As picapes médias já são, desde há um bom tempo, um caso de paixão. Quem é que não curte uma enorme picape — sim, as picapes médias são veículos muito grandes —, mesmo que inaptas para o dia a dia em grandes centros urbanos? Ainda mais na atualidade, quando elas já trazem bons pacotes de tecnologia, com conforto (relativo) e desempenho.
Depois das picapes grandes, lá nos anos 70 e 80 (Ford F-1000, Chevrolet D20, etc.), os anos 90 nos trouxeram as mais comedidas picapes médias, como Ford Ranger e Chevrolet S10. Aí começou a paixão. Vieram as importadas, depois nacionalizadas, como Toyota Hilux, Nissan Frontier e Mitsubishi L200, Volkswagen Amarok e agora a Fiat Titano. Todas elas têm, agora, sua primeira concorrente chinesa, a picape BYD Shark.
Fui até Goiás, a capital do agro — como eles mesmo se intitulam —, só para conhecer a nova picape média BYD Shark e dar duas breves “voltinhas” no Autódromo Ayrton Senna, em Goiânia, uma na pista principal e outra em uma pista de terra preparada para a ocasião.
Antes de dirigir a Shark, sua visão por fotografias já a definia como um belo veículo utilitário, porém sem qualquer grande destaque visual em relação às atuais concorrentes citadas acima. Mas é uma bela picape (talvez seja justamente sua aparência e porte que nos fazem nos apaixonarmos por esse tipo de veículo). Ao vivo, ficou contatado o seu tamanho e a sua relativa beleza.
Sem muita importância para o marketing da coisa, como “a primeira picape híbrida do país”, ou pior, “o visual da Shark é inspirado em tubarões, com uma luz de LD remete à boca aberta do animal, ou linhas fluidas que refletem o seu movimento em águas profundas, ou uma luz inspirada em suas nadadeiras”, não vejo nada disso e foco apenas em seu comportamento nas pistas de testes.
No circuito de competição, com asfalto superuniforme, apesar de molhado devido à chuva, a picape BYD Shark se mostrou fácil de ser pilotada, mesmo com uma “forçada” em freada e em curvas, logicamente ajudada pelo seu pacote eletrônico de estabilidade e tração. Mas pude notar que sua aceleração é forte, graças ao motor a combustão de 183 cv a 6.000 rpm e 26,5 m·kgf a 4.500 rpm (1.5 turbo a gasolina), porém mais que auxiliado pelos dois motores elétricos, o dianteiro de 231 cv e 31,6 m·kgf e o traseiro de 204 cv e 34,7 m·kgf. De acordo com o fabricante, a potência combinada da picape BYD Shark é de 437 cv e o torque combinado é de 65 m·kgf, desbancando a picape Ford Ranger Raptor com seus “apenas” 397 cv. Sua aceleração de zero a 100 km/h é de 5,7 segundos.Na pista de terra, que devido à forte chuva estava mais para uma pista de lama, a picape BYD Shark fez bonito e não titubeou em nenhum momento, mantendo o traçado mesmo nas mais profundas bacias de lama, logicamente sem deixar a velocidade baixar da ideal para não “ficar” por ali mesmo.
O muito curto espaço de tempo em que fiquei dentro da Shark me deu a impressão de muito conforto, com uma posição de pilotagem fácil de ser obtida, pelas muitas regulagens de altura e distância do banco e do volante. Lá no início deste texto mencionei o conforto relativo dessas picapes porque todos sabemos que, apesar do conforto interno, suas suspensões mais adequadas ao trabalho penalizam bastante o conforto dinâmico em pisos irregulares.
Nesse ponto, a picape BYD Shark tem um diferenciador que são as suspensões independentes nos dois eixos, ambas do tipo triângulos superpostos com mola helicoidal. Esse tipo de suspensão confere maior suavidade e conforto dinâmico do que o eixo traseiro rígido, mas paga o peço do conforto com uma capacidade de carga inferior à dos sistemas convencionais.
A picape BYD Shark é em veículo com tração nas quatro rodas, mas de diferente concepção em relação às picapes 4×4 conhecidas. Não há cardã, uma vez que cada um dos dois motores elétricos aciona cada um dos eixos, comandados pela central eletrônica. Embaixo da cabine está a bateria do tipo Blade de 29,6 kW·h que, de acordo com o fabricante, permite um alcance elétrico de 100 km no padrão NEDC e 57 km no padrão Inmetro. No recarregamento, os valores são de até 6,6 kW em AC e 55 kW em DC, com tempo de carregamento de 20 minutos em DC (de 30% a 80%) e até 9 horas em AC.
Mesmo sem muito tempo para conhecer todas as comodidades internas, a picape BYD Shark tem muitos detalhes desse tipo. Como, por exemplo, as tomadas 220 volts AC na cabine e na caçamba, no padrão ABNT, diferentemente dos outros elétricos que fornecem um cabo para ser acoplado ao sistema elétrico central. Todos aqueles mimos que atualmente se busca no interior de um bom automóvel estão lá, como carregador de telefone móvel por indução ou pontos de energia USB (padrão e do tipo C), além do inédito no segmento projetor de informações no para-brisa no campo visual do motorista.
Como em outros modelos da marca, o BYD Shark tem aquela enorme tela giratória no centro do painel, mas, para alívio dos mais conservadores, mantém muitos dos comandos por botões no console, que, aliás, é bem bacana.
A lista de sistemas de auxílio ao motorista inclui controle de velocidade de cruzeiro adaptativo, frenagem autônoma de emergência, assistente de reconhecimento de faixa de rolamento e de placas de trânsito, sensores de pontos cegos, câmera 360o e alerta de tráfego transversal à retaguarda. A picape BYD Shark tem versão única que custa R$ 379.800, com seis anos de garantia, sem limite de quilometragem, e oito anos de garantia para a bateria.
GM