os motoristas/pilotos não ultrapassassem 140 km/h. Na reta principal  R/T alcançava com facilidade 170 km/h e na reta oposta, 150 km/h

Fiz meu turno de condução no final da tarde/início da noite. Foram quatro horas ao volante da picape. Fui o piloto convidado que ficou mais tempo ao volante, tendo consumido dois tanques de combustível, com direito a uma parada para reabastecimento, mas sem necessidade de troca de pneus. Os dois dianteiros foram trocados após o meu turno pois já acumulavam 7 horas de uso, e começavam a dar sinais de perda de aderência.

Além de ter sido uma grande oportunidade para conhecer melhor o traçado da pista, foi também momento de explorar a potencialidade da picape em uso extremamente esportivo. As trocas de marcha em modo manual foram utilizadas principalmente para as reduções de marcha em frenagens, de modo a ter a marcha certa para a retomada. As trocas ascendentes ficaram por conta do próprio câmbio ao o motor atingir 5.500/5.600 rpm, 300 a 400 rpm acima da rotação de potência máxima (5 .200 rpm), o que é correto quando o objetivo é máximo desempenho, como se faz quando o câmbio é manual.

Os  freios foram bem exigidos também, mas ao perceber que estavam superaquecendo bastava uma volta com antecipação da desaceleração para que voltassem ao normal e entregasse todo desempenho esperado novamente.

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A estabilidade em curvas é um dos pontos altos da Rampage R/T. Seus pneus Pirelli Scorpion 235/55R19 têm ótima aderência e produzem bom nível de aceleração lateral com leve tendencia a sair de frente. Nas frenagens transmitem segurança e na tração em pista de asfalto seco são perfeitos. Durante meu turno uma chuva leve molhou a pista e mesmo assim o nível de aceleração lateral continuou bem alto e em poucos momentos senti tendencia ao escorregamento ou perda de aderência, mostrando que o limite do veículo ainda não tinha sido alcançado.

Por ser uma prova de durabilidade do veículo, semelhante a uma corrida de longa duração, não se buscou o limite extremo o tempo todo, e foi assim que a picape completou as 24 horas com exatas 24 h:1 min, 22,5 s, tendo percorrido 1.850 km no circuito de 3,4 km, perfazendo uma média horária global de 77 km/h nas 544 voltas.

Conclusão

Essa dupla experiência com a nova Rampage R/T confirmou que se o autoentusiasta ainda não tiver condições dos  cinco carros na garagem, a picape pode fazer o papel do esportivo, dado o desempenho que entrega. E até mesmo o papel de um suve médio, pois dirigir a Rampage R/T sem olhar pelos retrovisores para ver a caçamba, parece que estamos dirigindo um suve médio. A proteção das bagagens fica por conta do pacote de acessórios que o fabricante oferece, que inclui bolsa de caçamba em adição à capota marítima.

E mesmo para o dia a dia, o tamanho da picape Rampage R/T com 5.028 mm de comprimento, 1.886 mm de largura não é empecilho para as manobras urbanas, e seus ângulos de entrada 25º, saída 24,5º e transposição de rampa  23,1º ainda dão versatilidade para uso fora da estrada.

Como foi dito em uma das matérias iniciais do lançamento da Rampage, essa é uma picape do tamanho certo para o Brasil.

GB