Não é de hoje que a disputa entre a Comunidade Autônoma da Catalunha e o Reino da Espanha espouca em diferentes campos, aqui e ali. No esporte a motor a briga vem desde o século passado e se apresenta em tons de emoção e oportunismo. Os dois principais eventos espanhóis de automobilismo, o Rali da Catalunha e o GP de F-1 (foto de abertura) foram criados e gestados por um grupo de entusiastas que se reunia frequentemente no restaurante popular El Rhin, situado no número 2 da Plaza Catalunya. Daí surgiu a Penya Rhin. Penya remete à grêmio, associação, e Rhin, ao rio Reno e seus vinhos da Região de Mosel, próxima à Alsácia francesa. Hoje a F-1 anunciou que o GP da Espanha será disputado em Madrid por 10 anos a partir de 2026.
Pois bem, foi ali, em 1916, que nasceu a ideia de promover, entre outros eventos importantes, o Rali da Catalunya e o GP da Espanha de 1923 e teve seu auge nos anos de 1969, 1971, 1973 e 1975, quando se revezava com o circuito de Jarama, em Madrid, a realização da etapa espanhola da F-1. Uma série de acidentes durante a prova de 1975 decretou o fim do evento nas ruas do Parque de Montjuïc. A partir daí a corrida foi disputada anualmente na pista madrilenha até 1981, quando iniciou-se um hiato de quatro anos de ausência espanhola no Mundial de F-1.
Em 1986, graças aos investimentos das agências de turismo e desenvolvimento da região da Andaluzia, apoiada pela forte indústria de vinhos da região, foi construído o autódromo de Jerez de la Frontera. O primeiro GP nessa pista de 4,216 km foi no dia 13 de abril e teve uma das chegadas mais emocionantes da história da categoria: Ayrton Senna (Lotus-Renault) derrotou Nigel Mansell (Williams-Honda), por apenas 14 milésimos de segundo,
Apesar disso, do clima agradável, boas gastronomia e infraestrutura turísticas, o local nunca chegou a figurar entre os 10 melhores do calendário que na época já se expandia e nesse ano contava com 17 etapas. Um novo investimento da comunidade catalã permitiu construir um autódromo que durante anos foi considerado referência por suas instalações e padrão de construção. Situado na região de Montmeló, próximo à rodovia que liga Madrid à Figueras de Salvador Dali e à fronteira sudeste com a França. Desde então Barcelona se firmou como a pista de testes da categoria, prática desaparecida justificativa de contenção de custos, cortesia do inverno ameno que permitia desenvolver os modelos de cada nova temporada.
Desde então não foram poucas as vezes em que os barceloneses se viram atacados pelas demandas financeiras para manter a corrida em Montemeló e resistir às tentativas de fazer a prova retornar para Madrid ou para Valência, que recebeu o GP da Europa entre 2008 (vencido por Felipe Massa) e 2012. Atualmente, o Circuito Ricado Torno (motociclista espanhol morto em 1998) recebe uma etapa do Mundial de MotoGP.
Desde que a Liberty Media adquiriu o controle da F-1 a definição dos locais das corridas foi revista e hoje tende a privilegiar pistas em centros urbanos, prática que Bernie Ecclestone usava com parcimônia: nos seus tempos apenas as australianas Adelaide e Melbourne, Mônaco e a tentativas malogradas de firmar a F-1 nas ruas de Dallas, Detroit e Phoenix foram exceções. Atualmente, Las Vegas, Miami, Singapura e agora Madrid compõem uma lista que poderá incluir Londres no futuro próximo e, quem sabe, reviver o malogrado projeto de um traçado de rua em Hanoi, no Vietnã. Nessa atual diretiva, Interlagos está em vantagem: é um autódromo situado dentro de uma megalópole.
O GP da Espanha de 2026 será disputado na região próxima ao parque de exposições IFEMA, ao lado de Barajas, onde está situado o principal aeroporto do país. Isso garante o acesso fácil por transporte público através de linhas de trem e metrô já construídas e a disponibilidade de uma rede hoteleira bem montada para atender às demandas dessa região de pequenas e médias empresas. Este quadro fortalece a movida da F-1 em anular em 100% a emissão de CO2. Igualmente, as garantias e vantagens financeiras — detalhes jamais revelados — certamente ajudaram a levar a F-1 de volta à Madrid por dez anos. O circuito utilizará um misto de vias públicas e trechos construídos para esse fim e a proposta inicial inclui um percurso de 20 curvas e 5,47 km de extensão.
Negociações para manter Barcelona no calendário a partir de 2026 estão em andamento, o que reforça outra tendência, a de aumentar ainda mias o calendário que este ano terá 24 etapas. Aguardemos os próximos capítulos.
WG
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