Como eu havia prometido, abro aqui um parêntese nas minhas colunas sobre minha viagem de carro pelo Reino Unido e conto aqui sobre minha visita ao templo da velocidade, o histórico Autódromo de Silverstone (foto de abertura). Histórico do ponto de vista formal, porque não tem tanto tempo assim, já que grandes prêmios de Fórmula 1 só foram disputados lá, de forma regular, somente a partir de 1987. quando Brands Hatch deixou de ter condições de receber a categoria.
Mas como Silverstone virou a sede do automobilismo britânico de várias modalidades convencionou-se em chamá-lo de “templo da velocidade’.
Claro que a visita era uma das mais desejadas de todo nosso roteiro tanto por meu marido como por mim, dois verdadeiros autoentusiastas. Assim que decidimos que viajaríamos de férias ao Reino Unido, comecei a pesquisar as alternativas sobre o que poderíamos fazer no autódromo, mas para minha tristeza não há muito.
Pode-se reservar algumas “experiências” que são, basicamente, dirigir alguns tipos de carros mas, suprema decepção, nenhuma delas é na pista onde se disputam os grandes prêmios de Fórmula 1, mas numa onde correm outras categorias.
Bem, pelo menos isso está relativamente claro no site do autódromo. Mesmo assim, eu estava disposta a tentar alguma opção, já que sempre me questiono se voltarei a ter uma chance dessas. Mas não havia nenhuma possibilidade em todos os dias que eu estaria em Londres, nem nos dias em que passaria perto da cidade. Nova frustração.
Fui então procurar quais as alternativas e descobri que apenas poderia comprar ingressos para o museu e para percorrer a Heritage Trail, sobre a qual não há muitas explicações, mas decidi comprar os ingressos assim mesmo. Enviei e-mail com algumas dúvidas e fui pronta e gentilmente atendida. Ponto para o atendimento.
Infelizmente, o autódromo não tem tantas nem tão boas opções para os visitantes como o autódromo da Hungria, o Hungaroring, sobre o qual falei há uns anos neste espaço. Pessoalmente, com tantos anos de experiência em Comunicação e Marketing vejo tantas possibilidades…
Mas voltemos a Silverstone. Logo na entrada do prédio, além da lojinha de suvenires, encontramos vários modelos de carros . Fomos, então, direto para o museu, que é bem bacana. É autoexplicativo e você faz tudo no seu ritmo. Como praticamente tudo o que vimos no Reino Unido, é exclusivamente em inglês, portanto, se quiser fazer esta viagem, nada de “me, Jane, you, Tarzan”. É melhor ter um bom domínio da língua de Shakespeare se quiser realmente aproveitar.
Raríssimos passeios têm alguma opção em outro idioma e por isso entenda-se no máximo acesso a um audioguia em outros idiomas. Nem as visitas e degustações que fizemos, e foram muitas, às destilarias de gim, de uísque escocês, de whiskey irlandês e cerveja tinham alternativa de guia em outro idioma. Nas destilarias na Escócia e na Irlanda os guias fazem a gentileza de não falar com sotaque tão pronunciado durante as explicações — baixam um pouco a guarda nas perguntas — mas apenas isso. O mesmo dos guias nos castelos, igrejas, etc. Tudo exclusivamente em inglês. Ou seja, de novo, se você não domina o idioma, ou perde as explicações ou tem de contratar um pacote com guia no seu idioma.
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Museu de Silverstone: como o circuito era, originariamente, uma pista de aeródromo, há uma boa parte dedicada à aviação e à história do local. Na parte de automobilismo propriamente dito há carros originais, réplicas, capacetes, macacões, troféus, luvas… todas aquelas coisas que queremos e esperamos ver num museu deste tipo. Pessoalmente adorei ver a parte, digamos, técnica, dividida por segmentos. Há uma área para tipos de pneus, outra para tipos de suspensão, motores, caixas de câmbio. entre outros itens.
Além de ser muito didática, adorei poder tocar e testar tudo. A suspensão é especialmente charmosa e mexer nos diferentes tipos de pneu e ver como eles se comportam nos carros é demais. Para mim, era como estar num parque de diversões.
Mas, sinceramente, a melhor parte do museu foi ter parado, meio por acaso, num cantinho onde havia uma mesa com uns papéis e uma charmosa senhora. Tímida como sou (mas não se preocupem, meus caros leitores, estou trabalhando para superar esse meu probleminha…) é claro que me aproximei dela e perguntei o que eram aqueles papéis. Eram os registros de inscrição de diversos grandes prêmios (os originais!!!), com as assinaturas dos pilotos, dados sobre os carros, datas. Bom, saímos de lá acho que uns 30 minutos depois. No mínimo, mas pode ter sido mais. O fato é que o tempo voou. Confesso que me emocionei ao ver as assinaturas de alguns ídolos.
A senhora chama-se Sylvia e foi a melhor parte do museu. Ela sabe tudo sobre esses documentos e nos explicou as coisas com tantos detalhes e tanta paixão que sinto que somos amigas de longa data. Não parávamos de conversar, ela, meu marido e eu, com a intervenção ocasional de outras pessoas do mesmo setor. Foi um tal de pegar documentos para cá, trazer livros, mostrar os originais, as réplicas… Vimos as anotações dos fiscais de várias provas de Silverstone. É engraçado que havia registros até mesmo bobos de tão detalhados, pois os fiscais anotavam tudo mesmo.
Além de sobre os documentos, falamos muito sobre Fórmula 1 em geral. Corridas específicas, manobras, pilotos, fatos de hoje ou de outras épocas…Cada comentário, cada documento puxava outro e assim íamos encadeando um assunto no outro. Depois de tanta conversa, decidi liberá-la do quase sequestro que havia praticado, agradeci (mas sinto que não o suficiente) e seguimos nossa visita. Até porque como tudo fecha cedo na Inglaterra, o museu encerra suas atividades às 16h00 e já estávamos quase na hora, ainda faltava passear pela Heritage Trail, comprar miniaturas de carro na lojinha…Alguns metros à frente,
Sylvia nos alcançou para nos indicar um carro antigo em exposição onde podíamos entrar e tirar fotos (foto ao lado).
Ela estava de saída, mas nos acompanhou à outra área do museu onde estava um carro de Nigel Mansell. Conversamos mais um pouco sobre as disputas dele com Piquet e com Senna e ela nos acompanhou até outra parte do museu para nos mostrar o capacete de Barry Sheene (foto abaixo), piloto britânico de moto. Ressaltou o furo feito nele para que pudesse fumar enquanto pilotava sua moto (como alguém pode fumar correndo de moto, não faço a menor ideia…). Sem ela não teríamos notado isso. Como já disse, de longe foi a melhor parte de nossa visita ao museu. Lamento muito não ter feito uma foto com ela, pois teria sido uma excelente lembrança de viagem.
Com tudo isso, nossa passagem pela lojinha foi a jato. Há muitas camisetas, bonés, pins e algumas miniaturas de carrinhos do tipo que meu marido e eu colecionamos (já falei sobre isso neste espaço em duas colunas, aqui e aqui ) e, claro, as compramos. A visita à Heritage Trail foi, literalmente, uma maratona. Corremos pela grama para poder ver o túnel na Bridge Corner e depois no outro sentido para poder ver um pouco das arquibancadas da pista do circuito da Fórmula 1 e tudo o que foi possível. Como estávamos sozinhos e os funcionários estavam de saída, foi mesmo uma correria para conseguir ver e fotografar uma parte do que a trilha permite, mas destaco que todo o pessoal foi extremamente gentil e paciente com estes dois loucos correndo com câmeras e celulares na mão.
Saímos do museu e entramos no carro para mais um “chorinho” em nossa visita a Silverstone de uma dica muito valiosa que havia recebido. Dentro do complexo há um hotel, o Silverstone Hilton inaugurado não faz muito tempo. No primeiro andar tem uma cafeteria com um belo terraço com vista para… a pista, esta sim, a de Fórmula 1. Claro que lá fomos nós. Pedimos dois cafés, que caíram muitíssimo bem naquele friozinho do final de tarde inglês, e sentamos para curtir a vista dos boxes e da reta de Silverstone. E, claro, tirar mais algumas fotos no Silverstone Hilton.
Havia dois Porsches correndo e, segundo me disse um amigo, não é raro que ao comprar um carro da marca você possa testar o mesmo modelo no circuito, mesmo quando se trata de um veículo de passeio. Não sei se era o caso, mas foi muito legal ver não apenas a pista, mas também ouvir o rugido de motores passando a milhão bem na nossa frente por várias voltas e, depois, se recolherem aos boxes. Foi uma belíssima forma de terminar o dia. Bem, terminar, não exatamente, pois ainda fomos à loja que está ao lado do hotel, e que fecha um pouquinho mais tarde, onde havia ainda mais coisas de corrida e compramos mais um carrinho.
Os cafés que tomamos de frente para a pista e o paddock da mítica Silverstone, o museu, ver os registros históricos dos pilotos, ter conhecido a maravilhosa Sylvia.. Posso dizer que foi um ótimo dia de autoentusiasta.
Mudando de assunto: hoje fugirei um pouco do tema autoentusiasta, mas é por uma boa causa. Semana passada, durante os jogos da Eurocopa, a torcida albanesa resolveu tirar onda com a torcida italiana de uma forma muitíssimo bem-humorada – e os italianos também levaram na superesportiva. Os albaneses levaram pacotes de espaguete e os cortaram, na frente dos aflitos italianos, para sofrimento destes, já que cortar uma “pasta” é praticamente um crime para um italiano. Ah, se as provocações entre adversários fossem sempre assim, divertidas e leves, e os dois lados tivessem esse espírito. Eu, como oriunda, ri de chorar com a cena.
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NG
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