Perto do final da década 1990 a Porsche estava à beira da falência. Seu presidente desde 1993 era o engenheiro mecânico alemão Wendelin Wiedekin, Segundo princípio do é agora ou nunca, ele modernizou a produção, inclusive adotando os métodos da Toyota de produção enxuta, triou de linha os poucos rentáveis 928 e 968, de motor dianteiro, e lançou um novo Porsche de motor central-traseiro, o Boxster, em 1998. Aperfeiçoou o 911 e ordenou a construção de nova fábrica em Leipzig, na ex-Alemanha Oriental, para aumentar a capacidade de produção.
Mas Wiedeking tinha mais planos e que, naturalmente, incluíam a nova fábrica. Do outro lado do Atlântico novo tipo de veículo ganhava espaço no mercado americano e na Europa não havia nenhum: o utilitário esporte (SUV, que no AE é chamado de suve). Em 2002 era lançado o Cayenne, agradando em cheio no mercado europeu, embora enfurecendo os fãs de Porsche, eles não se conformavam com o fato de um fabricante de carros esporte de alta estirpe passar a produzir utilitários.
Wiedeking acertou a alvo na mosca. Além de passar a ser o Porsche mais lucrativo na história, da fabricante, a previsão de vendas anuais de 25 mil unidades mostrou-se insuficiente para atender a demanda, levando a Porsche a produzir 40 mil unidade no primeiro ano. Sucesso absoluto que delineou os anos à frente fazendo da Porsche o que ela é hoje. Novos tempos, novos ventos.
Mas Wiedeking sabia que a Porsche deveria fazer um carro esporte superior ao 911. Capacidade técnica e experiência de pista lhe sobravam. Nada de motor dianteiro mais e nada de insistir em motor traseiro. O que ele tinha em mente era um carro de motor central-traseiro de desempenho e comportamento exuberantes. Dois anos depois do Cayenne, em 2004, chegava o Carrera GT. Um enorme roadster de dois lugares, 4.813 mm de comprimento com entre-eixos de 2.730 mm (como o do Omega), 1.921 mm de largura e 1.116 mm, de altura. Seu visual “esticado” (foto de abertura) remete um pouco aos F-1 de hoje,.
Grande porém leve, apenas 1.380 kg em ordem de marcha, dos quais cerca de 66 kg era a gasolina no tanque de 92 litros. O uso de compósito de fibra de carbono foi extenso e incluiu a estrutura monobloco. A exuberância de comportamento não constituiria problema maior para quem já havia domado um potente carro esporte de motor na extremidade traseira e já produzia um de motor central-traseiro, mas a Porsche foi além com sofisticada suspensão típica de carro de competição como molas no chassi atuadas por haste de impulsão (pushrod) e balancim para reduzir o peso não suspenso o mais possível
Para o desempenho igualmente exuberante foi especificado um motor V-10 de 5.732 cm³ (diâmetro dos cilindros 98 mm e curso dos pistões 76 mm), aspiração atmosférica, injeção do tipo no duto, quatro válvulas por cilindro e taxa de compressão 12:1. Disso resultou 612 cv a 8.000 rpm com corte a 8.400 rpm e torque de 60,2 m·kgf a 5.750 rpm. Acoplado ao V-10 ficava o transeixo com câmbio manual de seis marchas — câmbio automático sequer foi cogitado.
O alcances das marchas, trocando a a 6.000 rpm, é: 1ª 73 km/h; 2ª 125 km/h; 3ª 172 km/h; 4ª 218 km/h; 5ª 257 km/h e 6ª 330 km/h. A notar as quedas de rotação nas trocas decrescentes: 1ª-2ª para 4;.675 rpm, 2ª-3ª 5.820 rpm, 3ª-4ª 6.295 rpm, 4ª-5ª 6.800 rpm, mas 5ª-6ª 6.594 rpm (queda maior (provavelmente para poder alcançar velocidade máxima a 8.400 rpm).
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A relação peso-potência 2,25 kg/cv o fazia requerer 3,9 segundos para acelerar da imobilidade a 100 km/h. 6,7 s até 160 km/h, 9,9 s para chegar a 200 km/h e 30 s para atingir 300 km/h — velocidade máxima, 330 km/h. Como gostamos de informar, a 120 km/h o motor girava a 3.000 rpm.
Freios eram a disco carbocerâmicos de Ø 380 mm nas quatro rodas e os pneus dianteiros 265/35 ZR19 e traseiros, 335/30 ZR20. As rodas de liga de alumínio tinham fixação central.
O carro não era exemplo de coeficiente aerodinâmico, seu Cx era um conservador 0,39, mas era compensado pela área frontal de apensas 1,86 m² que resultava na área frontal corrigida de 0,728 m².
Foi lançado nos Estados Unidos em março de 2004 com preço de US$ 440.000 e saiu de produção em maio de 2006 após pouco mais de 1.270 unidades produzidas. A Porsche alegou mudanças das exigências das bolsas infláveis difíceis de serem atendidas. Mas pensando bem era um carro longe de ser prático com seu porta-malas de apenas 76 litros e ser um carro de dois lugares. Era um supercarro feito para ser apreciado e explorado sob mãos competentes.
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