Agora que o verão acabou, levado pelas águas de março, fico lembrando dos verões passados, nos anos 1660, e dos modelos em que a gente fazia a viagem entre a capital e o litoral e o seu retorno. Especialmente lembro da volta, a Via Anchieta entupida e a gente andando a 10 km/h, quando isso acontecia (foto de abertura).
Era uma tal de primeira e uma difícil segunda. E o carro do lado fervendo, e parando no acostamento, que era muito estreito e o carro parado atrapalhava o tráfego. Um horror!
Eram carros com carburador e o tal do giclê (um parafuso com orifício calibrado que serve para dosar a quantidade de combustível que saí do pulverizador principal. Chama-se “principal” para distingui-lo do pulverizador de marcha-lenta. Quanto menor o diâmetro do orifício, mais pobre será a mistura ar-combustível) que, quando modificado por giclê com orifício menor para consumir menos combustível fazia “ferver” até os Fuscas e afins, com o seu motor arrefecido a ar.
Os arrefecidos a água precisavam contar com a esperteza do seu proprietário que levava um vasilhame, com água, para o momento da sua fervura no radiador, que não podia ter nenhuma, por mínimo que fosse, fissura, ou uma tampa corroída e que já não vedasse bem o sistema.
Hoje os modelos, desde os mais simples aos mais sofisticados, têm não só direção com assistência hidráullica ou elétrica, e ar condicionado. E, a cada dia que passa, aumenta o número deles que têm câmbio automático ou “genérico” dele. E o radiador é lacrado e não usa mais água e sim uma mistura de etilenoglicol e água de 30% a 50%, cujo resultado é o ponto de ebulição ficar bem mais alto que o da água, cerca de 130 ºC em vez de 100 ºC,
Além disso, fora os importados, nossos modelos “Made in Brazil”, não tinham ar-condicionado, nem direção assistida, mas apenas o quebra-vento, que só ajudava a minorar o calor quando o carro andava acima dos 60 km/h, mas, mesmo assim o ar entrava quente pelo carro.
Então, sofríamos muito naqueles nos anos com os nossos Fuscas, Gordinis, DKWs, Simcas e outros modelos menos votados.
A única coisa em que os anos 1960 ficaram em níveis abaixo dos tempos atuais foi a temperatura média dos verões. No deste ano, tivemos médias quase acima dos 40 ºC em diversas regiões, incluindo o litoral de São Paulo, enquanto nos anos dos nossos carburados raramente chegamos a 40 graus.. Raramente.
No quesito tempo de viagem, era igual aos dias de hoje. O volume de veículos era muito menor, mas não existia a Rodovia dos Imigrantes, com suas três faixas largas para subir ou descer a Serra do Mar. Mas as viagens continuam durando entre 4 e 8 horas, nos feriadões.
Agora, cá entre nós, se São Pedro nos mandar um inverno com a mesma intensidade deste verão, acho que poderemos descer a Serra do Mar, pela Anchieta ou Imigrantes, de esquis. E quem for de carro terá que colocar correntes nas rodas para poder trafegar na neve. “Quem viver verá”.
CL
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