No monumento em homenagem a JK no final da Esplanada dos Ministérios em Brasília (foto), lê-se:
DESTE PLANALTO CENTRAL, DESTA SOLIDÃO QUE EM BREVE SE TRANSFORMARÁ EM CÉREBRO DAS ALTAS DECISÕES NACIONAIS, LANÇO OS OLHOS MAIS UMA VEZ SOBRE O AMANHÃ DO MEU PAÍS E ANTEVEJO ESTA ALVORADA COM FÉ INQUBRANTÁVEL E UMA CONFIANÇA SEM LIMITES NO SEU GRANDE DESTINO.
JUSCELINO KUBITSCHEK DE OLIVEIRA
02/10/1956
Até parece que o CNPE (Conselho Nacional de Politica Energética) terá mesmo um grupo de trabalho “para analisar tecnicamente e deliberar sobre a proposta de aumentar o teor de álcool anidro na gasolina de 27,5% para 30%”, conforme declarou o ministro Alexandre Silveira, do Ministério de Minas e Energia. Está repetindo afirmação feita por ele mesmo em maio deste ano. Quando o CNPE, aliás — pressionado pela bancada ruralista — aprovou o aumento do teor do biodiesel de 10% para 12% apesar de todos os problemas provocados nos veículos e antes mesmo de qualquer estudo da ANP que avalizasse o novo percentual.
Como cabe ao CNPE (que pertence ao MME) estabelecer a composição dos combustíveis no país, é quem autoriza os percentuais de biodiesel no diesel, de álcool na gasolina, etc.
No caso da gasolina, o “texto enviado pelo governo diz que fixação de percentuais superiores ao limite atual (27%) depende de constatação de viabilidade técnica”.
Pura conversa para boi dormir. Primeiro porque, ao aumentar o percentual de 25% para 27%, o Cenpes (Centro de Pesquisas da Petrobrás) testou a gasolina com vários porcentuais de álcool, inclusive com 30%. E o resultado foi positivo. O que é óbvio, pois nos motores flex, o álcool pode ser misturado em qualquer teor, até mesmo 100%, pois foram projetados para isso. Aliás, postos desonestos já “batizam” a gasolina com percentuais muito maiores de álcool e o motor não reclama, só o bolso do motorista, pelo aumento do consumo de combustível.
O único problema técnico de se elevar mais e mais o teor do álcool está nos automóveis com motor a gasolina, que sofrem com o excesso do combustível verde no tanque. Para quem roda com carro flex (85% da frota), problema é a conta no fim do mês: fosse o Brasil um país de conduta ilibada, o preço da gasolina deveria cair quando se aumenta o teor de álcool, que tem menor poder calorífico. Ou seja, quanto mais álcool, maior o consumo e a conta no bolso do motorista.
Solução para não prejudicar o funcionamento dos motores a gasolina é manter – como já se fez ao aumentar o teor para 27% – a do tipo premium com apenas 25% de álcool anidro.
O resumo da ópera é que o governo faz de conta ser responsável, preocupado com o cidadão e com as emissões de CO2. Anuncia então com toda a pompa um grupo de trabalho para analisar o aumento de álcool na gasolina para só então aprovar a medida. Farsa: duvide-o-dó de que a conclusão não seja assim divulgada: “Depois de profundos e cuidadosos estudos, simulações, análises e testes, este grupo de trabalho conclui que, sim, é possível aumentar para 30% o teor de álcool. E reduzir em tantas toneladas a emissão de CO2, contribuir para a descarbonização do planeta, incentivar o setor agrícola e respeitar a premissa de que o nosso álcool é definitivamente um dos combustíveis do futuro”.
Quer apostar?
Já eu aposto que não foi isso — gasolina com 30% de álcool — que JK quis dizer com “grandes decisões nacionais,”, pois elas nunca visam prejudicar o seu povo.
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” ´é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
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