A temporada 2024 da Fórmula 1 continua surpreendendo de várias maneiras. Nos últimos dias a categoria esnobou o projeto milionário de uma equipe americana, dois times rivais foram unidos pelo mesmo piloto (foto de abertura) e uma acusação contra o líder da principal escuderia do momento pode causar uma reviravolta inédita na história da categoria. Nenhum autor de novela conseguiria criar uma obra com argumentos tão marcantes antes mesmo dos novos carros entrarem na pista. A temporada 2025 da série “Drive to Survive” (Netflix) promete ser das melhores.
A decisão da F-1 rejeitar o pedido de inscrição da equipe Andretti-Cadillac para a temporada de 2026 já era esperada. Os motivos apresentados para tanto, porém, podem ser considerados uma resposta rasa e muito aquém do nível do trabalho e tradição que a família Andretti construiu ao longo de décadas. Entre outras justificativas, alegar que o time não seria competitivo ou não agregaria valor ao campeonato demonstram cinismo e arrogância.
Primeiro porque é impossível prever se um time será ou não competitivo: há exemplos de equipes que venceram em sua primeira corrida e até o campeonato em sua estreia; há outras que estão no grid há anos ou décadas e até hoje não conseguiram sua primeira vitória. A empresa da família Andretti tem tradição e histórico competitivo em várias categorias internacionais, sempre se apresentando como um concorrente de peso. Alegar que tal empreendimento não iria agregar valor à F-1, mesmo com o apoio da General Motors através da marca Cadillac é, sem dúvida, um impropério.
Tal postura visa, eventualmente, aumentar ainda mais o valor das 10 equipes já inscritas no campeonato e, em última análise, tentaria direcionar o investimento dos Andretti a comprar uma equipe como a Haas, que há dois anos tem sido a última colocada na tabela de pontos. Nem mesmo a justificativa de reconsiderar o pedido de inscrição da equipe Andretti para a temporada de 2028 atenua tamanha postura míope e degradante. Pior: a FIA (Federação Internacional do Automóvel) aprovou o pedido de inscrição dos americanos para temporada de 2025, ir contra a decisão da entidade que controla o automobilismo mundial pode muito bem deflagrar uma crise política com alto potencial de danos.
Que a Ferrari queria contratar Lewis Hamilton, nunca foi segredo e é sabido que tentativas anteriores não frutificaram. Alcançado esse objetivo para a temporada de 2025 brotam questões cruciais que envolvem a Scuderia, o inglês, sua atual equipe e, por tabela, os dois pilotos atuais do time italiano, Charles Leclerc e Carlos Sainz Jr.. Partindo do princípio de que Hamilton é o tipo de piloto que se envolve com o desenvolvimento do seu carro, como a Mercedes vai lidar com isso sabendo que em 2025 ele irá correr pela Ferrari? Existirá um acordo de cavalheiros entre o heptacampeão mundial, Toto Wolff e Frédéric Vasseur, os chefões da Mercedes e da Ferrari, respectivamente, para evitar vazamento de informações técnicas e espionagem? Como se desenvolverá o relacionamento de Hamilton com Vasseur durante o ano? Evitarão conversar? Seguramente não…
Fato curioso é que dias antes de a Ferrari anunciar a contratação de Hamilton para 2025 foi confirmada a extensão do contrato atual de Charles Leclerc. Ao que tudo indica o monegasco não sabia da vinda de um novo companheiro de equipe, como informa a Gazzetta dello Sport, jornal italiano considerado fonte mais do que fidedigna no que se refere à notícias da Scuderia. Que Sainz deixa Maranello ao final deste ano não surpreende: é tido como certa sua transferência para a Sauber em 2025 e posição de titular da Audi, que assume a operação do time suíço em 2026.
Ontem a Red Bull anunciou que o inglês Christian Horner, o líder da equipe e seu principal executivo desde a criação da escuderia, em 2005, é alvo de uma sindicância interna. Após a morte de Dietrich Mateschitz, segundo maior acionista da fábrica de bebidas energéticas, Horner envolveu-se em uma luta pelo poder contra Helmut Marko, homem de confiança do empresário, também austríaco. Não foi divulgado o motivo da investigação, mas o site da BBC publicou que “as reclamações se referem a uma alegação de comportamento inadequado de natureza controladora.”
Em 2021 a FIA concluiu que a Red Bull violou o teto de gastos, equivalente a US$ 145 milhões, fato que Horner admitiu ao dizer que essa falta “não afetou a performance da equipe”. Como punição, foi aplicada multa no valor de US$ 7 milhões e a redução de 10% do tempo empregado em pesquisas aerodinâmicas em túnel de vento. Em 2023 a equipe venceu 22 das 23 corridas disputadas e estabeleceu a melhor marca de aproveitamento de uma equipe da história da F-1. Caso Horner, que nega veementemente qualquer ato irregular, venha a ser considerado culpado estaremos diante de uma possível reviravolta na ordem de grandeza dos motivos alegados pela F-1 para esnobar a entrada de uma empresa do tamanho da General Motors.
Sprint Race em novo formato
As seis etapas do calendário de 2024 que terão provas do formato Sprint Race (China, EUA-Miami, Áustria, EUA-Austin, Brasil e Catar), terão novo formato. Nesses eventos a sexta-feira terá uma sessão de treino livre matinal e, na parte da tarde, a prova de classificação para a Sprint Race. No sábado a corrida curta, de 100 km, será disputada pela manhã e à tarde os carros voltam à pista para a prova de classificação que determinará a formação do grid para o GP no domingo.
Sauber apresentou novo carro
A Sauber, que este ano será inscrita como Stake F-1, apresentou ontem o modelo C44-Ferrari, seu carro para a temporada 2024. Projeto finalizado pelo diretor técnico James Key (ex-McLaren), o carro apresenta mudanças importantes no lado técnico, entre elas na suspensão dianteira, que agora usa o sistema pull-rod (haste de tração) no lugar do push-rod (haste de compressão) do modelo anterior. Mais impactante visualmente é o grafismo do carro, que adota as cores preta e verde fosforescente e pintado com pigmentos especialmente desenvolvidos pela Basf para o monoposto. A Williams também apresentou o novo grafismo de seus carros para 2024 e, como em ocasiões recentes, usando um modelo da temporada anterior.
WG
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