De um lado, fabricantes tirando camionetas de linha. De outro, incontáveis leitores lamentando o fim delas na produção nacional, Soa estranho. Então vem a clássica pergunta: não tem porque não vende ou não vende porque não tem? Nem adianta sondar os executivos de marketing das fabricantes a respeito do sumiço das camionetas, pois a resposta está pronta: não vende, o mercado não quer mais, quer é suve. Claro, vende porque tem.
A história conta que foram fabricados 100.000 DKW-Vemag aqui, em números redondos. O sedã Fissore vendeu bem pouco, o mesmo com o utilitário todo-terreno chamado de jipe, passando a Candango três anos depois. O grosso da produção da Vemag foi o sedã de quatro portas e a camioneta de duas. as vendas foram exatamente meio e meio.
Grandes sucessos de vendas aqui foram as camionetas Corcel Belina e Opala Caravan. As Fiat Panorama e Elba também faziam parte do cenário, junto com Chevette Marajó. A Simca chegou a lançar a Jangada, mas pouco depois passou para as mãos da Chrysler e os americanos não quiseram saber dela — logo quem, os da terra das station wagons. E VW Variant, como tinha! O mesmo com a Parati. Não me consta que as camionetas algum dia encalharam por falta de compradores.
A primeira fabricante a tropeçar nos próprios pés foi a Volkswagen. Em vez de aproveitar o lançamento do Passat em 1974 e lançar a Passat Variant na mesma linha de produção, praticamente os mesmos carros com diferença de carroceria do eixo traseiro para trás, um acréscimo de investimento relativamente pequeno, tomou o bem mais dispendioso caminho de projetar uma nova Variant de motor traseiro boxer
Na época eu era sócio de concessionária VW, vivenciei a chegada do Passat e seu imediato Sucesso. Quando eu soube que estava a caminho uma nova Variant, custei a acreditar Como aquilo era possível? Nas conversas com a fábrica a justificativa mais comum era motor e tração traseiros serem mais adequados nas estradas de terra especialmente se enlameadas. Sei que não foi, mas a decisão me cheirou a sabotagem interna. Como puderam ignorar o sucesso da Ford Belina?
A Volkswagen teve um surto de racionalidade ao lançar a Santana Quantum em 1985, mas nessa aspecto parou por aí. Ainda tentou continuar importando a Golf Varian em 2015, mas precificou-a alto demais.
É dispensável falar das vantagens das camionetas sobre os sedãs. Elas são rigorosamente sedãs em todas assuas características dinâmicas com maior espaço para bagagem. Desvantagens das camionetas? Zero, qualquer que seja o aspecto considerado.
É claro que o elemento moda determina a preferência, e a moda hoje é suve. Em certos círculos tem-se a moda das picapes. Lembro-me que quando entrei para a GM em 1997 os executivos só andavam de Blazer, mesmo podendo usar o Omega ou a camioneta Suprema.
Ocorre que a moda é finita, não dura para sempre. Por isso tenho convicção de que se um fabricantes cometer a “loucura” de lançar uma camioneta hoje, vai se dar muito bem. Por exemplo, uma camioneta Argo. Lembremo-nos que a nossa indústria automobilística enfrenta ociosidade de 40%~50% há dez anos. Espaço para produzir camionetas tem.
A coluna “O editor-chefe fala” é de exclusiva responsabilidade dos seu autor.
BS