Encontro de carros antigos existem ao montes. Aqui e ali, cada vez mais os novos proprietários de automóveis clássicos — ou não — se reúnem nas ruas, nas praças e nos estacionamentos, todos os fins de semana e também em dias de semana. É, a febre dos antigos pegou para valer.
Lembro ainda daqueles anos 70 e 80, quando eu rodava por aí com meu Bel Air 1955 com rodas de liga, o que os colecionadores de verdade simplesmente abominavam, a ponto de impedirem a mim e meus amigos de mesmo gosto de participarem de seus esporádicos encontros.
Carro nacional não era colecionável, e meu Fusquinha 1967 de apenas 10 anos de uso não era antigo nem clássico, era velho mesmo. Mas as coisas mudaram, e radicalmente. Um nacional muito mais novo do que isso já é disputado a tapas (e a dólares). E eles formam um grupo bem especial. Mas às vezes se juntam com os clássicos atemporais.
Foi o que aconteceu neste último sábado, dia 8 de junho, na Quinta da Primavera, um novo condomínio no interior do estado de São Paulo. Em um local excepcionalmente aprazível (sorte de quem vai morar lá), cerca de 300 automóveis formaram o que já está sendo considerado o melhor evento de antigomobilismo do Brasil. Será mesmo? A comparação com os eventos de Pebble Beach, nos Estados Unidos, e Vila d’Este, na Itália, dois dos mais prestigiados encontros de colecionadores de automóveis do mundo, não é exagero. Pelo menos foi o que eu constatei no local.
No caminho para o local do evento, fui acompanhando vários grupos de clássicos em comboio, aqueles colecionadores que não têm receio de colocar seus carros na estrada. É claro que muitos vão transportados, ou porque são antigos demais para rodarem pelas estradas, ou porque fica mais fácil levá-los em plataformas. Entrando no condomínio, na minha frente um Mercedes-Benz 300SL Asa de Gaivota rodava com o motorista segurando sua porta entreaberta. Entendo o porquê: já pilotei esse carro e ele realmente meio claustrofóbico. E o dia estava bem quente.
Ao chegar ao enorme campo gramado em frente ao edifício sede da Quinta da Primavera, saquei da minha velha Canon e… não sabia nem por onde começar. Muitos carros, muito coloridos, por todos os lados, um mais bacana que o outro, em um mar a perder de vista de belíssimos automóveis. A vista aérea pode dar uma ideia dessa visão, mas olhando do chão a história é outra.
Além dos carros, o que se deve celebrar também é a grandiosidade do evento. Tudo excepcionalmente bem organizado, desde a distribuição dos veículos até o serviço de alimentação, disponível em todas as áreas de exposição. Até locais para descanso — e para fugir um pouco do sol — havia em quantidade. Coisa que não vemos nos grandes eventos, maiores e mais populares, como Hershey e Carlisle, nos Estados Unidos.
Depois de clicar muito, de vários ângulos e em várias oportunidades — às vezes é difícil fotografar um automóvel de forma perfeita com tanta gente em volta e a própria posição do sol nos fornece melhores imagens ao longo do dia —, cheguei à conclusão de que não faria uma galeria de automóveis com todas as informações técnicas que gostaríamos, mas sim uma galeria de belas imagens, de carros maravilhosos.
À tarde foi realizado um leilão com 23 automóveis selecionados. Sentei na frente e, confesso, em alguns momentos tive vontade de dar um lance. Nos mais “baratinhos”, logicamente. Mas me segurei. O primeiro lote foi o mais tentador, um Chevrolet Bel Air 1957 preto restomod, ou seja, restaurado com a aparência original mas com mecânica atualizada. Imagine só, no meu tempo de coleção de “beléres”, procurei muito e não achei um 57 sedã duas portas “com coluna” como esse, justamente para fazer isso, em uma época que o termo restomod nem existia, 40 anos atrás. Esse aí estava pronto. E lindo. O Chevrolet 1957 chegou a ter lance de R$ 300 mil e não foi arrematado. Alguns lotes quase chegaram aos 4 milhões de reais.
Depois do leilão, o desfile foi dos carros premiados. O prêmio Best In Show, ou seja, para o melhor automóvel do evento, ficou com um Bugatti Type 57 de 1938. Outros destaques foram o Porsche Carrera RS, que está comemorando 50 anos, o GT Malzoni II, que comemora 60 anos, e o Mercedes-Benz 300 SL, que comemora 70 anos desde a sua criação, em 1954.
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Depois de horas respirando carros e circulando entre eles, sempre acabo fazendo uma brincadeira que já se tornou um costume meu, em salões e exposições, interpelando os amigos que vou encontrando pelo caminho. A pergunta é: “se você pudesse escolher um só carro daqui para levar, qual seria?”
As respostas mais corriqueiras são pelos carros mais valiosos, ou então pelos mais raros, mas o meu carro escolhido nesse dia foi um Ford Galaxie 500 cupê duas portas, sem coluna, de 1966. Vermelho, com motor V-8 big block 427, de 6.997 cm3 e 350 cv, esse verdadeiro muscle-car é um dos carros da minha lista particular de desejos, apesar de que nessa lista figuram também Jaguar E-Type, Aston Martin DB5 e Austin Healey, bem mais fáceis de serem vistos em eventos do que esse Galaxie. E também porque esse Galaxie está muito mais próximo do meu bolso.
Na inviabilidade de mostrar todos os carros do Classic Car Celebration, juntamente com sua descrição, vamos ficar com uma galeria dos mais representativos. Para a lente da minha Canon, logicamente.
GM