Os tempos foram mudando também para o VW Fusca com as regulamentações de emissões cada vez mais restritivas, um dos fatores de sua retirada de linha de fabricação em 2003 no México, já que seu motor arrefecido a ar, mesmo com injeção, já não conseguia atender aos níveis antipoluição.
Mas antes disto, na Alemanha em 1982, o motor boxer tinha recebido o arrefecimento à água nos “Wasserboxer” (cuja sigla era WBX – Wasser -água; Boxer) dos Kombis T3, de quatro e seis cilindros, estes últimos fabricados pela Oettinger (famosa já nos anos 1950 devido aos kit Okrasa) para a Volkswagen. Também houve uma série limitadíssima, de 16 unidades de VW Super Beetle cabriolé com motor “Wasserboxer” de 4 cilindros adaptados pela Oettinger. Tratei disto na matéria “VW Käfer com motor boxer arrefecido a água?”.
Fato é que, ao contrário dos Kombis T3, não foram fabricado VW Käfer com motores Wasserboxer. Mas os motores arrefecidos a água começaram a ser introduzidos na Volkswagen desde 1970 com o VW K 70, que também marcou o início do uso da tração dianteira na Volkswagen. O que foi consolidado com o lançamento do VW Passat em 1973 e em 1974 do VW Golf Mk1 e do VW Polo Mk1. E o VW Käfer continuava a ser fabricado com motor arrefecido a ar, sua grande “marca registrada”.
Curiosidade: um VW Vocho com um Wasserboxer de dois cilindros
Os setores de engenharia das várias fábricas VW não param, estão sempre desenvolvendo projetos. Nem todos prosperam, mas sempre fica um conhecimento agregado a mais. Provavelmente este projeto visava tanto cumprir a regulamentação de meio ambiente, através do motor arrefecido a água, bem como procurava uma solução o mais barata possível. Talvez para países com requisitos muito baixos de desempenho de condução e conforto sonoro.
Este era um Fusca bege mexicano, fabricado em 1980 em Puebla, México, e foi mostrado ao público no Encontro de Veteranos VW de 1983 em Bad Camberg, Alemanha. Atrás do capô, que possui ranhuras adicionais, há um radiador de água retangular montado e que pode ser girado para a esquerda.
Girando o radiador para o lado esquerdo é possível ver os equipamentos auxiliares e um ventilador elétrico de quatro pás na parte traseira do radiador. A água de arrefecimento era fornecida e escoada do radiador através de mangueiras que não dificultavam o seu movimento de giro. Não há instalações de arrefecimento de água na frente do veículo. A disposição do gerador, bomba de combustível e distribuidor no motor é a mesma do motor do VW Kombi Tipo 3.
De acordo com H. R. Etzold em seu livro “Der Käfer Band III” (O Fusca volume III), a Cosworth, fabricante inglesa de motores, desenvolveu esse protótipo de motor. Ele foi derivado do Wasserboxer de 1,9 litro (78 cv) usado no VW Kombi desde 1982.
Os dados técnicos do Wasserboxer de dois cilindros equipado com pistões baseados no princípio da câmara de combustão Heron são apresentados a seguir:
Cilindrada: 956 cm³
Potência: 33 cv
Diâmetro dos cilindros: 94 mm
Curso dos pistões: 68,9 mm
Taxa de compressão: 8,6:1
A potência deste motor de dois cilindros e, em particular, o torque provavelmente não eram suficientes para o VW Fusca. O nível de ruído e as vibrações geradas pelo motor também dificilmente satisfaziam as exigências dos clientes. Por esse motivo, esse motor provavelmente não passou de uma solução exótica.
O VW Vocho com motor de VW Polo
Este protótipo, hoje em dia, faz parte da exposição rotativa do AutoMuseum Volkswagen de Wolfsburg, portanto nem sempre está à vista do público. Das duas vezes que eu estive lá ele não estava sendo exposto, mas sim guardado num enorme “galpão de preciosidades” que eu bem que gostaria de visitar alguma vez.
Ele fazia parte da tentativa de adaptar o VW Fusca à motorização arrefecida a água, usando um motor de linha, quem sabe assim aumentando o uso deste motor.
Na foto de abertura este carro está com a tampa do motor fechada mostrando as aberturas adicionais, a da esquerda para exaustão do ar que passa pelo radiador de água, como detalho adiante. E a da direita para ajudar no arrefecimento do motor. Detalhe para a luminária da placa que teve que ser instalada alguns centímetros para cima possivelmente devido à borracha de vedação do túnel de escape do ar do radiador.
O motor instalado neste VW Vocho mexicano ano 1984 tem quatro cilindros em linha, arrefecido a água, 1.043 cm³ (75 x 59 mm), que equipava os VW Polo da época, instalado longitudinalmente.
O motor do Polo tinha 45 cv, quase o mesmo que VW Vocho mexicano dos anos 1980, um pouco menos do que os VW Fuscas brasileiros, mas bom o suficiente para dar ao VW Vocho uma velocidade máxima de 132 km/h. O que era, por exemplo, a mesma velocidade que um Super Beetle ’71 poderia fazer (segundo o seu manual do proprietário), e ele tinha um motor de 1.585 cm³ com cabeçotes de dois dutos de admissão e potência de 60 cv.
A maneira como esse motor foi montado no compartimento do motor do Fusca é fascinante; vamos dar uma olhada mais de perto:
O radiador de água é que ficou meio espremido embaixo do motor, protegido por uma grossa chapa de aço, já que a altura livre do solo foi comprometida em vários centímetros com esta instalação, como vemos na foto abaixo:
Havia um ventilador elétrico para forçar o ar passar pelo radiador, que não pode ser visto na foto.
No esquema abaixo foi acrescentado (em laranja) a instalação do motor arrefecido a água, sobre o esquema em preto do sistema tradicional com o motor arrefecido a ar. O radiador foi representado em laranja sólido, e o fluxo do ar de arrefecimento é representado pelas flechas em azul sólido (este não é um esquema oficial da VW, mas uma especulação baseada no que se sabe sobre esta adaptação —trata-se de um palpite fundamentado):
O objetivo desse estudo, que acabou não sendo posto em prática, foi de tentar encontrar uma solução para o VW Fusca atender a padrões de emissões mais rigorosos, bem como, eventualmente, ampliar o uso do motor do VW Polo também para o Fusca. Mas o fato é que no Brasil entre 1993 e 1996 foram fabricados VW Fuscas (“Itamar”) com motor arrefecido a ar e até 2003 foram fabricados VW Vochos também arrefecidos a ar.
Por outro lado, onde o uso de motores de quatro cilindros em linha arrefecidos a água foi implementado em escala industrial e com sucesso foi nos Kombis no Brasil (com o motor do VW Fox nacional de exportação, de 1.390 cm³, 78 e 80 cv (a gasolina e a álcool, respectivamente), utilizado unicamente no Kombi), quando a fabricação dos motores arrefecidos a ar foi encerrada.
Neste caso o radiador foi instalado na frente do veículo com tubos que levavam e traziam a água entre o motor e o radiador. No Brasil esta solução já havia sido usada na versão Diesel do Kombi entre 1981 e 1985.
A sugestão desta pauta foi do meu amigo Yel Feu que me enviou um print do Instagram que permitiu a realização de pesquisas que levaram a esta matéria.
Para ela foram feitas pesquisas em especial nos sites: jalopnik.com com o trabalho de Jason Torchinsky; autocar.co.uk com o trabalho e fotos de Ronan Glon; flat4.de sem a indicação do autor; Wikipedia, etc.
AG
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