Do barulho
1 Gír. Muito bom, notável.
Não é neste sentido, conforme o dicionário Caldas Aulete, gíria bastante comum décadas atrás mas que ouço, pouco hoje, O barulho do título título é no sentido real. Especifiquei o Brasil porque é onde vivemos, mas não dá para afirmar que seja exclusividade nossa.
É intrigante como se produz barulho desnecessário como se tratasse de necessidade. Para tudo, de veículos automotores a festas e outros ambientes coletivos. É como se fosse algo natural, que fizesse parte da vida. Quem o produz provavelmente acha que todo mundo gosta de barulho e quem não gosta fica indiferente ao se ver em meio a uma profusão de sons em nível sonoro elevado.
Um exemplo diz respeito à minha atividade, os eventos de lançamento de veículos, quase invariavelmente com almoço ou jantar. Em toda minha vida profissional, só um jantar tinha música-ambiente em volume que permitia conversar sem precisar gritar. Foi no lançamento do Vectra 3 em 2005, em Brasília. Parabenizei lá mesmo o vice-presidente José Carlos Pinheiro Neto, responsável por relações públicas/imprensa e governamentais da GM do Brasil, por aquele fato para mim até então inédito. Em circunstâncias semelhantes no exterior, sempre a mesma e agradável música-ambiente.
Quando é uma banda com vocalista que se apresenta, pior ainda. Devem achar que som alto é necessário para agradar. Tem uma fabricante (omito o nome) que em toda festa de confraternização de fim de ano, com banda, mal o jantar termina a debandada é geral. Na do ano passado pedi aos anfitriões que baixassem o som (amplificado). Em vão.
Com veículos automotores, mesma coisa. Sistemas de escapamento alterados com a finalidade explicita de fazer barulho, total desconsideração para com os outros, egoísmo absoluto. É inacreditável os que se vê de automóveis, motocicletas e caminhões com escapamento modificado com o intuito exclusivo de incomodar. Noto bastante Harley-Davidsons com escapamento sem silenciador. Até motos de 150 cm³ com escapamento livre faz barulho ensurdecedor.
Mas ruídos não se restringem aos de escapamento. Muitos ônibus de motor traseiro, em especial os articulados (foto de abertura), têm ventiladores de radiador ruidosos demais — este é um bom exemplo de a eletrificação ser bem-vinda. Ou caminhões de motor Diesel que têm um apito — isso mesmo, um apito — depois da válvula de alívio instalado ali só para fazer barulho a cada troca de marcha.
Em 62 anos de propriedade de automóvel, em só um modifiquei o escapamento, mas mantendo o nível de ruído — mais corretamente pressão sonora — original do meu DKW-Vemag 1961. Retirei o silenciador traseiro e coloquei um de utilitário Candango antes da saída de escapamento lateral, como nos DKW de corrida, só para ficar in, na “moda”, coisa de um jovem de 20 anos… Fazer barulho desnecessário, nunca!
Existe regulamentação de pressão sonora máxima para todos os tipos de veículos e da maneira de medi-lo, Quando eu estava na Autoesporte, fazíamos o teste de ruído de passagem (pass-by noise). A medição é feita por decibelímetros e a unidade de pressão sonora é o decibel A (dBA). Para automóveis atualmente o limite é 74 dBA. Os limites variam conforme o tipo de veículo e no caso de motocicletas,, da cilindrada. O ruído de passagem é aquele percebido por pessoas próximas do ponto onde o veículo passa, como transeuntes na calçada.
Se para determina o ruído de passagem é imprescindível o procedimento mostrado na foto acima, fazê-lo na rua para fins de fiscalização é impossível — era, melhor dizendo.
Em matéria que vi ontem no site da revista americana Road & Track, nova câmera de rua com microfones sensíveis que custa a “bagatela” de US$ 34.000, é capaz de detectar e capturar tudo, de escapamentos ruidosos e explosões produzidas por eles, a buzinas e som alto dos sistemas de áudio. E o faz com precisão absoluta, diz a matéria. Não tem escapatória.
Vale a pena ler a matéria, que fala de uma “vítima” com seu Porsche Carrera S 2010 3,8-L normal de fábrica por exceder o limite de 85 dBA, indo a 90,4 dbA. Seu proprietário recebeu em casa uma multa de 800 dólares (R$ 4 mil). Apelou para a justiça e perdeu duas vezes mesmo apresentando laudo técnico independente provando que o 911 estava dentro do limite. de emissão sonora. Caso de “arma” mal usada?
Do ponto de vista de ruído (só de ruído), felizmente não há mais tantos Fuscas em circulação, pois era comum a troca dos dois tubos de escapamento, na realidade minissilenciadores de absorção — tubos furados envoltos por lã de vidro — por simples tubos ocos, de preferência curvados para cima para parecer “carro de corrida”… Nem precisa medir ruído, basta olhar os tubos,
BS
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