Tem-se falado muito ultimamente em postos de recarga para carros elétricos. Estes postos não são identificáveis num relance, porém são facilmente encontráveis por meio de aplicativos específicos, especialmente no caso de telefones celulares ou para carros que já vêm com wi-fi. Já para carros de motor a combustão é bem fácil há muitas décadas, postos de combustíveis são avistados de longe e sua vasta quantidade dispensa planejamento ao se sair em viagem, por exemplo.
O normal é postos terem bandeia, isto é, fazerem parte de uma rede de companhia de petróleo —“petroleira” — e assim deixado claro tanto pelo visual quanto pelo nome da própria petroleira. E sempre obedecendo ao grafismo e logotipia determinados por esta, somados aos uniformas dos funcionários do posto, em especial os frentistas. Dessa forma o consumidor se sente seguro e, no caso de ser fiel a uma determinada companhia de petróleo, se sente “em casa” ao entrar no posto respectivo. Se sente seguro tanto na questão do atendimento, quanto na qualidade do combustível será colocado no seu carro.
Todo motorista, ou pelo menos a maioria, conhece as companhias de petróleo que atuam no país — Petrobrás, Shell, Ipiranga, Ale, mais recentemente Gulf — porém ao ver um posto sem vínculo com uma petroleira é de se desconfiar de que alguma coisa está errada. Esses postos são chamados de “bandeira branca”
Pior mesmo é ser enganado por um posto disfarçado para parecer fazer parte de uma rede de companhia de petróleo por meio de cores e grafismos. Isso existe (foto de abertura).
É importante o consumidor saber, porém, que não é certeza o visual do posto ter relação com a qualidade de atendimento e dos produtos, da mesma forma que uma concessionária de automóveis não é a fabricante. Erros, más práticas e má fé podem e não raro acontecem. No caso dos postos de abastecimento de combustíveis, eis alguns exemplos conhecidos em postos com e sem bandeira.
1 – “Batismo” – Para aumentar sua rentabilidade, muitos donos de postos adulteram o combustível, aumentando a porcentagem de álcool na gasolina, de água no álcool e outros procedimentos escusos. Mas todos postos são obrigados a realizar, sob pedido do consumidor testes que comprovem a especificação do que entregam.
2 – “Caneta” – Este é muito engenhoso: quando chegam os fiscais para verificar a especificação do combustível, o posto abre uma tampa circular para acesso ao tanque no subsolo. Mas há um artificio para enganar a fiscalização: logo sob a tampa fica o reservatório circular, maior, que contem o combustível correto de onde sai a amostra. Mas um outro de menor diâmetro (“caneta”) sob o maior e que efetivamente conecta a bomba com o interior do tanque e que fornece o combustível adulterado.
3 – “Bomba Branca” – O posto vinculado a uma companhia de petróleo tem seu logotipo estampado na testeira das bombas. Mas a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), que regula este comércio, permitiu que haja uma bomba com combustível de outra procedência, desde que tenha bem visível a identificação do fornecedor. Portanto, é preciso ficar atento esse importante pormenor, principalmente se o preço do combustível fornecido por esta bomba fornecido for atraente. A falta dessa informação nela pode significar combustível de origem duvidosa. Já houve tentativa judicial de pôr um fim a esta aberração, ainda sem sucesso.
4 – “Bandeira Branca” – O posto não vende combustíveis de marcas tradicionais e por isso não ostenta bandeira alguma na testeira, pois o dono opta por não ser vinculado a nenhuma companha de petróleo e assim ele pode comprar do fornecedor de sua preferência. A qualidade independe da distribuidora. Mas o “Bandeira Branca” pode ter combustíveis honestos e os de marca famosa serem adulterados. Eu disse isso mais acima.
5 – “Bomba baixa” – Isso é muito comentado, mas não há provas. Um dispositivo eletrônico oculto configura a bomba para registrar um volume maior do que o realmente entregue. O fiscal não pega, pois ele confere 20 litros no vasilhame oficial estabelecido pela ANP. Só que o truque só é efetivo acima deste volume. Já foi regulamentada pela ANP uma bomba com lacre eletrônico que não permite esta alteração, previsto ser instalado já no ano passado. Mas o Inmetro agiu contra o interesse do cidadão adiando essa obrigatoriedade em cinco anos,
6 – Metanol – É o álcool metílico, extremamente tóxico, importado dos EUA, utilizado em indústrias químicas, de biocombustíveis e outras. Apesar de proibido para uso automobilístico, é misturado ao nosso álcool (etílico) por custar bem menos. Mas provoca mal-estar, diarreia e até cegueira. Já morreram algumas pessoas incautas, no Brasil, que o ingeriram. Só mesmo num exame laboratorial é possível detectar sua presença. A ANP tem lacrado vários postos flagrados com o metanol. Independente dos riscos à saúde, seu poder calorífico é 26,5% inferior ao do álcool etílico (“etanol”), o que resulta em maior consumo prejuízo para o bolso do consumidor.
7 – Dois preços – No cartaz lá fora, preços extremamente convidativos para gasolina, álcool e diesel. Mas, na bomba, só valem caso o cliente utilize o aplicativo ou um cartão específico. Uma promoção ilegal praticada livremente.
8- Aditivação – A gasolina aditivada não é fiscalizada (nem padronizada) pela ANP. O que pode resultar numa gasolina tida como aditivada, mas pouco (ou nada) diferente da comum. Solução? Abastecer com a comum e pôr no tanque um frasco de aditivo detergente-dispersante entre várias marcas encontrados no mercado, atentando para proporção indicada no frasco.
“Dedo de Ouro” – Prática do posto, possivelmente combinada com o frentista: ao verificar o nível do óleo no cárter, aperta uma gota entre os dedos e, com ares de “perito”, explica para o motorista que “o óleo perdeu a viscosidade”. Ou diz que óleo está “preto” e na hora de trocar. Ou calça com o dedo a vareta de óleo para que ela indique nível bem inferior e diz: “Tem que completar”…
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
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