Acho, ou tenho quase certeza, que todo motorista tem movimentos peculiares sentado ao volante, hábitos mesmo, automáticos, Por exemplo, ter certeza de que o câmbio está em ponto morto antes de dar partida no motor movendo a alavanca lateralmente algumas vezes para certeza de não haver marcha engatada. Quando meu único irmão ia à minha casa, na hora de ir embora com seu Fusca ’68 eu escutava o movimento — frenético — da alavanca sendo movida desse jeito. Isso eu na sala do apartamento no primeiro andar… Achava engraçado.
Outro hábito de quase todo dono de Fusca era entrar no caro e ato contínuo abrir o quebra-vento. — que quase invariavelmente era equipado com uma trava, muito popular, para impedir arrombamento.
No tempo da primeira marcha não sincronizada era hábito de muitos motoristas, ao pôr o carro em movimento, engatar antes a segunda, que era sincronizada, de maneira a frear as árvores do câmbio e suas engrenagens, e assim eliminar qualquer possibilidade de arranhadas ao engatar a primeira. A sincronização da primeira chegou e muitos continuam a usar o procedimento, Outro dia dei um “flagra” num amigo cujo vídeo mostrava-o dirigindo um Alfa Romeo Spider e engatando segunda antes. “Hábito”, disse-me.
A direção dos carros, de maneira geral, era muito pesada, exceto nos carros americanos que há muito tempo contavam com assistência hidráulica. Caminhão então, nem se fala. No começo dos anos 1990 dirigi um Kamaz, russo, a direção mais pesada que experimentei.
Para aplicar mais força para girar o volante pega-se o aro por dentro de modo a puxá-lo para baixo em vez de empurrá-lo, Mas essa força deixou de ser necessária à medida que as assistências à direção evoluíram, chegando hoje à assistência elétrica. Apesar disso, muitos motoristas continuam a “puxar” o volante, gesto chamado de “ordenha de vaca”, longe da maneira mais eficaz virar o volante de direção.
Nesse vídeo de 21/08/2010, feito num Chevrolet Agile LTZ, mostro isso:
Viu como é fácil? Com um pouco de treino você abandonará o velho hábito, caso o tenha, e passará a ter melhor controle de direção, aperfeiçoando sua técnica de dirigir e se tornando um motorista ainda melhor.
Outro movimento comum do motorista, se bem que tende a diminuir quando o carro tem ar-condicionado e este é usado, é apoiar o braço esquerdo na porta expondo o cotovelo (foto de abertura). Sem dúvida que é confortável e agradável com tempo quente, mas é arriscado em caso de raspão por outro veículo. É um hábito a eliminar em nome da segurança.
Outro movimento que muito se faz é abaixar para pegar algo que tenha caído do banco. Perde-se totalmente a noção de direção e a possibilidade de acidente grave é altíssima. Quando algo cair deve-se parar o carro imediatamente. No caso de fumantes, grupo ao qual pertenço, se uma brasa de cigarro cair jamais deve-se tentar encontrá-la e apagá-la logo enquanto em movimento. É preferível o prejuízo a perder a vida ou ficar com uma sequela.
Um caso muito triste li numa Quatro Rodas alguns anos atrás. Uma mulher se abaixou para pegar laranjas que haviam rolado do banco do passageiro, perdeu o senso de direção e colidiu com um poste. Ficou tetraplégica.
Há outros movimentos que podem levar descontrole do veículo. Um é atar o cinto de segurança com o carro em movimento. Muitas vezes estamos com pressa e iniciamos a marcha sem colocar o cinto para fazê-lo quando houver oportunidade, como ao parar num sinal. Outras vezes, podemos ser tentados a colocá-lo com o carro em movimento. Por mais habilidoso que se seja, deve-se evitá-lo, pois é fácil desconcentrar-se por alguns segundos, principalmente trajando paletó ou casaco.
Outro, ajustar banco e volante com o carro andando. Banco é pior, não se tem controle total do movimento de ajuste longitudinal quando este é manual e seus movimentos podem ser abruptos nos deixando totalmente fora da posição segura para dirigir, em especial com relação aos pedais. Sendo esse ajuste elétrico, porém, não há problema maior.
O ajuste do volante com carro em movimento, quer em altura, quer em distância, não representa problema em si, uma vez que os campos destes ajustes são em geral pequenos e não o afastam muito do volante. Mas enquanto ele estiver solto pode ser complicado fazer um desvio de emergência, razão para esse ajuste ser feito preferencialmente com o carro parado.
Movimentos cuidadosos dentro do carro contribuem para o dirigir & sobreviver.
BS
A coluna “O editor-chefe fala” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.