Em minha carreira no mundo dos automóveis e na imprensa automobilística creio já ter avaliado mais de 1.300 modelos diferentes ao longo de cinco décadas. Muita coisa, tanto de testes quanto de tempo, de diversos tipos de carroceria, tamanhos, motorizações, e em vários países mundo afora. Desses, alguns totalmente insossos, outros inesquecíveis, tamanha a emoção e o prazer que me proporcionaram. O ronco de um motor, as reações de volante e sistema de freios, as respostas ao comando do acelerador, um câmbio bem escalonado, ou até mesmo conforto, silêncio, espaço interno e modularidade, tudo conta.
Para facilitar essa lista, de quais foram os mais legais, utilizei o critério de separá-los por décadas —1970, 1980, 1990, 2000 e 2010 — escolhendo o carro mais legal e marcante daquele período, seu coadjuvante (aquele que chegou perto de ser o melhor), além daquele que trazia um projeto moderno ou inovador para sua época. Primeiro, os nacionais e depois os importados, a partir dos anos 1990. São três carros bacanas de cada década, daqueles que deixaram saudades.
Anos 70
Sem dúvida, o que mais me marcou foi o VW Passat TS, lançado em 1976. Ela era a versão esportiva do carro que fez renascer a Volkswagen brasileira, que passava dos obsoletos carros de motor traseiro arrefecido a ar e tração traseira para a nova era dos motores dianteiros arrefecidos a água e tração dianteira. Um outro mundo, muito bem explorado nessa versão Touring Sport: unia a leveza ao bom desempenho num carro de design que fazia brilhar os olhos de quem curtia automóveis na época. Seu motor 1,6 com comando no cabeçote foi a primeira geração dos famosos AP, ainda que hoje, em números de potência líquida NBR, ele não tivesse mais que 80 cv, modesta para os padrões atuais. Ainda assim, o carro era leve, e se tornava um verdadeiro demônio nas mãos de quem o soubesse usar.
O coadjuvante, nesse caso, é um trio que brigou acirradamente pela preferência do consumidor na época: , Chevrolet Opala 250-S, Dodge Charger R/T e Ford Maverick GT V-8 302. Todos grandalhões, barulhentos e bons de estrada, permitindo viagens longas boas velocidades médias. Em contrapartida, eram gastadores e sentiam muito as mudanças de direção bruscas ou freadas fortes. Com exceção do Opala, “melhorzinho” dos três quando o assunto era curvas, eles eram bons mesmo era nas retas. Mas tenho que ressaltar que, na aceleração, o Passat TS se metia no meio e dava trabalho para esses três.
Finalmente, o carro de conceito exemplar dos anos ’70 foi, sem dúvida, o Fiat 147, lançado em 1976. O carro trazia um conceito inédito aqui no Brasil: ser pequeno por fora e espaçoso por dentro, tendo sido a pioneira disposição transversal de motor e transmissão para atingir esse objetivo. Uma configuração até então inexistente no Brasil, aliada ao baixo peso e moderno conceito mecânico do hatch de projeto italiano. Foi, na época, o carro mais econômico do país, capaz de percorrer os 14 km da ponte Rio-Niterói com quatro pessoas a bordo consumindo apenas 1 litro de gasolina, como explorado em suas propagandas.
Anos 80
O grande avanço dessa década, mais para o final dela, foi a chegada da injeção eletrônica de combustível ao nosso mercado, e por essas e outras escolhi o VW Gol GTI, de 1988, como campeão do meu ranking. Foi ele o primeiro a ter tal tecnologia por aqui, aplicada num moderno motor 2,0 que contava também com outra novidade, a ignição eletrônica, que além de controlar o avanço de ignição com precisão absoluta, evitava a detonação por meio de um sensor que detectava o indesejável fenômeno, enviava um sinal elétrico para o módulo de comando da ignição e este determinava grande atraso da ignição, que voltava ao padrão aos poucos. Todo o processo era feito em milésimos de segundo.
Esse Gol me encantou, e segue me atraindo até hoje, pela vivacidade ao comando do acelerador, graças à alta taxa de compressão de 10:1 do 2.0 a gasolina, fazendo com que o carro fosse rápido como uma explosão: na pista, cheguei a fazer o 0 a 100 km/h desse carro em 8,75 segundos. Puro prazer de dirigir.
Sem dúvida, outro carro de peso para essa década foi o Chevrolet Monza, meu escolhido como coadjuvante. O sedã foi líder de vendas do mercado brasileiro de1984 a 1986, mesmo sendo médio, superando compactos e modelos populares. Todos queriam um Monza, que teve motor 1,6-litro de 72 cv no início, mas que ficou famoso mesmo com os 1.8 e 2.0. Além de confortável, tinha bom desempenho e dinâmica impecável, típica de um projeto alemão (Opel). Um sonho de consumo do brasileiro médio dos anos 1980.
Nesta década, outro modelo fez furor, o Fiat Uno, lançado em 1984 como substituto do 147, cujo desenho foi assinado por ninguém menos que Giorgetto Giugiaro. Pela sua vista lateral, o hatchback foi chamado carinhosamente de “botinha ortopédica”. Seu inovador desenho proporcionava amplo espaço interno para cinco ocupantes e era marcado pela grande área envidraçada.
O estepe era colocado no compartimento do moto, como no 147, para ampliar o espaço para bagagens. Todos os comando ficavam à mão do motorista, dando um ar moderno e muito prático ao modelo. De tão bom, durou até 2013. surpreendentes 29 anos em produção.
Na próxima semana, não perca a segunda parte desta história: anos 1990, 2000 e 2010!
DM
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